Ciência

O que a ciência sabe sobre os casos de reinfecção por covid-19

Casos como o da brasileira que foi reinfectada, o de Hong Kong e os da Europa acendem a dúvida: por que as reinfecções acontecem?

Coronavírus: doença já deixou 25,2 milhões de infectados no mundo (Anthony Kwan / Correspondente/Getty Images)

Coronavírus: doença já deixou 25,2 milhões de infectados no mundo (Anthony Kwan / Correspondente/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 13h34.

Última atualização em 31 de agosto de 2020 às 15h15.

Na última semana foi confirmado o primeiro caso de reinfecção pelo novo coronavírus no mundo em Hong Kong, na China. Desde então, outras reinfecções têm surgido e criam mais uma dúvida na cabeça dos cientistas.

A covid-19, tão imprevísivel agora quanto era há seis meses, continua sendo um ponto de interrogação. Se até abril a ciência ainda esperava que a nova doença respiratória, assim como suas antecessoras causadas por um coronavírus, deixasse uma autoimunidade duradoura (de pelo menos anos ou meses), as novas descobertas sobre as reinfecções ao redor do mundo podem colocar as hipóteses por terra.

Em Nevada, nos Estados Unidos, um caso similar colocou à prova a teoria. Isso porque um homem de 25 anos contraiu a covid-19 em março, melhorou em abril, e ficou doente de novo em maio — a segunda infecção causou sintomas ainda mais intensos e fez com que ele fosse internado.

Outros dois casos podem ter sido identificados na Europa, segundo a mídia local. Cientistas apontaram que um paciente foi reinfectado na Bélgica, enquanto outro teve o mesmo diagnóstico na Holanda. O holandês, um idoso, tinha um sistema imunológico enfraquecido.

No começo deste mês, a Universidade de São Paulo (USP) apontou o primeiro caso de reinfecção por covid-19 no Brasil, quando uma técnica de enfermagem de 24 anos teve dois testes positivos para a doença em um intervalo de 50 dias.

Apesar disso, o único quadro de reinfecção confirmado cientificamente foi o de Hong Kong. O caso foi observado em um homem de 33 anos que teve a segunda infecção pelo vírus confirmada em um aeroporto ao voltar para Hong Kong de uma viagem à Europa. Para chegar à conclusão de que ele havia sido infectado duas vezes por duas cepas diferentes do SARS-CoV-2, os pesquisadores da Universidade de Hong Kong usaram a sequência genômica.

O paciente, em sua segunda contaminação, não apresentou nenhum sintoma, o que pode identificar, para os cientistas, que as reinfecções podem ser mais leves.

As reinfecções são raras e não se sabe ao certo quantos casos confirmados do tipo existem no mundo. O que se sabe com certeza é que em outros casos de doenças respiratórias causadas por um coronavírus (como o SARS e a MERS) uma imunidade de cerca de dois anos foi criada. Em outras variações do vírus (como a OC43 e a HKU1), as pessoas ficaram imunes por um período determinado de tempo.

Em todos os casos, no entanto, a imunidade só dura até que surja uma nova cepa do vírus, uma vez que a mutação é inerente a ele. É o que nos faz pegar gripe mais de uma vez, por exemplo.

Mas por que isso acontece?

"Existem duas hipóteses para justificar. Uma é que a imunidade é temporária, ou seja a pessoa produz anticorpos que duram por pouco tempo e voltam a ser sucetíveis. Ou que haja variações virais em que a imunidade adquirira pela cepa anterior não proteja contra a novo vírus", diz a infectologista Juliana Lapa, da Universidade de Brasília.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Dr. Kai-Wang To, um dos autores do estudo, afirmou que “a descoberta não significa que as vacinas não serão úteis”. “A imunidade induzida por uma vacina pode ser diferente daquela induzida pela infecção natural. Vamos ter de esperar os resultados dos testes das vacinas para ver quão efetiva elas são”, disse ele.

Mas, mesmo que um indivíduo já tenha sido infectado pela covid-19 uma vez, as medidas de segurança não devem ser descartadas — em especial para evitar um segundo contágio. "Quem já teve covid deve manter as medidas de higienização das mãos, evitar aglomerações, uso de máscaras", diz Lapa.

Ao mesmo tempo em que as notícias e evidências sobre reinfecções aumentam, os estudos para encontrar uma forma de travar a pandemia, também. Farmacêuticas e cientistas no mundo todo têm procurado desenvolver remédios, tratamentos e vacinas em tempo recorde para frear a covid-19, que já deixou mais de 846.000 mortos e outros 25,2 milhões de infectados.

A pressa para encontrar um tratamento é grande.

Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualmente existem 176 vacinas em desenvolvimento contra o SARS-CoV-2. Dessas, 33 estão em fase de testes clínicos.

Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de seis a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.

Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.

Enquanto isso, para os infectologistas, a dica é simples: mantenha o distanciamento social, o uso de máscaras e evite aglomerações. No fim das contas, essa é a única forma de evitar uma contaminação (tanto a primeira quanto a segunda).

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