Mudanças climáticas tornaram Vênus inabitável. A Terra corre risco?
Vênus atualmente tem temperatura de 450 graus Celsius, mas já foi um planeta habitável em algum momento. Pesquisadores se preocupam com futuro da Terra
Rodrigo Loureiro
Publicado em 30 de dezembro de 2020 às 08h00.
Com temperatura de 450 graus Celsius, densidade 90 vezes maior do que a da Terra e uma atmosfera composta quase integralmente por dióxido de carbono, Vênus é um planeta inabitável para a vida. E essas características podem ter sido ocasionadas justamente pelas mudanças climáticas que ocorreram no planeta vizinho. Vênus já foi um planeta que poderia permitir ser habitado.
Um estudo feito em 2016 e publicado na revista científica Geophysical Research Letters mostra que a temperatura de Vênus já foi semelhante à da Terra, o que permitiu a formação de oceanos. Antes das mudanças climáticas que ocorreram a mais de 1 bilhão de anos, os pesquisadores acreditam que Vênus pode ter sido o primeiro planeta habitável do Sistema Solar.
A pergunta que fica é: a Terra corre o mesmo risco? Evidências baseadas no aquecimento global apontam que sim.
Em 2010, um estudo feito pelas universidades New South Wales, na Austrália, e Purdue, nos Estados Unidos, apontou um aquecimento médio de 7 graus Celsius a cada século. Segundo os pesquisadores, um aquecimento médio de 12 graus Celsius deixaria metade da população em um ambiente em um ambiente inabitável.
Recentemente, um artigo publicado no The Next Web e escrito pelo pesquisador científico Richard Ernst, da Universidade de Carleton, eventos de erupção vulcânica podem liberar dióxido de carbono suficiente para causar mudanças catastróficas na Terra. Isso já teria ocorrido em Vênus e poderia se repetir na Terra.
O problema é vai além da poluição. Uma pesquisa publicada em novembro deste ano na revista científica Scientific Reports indica que não bastaria zerar as emissões de carbono para reverter o quadro de aquecimento global da Terra. Mesmo se as emissões fossem zeradas em 2020, o derretimento das calotas polares ainda ocorreria por outros 500 anos.
“De acordo com nossos modelos, a humanidade perdeu o prazo para fazer algo para deter o derretimento do planeta usando uma solução de redução dos gases do efeito estufa como única ferramenta”, afirmou Jorgen Randers, autor principal do estudo professor emérito de estratégia climática na Norwegian Business School, à AFP.