Ciência

O que se sabe sobre a cloroquina, um dos motivos da queda de Teich

Tanto a cloroquina quanto a variante hidroxicloroquina não têm comprovação científica de eficácia contra a covid-19, causada pelo novo coronavírus

Remédios que contêm cloroquina (Gerard Julien/AFP)

Remédios que contêm cloroquina (Gerard Julien/AFP)

Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 15 de maio de 2020 às 13h19.

Última atualização em 16 de maio de 2020 às 10h48.

Um dos principais pontos de discórdia entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Saúde Nelson Teich foi a visão sobre a aplicação da cloroquina a pacientes infectados pelo novo coronavírus. Apesar do entusiasmo político em relação ao medicamento, usado contra a malária, estudos científicos não mostram benefícios da droga para o tratamento da covid-19. 

Feita por pesquisadores de Manaus (AM), uma pesquisa avaliou os efeitos da cloroquina em pacientes infectados pelo coronavírus. Para o teste, foram adotadas duas dosagens diferentes. O estudo, feito com 81 participantes, ligou altas doses da cloroquina a mais mortes.

As dosagens adotadas foram de 600mg duas vezes ao dia, ao longo de dez dias; e 450 mg por cinco dias, com aplicação duas vezes ao dia apenas logo no primeiro dia de tratamento. Os indivíduos receberam o medicamento por meio de uma sonda nasogástrica. A taxa de mortalidade foi mais alta entre as pessoas que receberam maior dosagem do medicamento: 17% contra 13,5% no segundo grupo, que recebeu dosagem menor de cloroquina. Junto ao remédio, também foram dados ceftriaxona e azitromicina aos pacientes.

A variante hidroxocloroquina tem evidências científicas mais robustas quanto à sua ineficácia no combate ao coronavírus. Dois estudos feitos com mais de mil participantes mostram que o medicamento não foi eficaz no tratamento da covid-19 para reduzir o número de mortes. 

O maior estudo sobre o medicamento hidroxicloroquina, usado para artrite e lúpus, não mostra redução de mortes de pacientes com covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. A pesquisa envolveu 1.438 pessoas e avaliou o impacto do remédio tanto com como sem o antibiótico azitromicina. Divididos em quatro grupos, os resultados não foram promissores: 

– 25,7% dos pacientes que receberam hidroxicloroquina e azitromicina morreram;

– 19,9% dos pacientes que receberam hidroxicloroquina morreram;

– 10% dos pacientes que receberam azitromicina morreram;

– 12,7% dos pacientes do grupo de controle morreram;

Validado pelo processo de análise de pares, uma certificação importante na comunidade científica global, o segundo maior estudo já feito sobre o uso da hidroxicloroquina no combate à covid-19 mostra que o medicamento não é efetivo no tratamento da doença. A pesquisa foi feita por pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, com 1.376 pacientes

Por conta desses estudos, a Organização Mundial da Saúde não indica o medicamento como um dos possíveis tratamentos benéficos para a covid-19.

Um estudo que revisa estudos científicos sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina indica que muitos estudos sobre os medicamentos ainda carecem de análise de pares, apenas de alguns deles terem tido resultados positivos quando considerada uma pequena amostra de pessoas com covid-19. Os efeitos colaterais foram encontrados em menos de 10% dos pacientes que receberam o tratamento. Vale notar que o estudo não considerou os dois grandes estudos sobre a hidroxicloroquina, publicados posteriormente em revistas científicas renomadas no meio acadêmico.

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