Relógio do Juízo Final marca dois minutos para meia-noite em 2019
“Ajustado” pelo Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas Atômicos, nos EUA, relógio mostra quão próximos estamos de destruir o Planeta e a nós mesmos
Vanessa Barbosa
Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 06h03.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2019 às 09h51.
São Paulo – Todos os anos, um grupo de cientistas americanos decide se ajusta ou não o icônico Relógio do Juízo Final (“Doomsday Clock”, em inglês), que de real não tem nada, é apenas uma forte metáfora que mostra quão próximos estamos de destruir o Planeta e, por tabela, aniquilar nossa civilização “com tecnologias perigosas criadas por nós mesmos”. Quanto mais perto da meia-noite estamos, mais perigos corremos.
Em 2019, o Relógio do Juízo Final marca dois minutos para a meia-noite (23h58), devido a duas ameaças existenciais simultâneas: os perigos das mudanças climáticas e a falta de progresso dos governos na redução de riscos nucleares , segundo anúncio dos cientistas realizado no dia 24 de janeiro em Washington.
A decisão de mudar ou não a marcação do relógio é tomada por um grupo de pesquisadores e intelectuais, que incluem membros do Conselho de Ciência e Segurança dos Cientistas Atômicos e um grupo de 14 ganhadores do prêmio Nobel. O resultado é publicado no Bulletin of Atomic Scientists, uma publicação sobre segurança global da Universidade de Chicago.
O Relógio do Juízo Final foi criado em 1947, marcando sete minutos para meia noite, num tempo em que o maior perigo para a humanidade vinha das armas nucleares, em particular da perspectiva de que os Estados Unidos e a União Soviética se encaminhassem para uma corrida armamentista nuclear.
Ele foi alterado 23 vezes desde então, com diversos altos e baixos, chegando a marcar 17 minutos para a meia-noite em 1991, melhor ponto já registrado, quando EUA e União Soviética assinaram acordo histórico de desarmamento, que parecia prenunciar o fim da confrontação atômica entre as potências.
Em 2018, o Conselho de Ciência e Segurança fixou o tempo em dois minutos para a meia-noite (mesmo horário deste ano), em grande parte devido ao risco nuclear de uma guerra potencial incitada por trocas de declarações beligerantes entre Estados Unidos e Coreia do Norte, bem como declarações do governo americano contrárias aos compromissos de combate às mudanças climáticas.
A única outra vez em que o horário chegou tão perto assim foi em 1953, quando o ponteiro dos minutos foi movido para 23h58 depois que os EUA e a União Soviética testaram suas primeiras armas termonucleares a menos de seis meses uma da outra.
De acordo com o documento Declaração do Relógio do Juízo Final:
O texto continua ressaltando que esse "novo anormal" é insustentável e extremamente perigoso, mas mesmo assim o poder de melhorar a gravidade da situação continua nas mãos dos líderes mundiais. O relógio pode se "afastar" da catástrofe se os líderes agirem sob pressão da sociedade civil.
“Não há nada de normal na complexa e assustadora realidade que acabamos de descrever”, disse em comunicado Rachel Bronson, presidente e CEO do Boletim dos Cientistas Atômicos. “Apesar de inalterado desde 2018, esse cenário deve ser tomado não como um sinal de estabilidade, mas como um alerta severo para líderes e cidadãos em todo o mundo”, declarou Bronson.
A declaração de 2019 enfatiza que é possível mudar o ponteiro do relógio e recomenda várias ações. Entre elas, a de que americanos e russos resolvam suas divergências em relação ao Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), adotando medidas para prevenir incidentes militares em tempo de paz nas fronteiras da OTAN, e que o governo Trump revise sua decisão de sair do plano de limitar o programa nuclear iraniano.
Também recomenda que os países do mundo todo reduzam as emissões de gases do efeito estufa para alcançar a meta de temperatura do acordo climático de Paris, limitando o aquecimento do Planetaem2 graus Celsiusaté 2100,e que, principalmente, os cidadãos americanos cobrem ação climática de seu governo.
"Os seres humanos inventaram armas nucleares e as máquinas movidas a combustíveis fósseis que contribuem para as mudanças climáticas. Sabemos como eles funcionam, então, presumivelmente, podemos encontrar maneiras de reduzir ou eliminar o dano. Mas precisamos de cooperação em todo o mundo para evitar calamidades", conclui o Boletim.