Por que é possível viver em Hiroshima ou Nagasaki — e não em Chernobyl
Entenda as diferenças entre as consequências da radiação que atingiu as três regiões
Maria Eduarda Cury
Publicado em 6 de agosto de 2020 às 12h33.
Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 14h40.
Em 6 de agosto de 1945, exatamente 75 anos atrás, caía a primeira bomba atômica no mundo, chamada de Little Boy, sobre a cidade de Hiroshima, no Japão . Mais tarde, a tragédia viria a ser acompanhada por outra bomba, a Fat Man — dessa vez com o destino programado para a cidade de Nagasaki, três dias depois do primeiro ataque realizado pelos Estados Unidos. Anos depois, em 1986, o Japão e o restante do mundo ainda estavam se recuperando das duas grandes tragédias que tiveram um impacto global. E ninguém estava preparado para o que estava por vir. Dessa vez, um acidente pararia os noticiários novamente. Nos dias 25 e 26 de abril daquele ano, a usina V.I. Lenin explodiu e devastou cidades como Pripyat e Chernobyl , localizadas no território da atual Ucrânia.
Considerado o maior acidente nuclear da história, Chernobyl foi alvo de uma explosão de um reator que liberou 7 toneladas de combustível nuclear. Quando o combustível se fundiu com a atmosfera, foram liberadas partículas dos elementos químicos xenônio, césio e iodo radioativo — deixando a região com características radioativas até os dias atuais.
No total, mais de 200.000 pessoas morreram pela explosão de ambas as bombas no Japão, e as duas cidades sofreram com danos irreversíveis.
Na época, parecia que as regiões não iriam se recuperar tão cedo — afinal, não era possível saber ao certo quais seriam as consequências da destruição e da radiação que pairavam sobre as cidades japonesas.
Consequências divergentes
Embora os três locais tenham sido palco de grandes tragédias químicas, as cidades japonesas hoje podem se orgulhar de terem conseguido dar a volta por cima. Atualmente, Hiroshima conta com um número crescente de mais de 2 milhões de habitantes, enquanto Nagasaki conta com 413.000 habitantes.
Isso aconteceu porque, enquanto Hiroshima e Nagasaki foram atingidas por 65 quilos de urânio e 6 quilos de plutônio, respectivamente, Chernobyl sofreu com toneladas de radiação expostas no ar — deixando um raio de até 2.600 quilômetros quadrados inabitável.
Além disso, as bombas direcionadas pelos Estados Unidos para as cidades japonesas explodiram ainda no ar, enquanto o reator de Chernobyl derreteu e acabou se fundindo na superfície, tornando o solo da região extremamente radioativo.
Portanto, o efeito de radiação presente no solo é muito mais prejudicial para o ambiente do que a explosão de alguns quilos de radiação no ar.
Segundo especialistas, a expectativa é que a região afetada de Chernobyl volte a se tornar habitável daqui a cerca de 20.000 anos.
No entanto, alguns animais selvagens com aparência saudável foram vistos pela região nos últimos anos, embora os testes de radiação indiquem que o local ainda está altamente contaminado.
A capacidade da natureza de se recuperar de uma tragédia radioativa de forma natural ainda está sendo avaliada, embora os sinais de descontaminação no longo prazo sejam favoráveis para a região.