Ciência

Pesquisadores conseguem bloquear ação do zika em camundongos

Estudo da USP, com universidades de Harvard e Buenos Aires, desvendou os mecanismos usados pelo zika para driblar o sistema de defesa imunológica

Zika vírus (Sujata Jana / EyeEm/Getty Images)

Zika vírus (Sujata Jana / EyeEm/Getty Images)

AB

Agência Brasil

Publicado em 21 de julho de 2020 às 11h16.

Última atualização em 21 de julho de 2020 às 11h23.

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com cientistas das universidades de Harvard e de Buenos Aires, conseguiram desvendar e bloquear a ação do vírus zika em camundongos, evitando a microcefalia em seus fetos. O trabalho, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi publicado na revista Nature Neuroscience

Em 2016, pesquisadores do mesmo ICB-USP e da Plataforma Pasteur-USP, liderados pelo professor Jean Pierre Schatzmann Peron, conseguiram comprovar, a partir do estudo em camundongos, que o zika era o causador da microcefalia e defeitos congênitos em fetos de fêmeas contaminadas com o vírus.

Agora, uma nova pesquisa da mesma equipe desvendou os mecanismos usados pelo zika para driblar o sistema de defesa imunológica dos camundongos – que possibilitam que o vírus atravesse a placenta, aloje-se no cérebro dos fetos e se multiplique desenfreadamente em seus neurônios, causando microcefalia.

Segundo o estudo, o zika age estimulando uma proteína, o receptor aril hidrocarboneto, ou AHR. Uma vez ativado, o AHR limita a defesa imunológica do organismo, coibindo a produção de interferon tipo 1 – de enorme importância na imunidade antiviral inata de camundongos e humanos – e a proteína PML, que inibe a replicação do vírus.

“O trabalho tem duas grandes mensagens, uma de que o vírus usa essa molécula chamada AHR para suprimir a resposta imune. Então, ele se dá bem porque inibindo isso, lógico, ele consegue se replicar. E o segundo, é de que o AHR se torna um braço terapêutico”, disse o professor Jean Pierre Schatzmann Peron.

A partir da descoberta, os pesquisadores passaram a testar nos camundongos uma droga que inibe a ação da proteína AHR. A substância já estava sendo testada em humanos, mas com outra finalidade.

“Descobrimos uma droga que ainda se encontra em estágio de desenvolvimento, mas que foi capaz de inibir a ativação do AHR induzida pelo Zika”, ressaltou Peron. Os pesquisadores administraram a droga em fêmeas prenhes de camundongos infectados com zika e puderam perceber a melhora nas lesões por todo o corpo. No caso dos neurônios no cérebro, o remédio bloqueou em 100% a ação do vírus.

“Os fetos tratados com a droga voltaram a nascer com peso normal. O comprimento total dos animais também melhorou. Na placenta e no cérebro, pudemos observar que a remissão do vírus foi total,” disse o pesquisador.

De acordo com o cientista, agora que a droga experimental mostrou resultados excelentes nos camundongos, o próximo passo seria algum laboratório se interessar em fazer a mesma pesquisa com macacos, que é um estágio preliminar obrigatório antes do início dos testes clínicos em humanos.

“O que precisa agora é comprovar em outras espécies, como em macacos, por exemplo, que a droga é eficaz e o fenômeno se reproduz. E depois repetir isso para o ser humano. Mas, primeiro, como se trata de estudo em grávidas, precisamos saber se a droga é tóxica ou não na gravidez”, ponderou.

De acordo com o Ministério da Saúde, o vírus zika é um arbovírus, transmitido por picadas de insetos, especialmente mosquitos. A doença causada pelo zika apresenta risco superior a outras arboviroses, como dengue, febre amarela e chikungunya. Uma das principais complicações é a microcefalia em fetos. A doença começa com manchas vermelhas em todo o corpo da mãe, olho vermelho, pode causar febre baixa, dores pelo corpo e nas juntas, também de pequena intensidade.

No caso de o feto ser infectado durante a gestação, pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. O comprometimento nesses casos é tão importante que algumas crianças, ao nascer, têm uma deformação dos ossos da cabeça, sinal do não crescimento adequado do cérebro.

Acompanhe tudo sobre:Pesquisas científicasUSPZika

Mais de Ciência

Cientistas constatam 'tempo negativo' em experimentos quânticos

Missões para a Lua, Marte e Mercúrio: veja destaques na exploração espacial em 2024

Cientistas revelam o mapa mais detalhado já feito do fundo do mar; veja a imagem

Superexplosões solares podem ocorrer a cada século – e a próxima pode ser devastadora