O aumento do uso de canetas emagrecedoras gerou uma discussão preocupante nas redes sociais nesta semana, especialmente após a ex-BBB e médica Laís Caldas anunciar sua gravidez nesta segunda-feira, 15. Segundo ela, a gestação aconteceu mesmo com o uso do anticoncepcional, que teria perdido a eficácia devido ao uso de Mounjaro.
"Eu realmente estava tomando anticoncepcional oral direitinho, mas eu casei em setembro e fiz o protocolo com Mounjaro, a tizerpatida", explicou ela em vídeo nas redes sociais. "O Mounjaro retarda o esvaziamento gástrico e isso diminui a absorção de alguns medicamentos orais e um dos mais afetados é o contraceptivo oral", disse a médica.
Segundo estudos recentes, isso de fato pode significar que medicamentos injetáveis usados para emagrecimento e controle da diabetes, como Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), podem ser associados à menor eficácia de alguns contraceptivos e ao aumento da fertilidade em pacientes que haviam sobrepeso. O efeito, contudo, pode variar dependendo do tipo de agonista de GLP-1 utilizado e o contexto clínico da paciente.
As canetas emagrecedoras aumentam a fertilidade?
A semaglutida, princípio ativo do Ozempic, tem sido estudada principalmente por seu efeito indireto sobre a fertilidade. Um artigo publicado no Journal of Medical and Biosciences Research em 2025 analisou mulheres com obesidade e síndrome dos ovários policísticos (SOP) e concluiu que o medicamento pode restaurar a ovulação, regular ciclos menstruais e reduzir níveis de andrógenos.
“A obesidade compromete o eixo hipotálamo-hipófise-ovário, e a semaglutida atua corrigindo parte desse desequilíbrio metabólico e hormonal”, destacam os autores do estudo, liderado por Diogo Nunes Melo e equipe.
Segundo os pesquisadores, esse reequilíbrio pode aumentar a fertilidade em mulheres que antes tinham dificuldade para engravidar. O artigo também aponta que a semaglutida pode influenciar o metabolismo hepático de estrogênio e progesterona, hormônios presentes na maioria dos anticoncepcionais orais.
“Embora a literatura não apresente evidências robustas de impacto significativo na eficácia contraceptiva, é aconselhável adotar medidas de precaução ao combinar ambos os tratamentos”, escrevem os autores, citando estudos farmacológicos anteriores.
Como as GLP-1 podem interferir no anticoncepcional?
Outro fator relevante são os efeitos colaterais gastrointestinais comuns às canetas emagrecedoras, como náusea, vômito e diarreia. Episódios prolongados desses sintomas podem prejudicar a absorção dos anticoncepcionais orais.
“Em casos de vômitos recorrentes, é plausível uma redução considerável na eficácia contraceptiva”, alertam os pesquisadores.
No caso da tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, as evidências de interação são mais diretas.
Uma revisão sistemática publicada em 2024 no Journal of the American Pharmacists Association concluiu que apenas a tirzepatida apresentou redução clinicamente significativa na absorção de anticoncepcionais orais.
Segundo o estudo, houve queda de cerca de 20% da concentração do contraceptivo etinilestradiol na corrente sanguínea, além de reduções ainda maiores no pico de concentração plasmática desses hormônios.
Como evitar um 'bebê de Ozempic'
Especialistas ressaltam que o risco não está necessariamente em uma “falha” direta do medicamento, mas na combinação de fatores: retorno da ovulação, melhora da fertilidade, possíveis alterações hormonais e redução da absorção do anticoncepcional em situações específicas.
Uma revisão publicada por Maria S. Varughese e colaboradores sobre agonistas de GLP-1 e gravidez destaca que essas drogas não são autorizadas para uso durante a gestação e que o aconselhamento pré-concepcional deve fazer parte da consulta médica.
“Com o aumento do uso desses medicamentos antes da concepção, é fundamental orientar as pacientes sobre os riscos de uma exposição não intencional durante a gravidez”, afirmam os autores.
No caso da tirzepatida, uma revisão conduzida por Aline de Campos Jordão e pesquisadores da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) concluiu que o medicamento promove alterações significativas nos hormônios sexuais femininos, principalmente associadas à perda de peso.
No entanto, os autores alertam que “ainda são escassos os estudos que avaliam diretamente a relação entre tirzepatida e função ovariana, ciclo menstrual e fertilidade”.
A recomendação recorrente nos estudos é a adoção de uma abordagem personalizada.
Profissionais de saúde devem informar claramente sobre os possíveis impactos das canetas emagrecedoras na contracepção e, quando necessário, indicar métodos adicionais, como preservativos ou contraceptivos não orais.
“O monitoramento cuidadoso e revisões periódicas do método contraceptivo são essenciais para garantir a segurança reprodutiva”, concluem os autores do estudo brasileiro sobre semaglutida.