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Mutação do coronavírus é mais lenta que a da gripe, diz virologista        

Peter Kolchinsky é PhD em virologia pela Universidade de Harvard e investidor em biotecnologia; veja a entrevista antecipada com exclusividade para EXAME

Coronavírus: mutação do vírus existe, mas é mais lenta (Radoslav Zilinsky/Getty Images)

Lucas Agrela

Publicado em 27 de abril de 2020 às 11h08.

Última atualização em 27 de abril de 2020 às 16h21.

“Não digo que o coronavírus não sofrerá mutações. Já observamos que existem mutações. Mas é em um ritmo muito mais lento do que o visto no vírus da gripe.”

A frase é do virologista Peter Kolchinsky em entrevista da UM Brasil, iniciativa da FecomercioSP, antecipada com exclusividade para a EXAME.

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Peter Kolchinsky é PhD em virologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e investidor em empresas de biotecnologia.

Considerando o histórico de mutações dos coronavírus conhecidos, Kolchinsky acredita que a criação de uma vacina contra a covid-19 seja possível e chegue ao mercado dentro de um ano. A previsão considera, também, o período de distribuição.

Para ele, é possível que a vacina fique pronta até o fim deste ano, mas ela será oferecida apenas para profissionais de saúde, que estão na linha de frente no combate à pandemia.

O especialista pondera ainda que o ritmo de desenvolvimento da vacina é acelerado, uma vez que outras vacinas costumam levar dez anos para serem criadas.

“Quando tivermos uma vacina contra o Sars-CoV-2 que conhecemos hoje, é muito provável que ela se mantenha eficaz dentro de um a três anos”, afirma Kolchinsky. “A gripe é como um bandido que troca de rosto com frequência. Então, o nosso sistema imunológico precisa ter novos registros sobre ele com frequência, e a vacina da gripe oferece isso. O coronavírus não tem essa capacidade de mudar tão rapidamente”, diz.

Descrença na Ciência

Kolchinsky pondera que a descrença na Ciência pode existir, mas que ela é prejudicial a pessoas vulneráveis e pode impulsionar a propagação de doenças contagiosas, como a covid-19 ou a gripe.

“Temos que respeitar a verdade de cada pessoa. Sempre haverá gente que é resistente à verdade. Enquanto essas pessoas tiverem amigos que digam para lhes dizer que não estão loucas e que podem acreditar que a Terra é plana ou que humanos conviveram com dinossauros, elas se reunirão e apoiarão as crenças uns dos outros. Quando essa mentalidade vem em um contexto de pandemia, o que essas pessoas fazem é criar um espaço seguro para que o vírus se propague e a pandemia cresça ao ser transmitido para outros indivíduos”, diz.

Kolchinsky lembra que a importância de vacinas não é apenas para a proteção individual, mas para a proteção da sociedade como um todo.

“No caso da gripe, há pessoas que não tomam a vacina, mesmo acreditando que ela funciona. Um indivíduo pode ser assintomático, mas ele é um disseminador do vírus. Isso cria uma zona perigosa para pessoas vulneráveis, como mulheres grávidas”, declara o especialista. “Se aprendermos com essa pandemia, a covid-19 pode ser uma vacina para o mundo contra novas pandemias”, afirma Kolchinsky, ressaltando a importância do investimento na criação de vacinas contra doenças contagiosas.

Para o especialista, as pessoas podem se encontrar, aos poucos, apenas com amigos nos quais confiem e saibam que estão praticando o distanciamento social para evitar a exposição ao vírus. “Não se pode tolerar que nenhuma pessoa seja um risco”, afirma.

Confira a entrevista na íntegra no vídeo a seguir.

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