Novo teste identifica com rapidez o vírus da zika
Uma fita com anticorpos muda de cor apenas quando entra em contato com uma amostra de sangue com proteínas dos vírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de setembro de 2017 às 16h49.
São Paulo - Um grupo internacional de cientistas desenvolveu um novo teste capaz de identificar com rapidez o vírus da zika e os quatro sorotipos do vírus da dengue.
O novo teste usa o chamado método imunocromatográfico: uma fita com anticorpos que muda de cor apenas quando entra em contato com uma amostra de sangue com proteínas dos vírus.
Segundo os autores da pesquisa, publicada nesta quarta-feira, 27, na prestigiada revista Science Translational Medicine, o novo teste não apresentou qualquer traço de um dos principais problemas dos exames sorológicos atualmente disponíveis: a reação cruzada, quando um teste confunde os diferentes vírus e leva ao diagnóstico errado.
O novo teste foi desenvolvido por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT, na sigla em inglês) e sua avaliação teve a contribuição de grupos de várias outras instituições de todo o mundo, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de Sergipe, a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), a Fiocruz e o Instituto Evandro Chagas.
De acordo com um dos autores do artigo, Maurício Lacerda Nogueira, da Famerp, além de rápido, barato e específico, o novo teste traz a vantagem de detectar as proteínas virais mesmo que elas estejam em baixa concentração.
"É um teste inédito. Até o momento não existia nenhum teste capaz de diferenciar a zika da dengue de forma específica e rápida. Também não havia testes para distinguir entre os quatro sorotipos da dengue. Essas análises só podiam ser feitas com precisão por métodos moleculares caros e demorados", disse Nogueira à reportagem.
Nos testes em laboratório, os custos de cada fita foram de aproximadamente US$ 5 (cerca de R$ 15), mas os pesquisadores acreditam que o preço deverá cair quando o produto for fabricado em escala industrial.
Segundo Nogueira, o teste já foi avaliado em grande número de casos e já está pronto para produção.
Os cientistas, no entanto, ainda não têm data para aprovação pelos órgãos regulatórios.
De acordo com Nogueira, o que permitiu o desenvolvimento de um teste capaz de distinguir os vírus com tanta precisão foi o uso de dois anticorpos diferentes no mesmo dispositivo.
"São dois anticorpos distintos e altamente específicos. Isso demandou um longo tempo e um alto custo para ser realizado, mas os resultados foram excepcionais", declarou.
Nanopartículas
Nas fitas, há uma membrana revestida com um anticorpo anti-NS1 e nanopartículas de ouro conectadas a outro anticorpo anti-NS1 distinto.
Quando a proteína viral NS1 fica "encurralada" entre os dois anticorpos, manchas avermelhadas aparecem na fita, caso a proteína do vírus estiver presente na amostra.
Para identificar esses pares de anticorpos específicos, os cientistas avaliaram 300 combinações para o vírus da zika e 726 combinações para os vírus da dengue.
Depois, eles validaram o método utilizando amostras de pacientes com diagnóstico confirmado.