Má alimentação está relacionada com uma em cada cinco mortes no mundo
Estudo mostra que mais de metade das mortes em 2017 foram provocadas pelo excesso de consumo de bebidas açucaradas, carnes processadas e sal
AFP
Publicado em 4 de abril de 2019 às 11h36.
Uma em cada cinco mortes no mundo em 2017 esteve relacionada a uma alimentação ruim, seja por consumo excessivo de sal, açúcar ou carne, ou por carência de cereais integrais e frutas, afirma um estudo divulgado na revista The Lancet.
Quase todas as 11 milhões de mortes foram provocadas por doenças cardiovasculares e as demais por câncer ou diabetes tipo 2, associada geralmente à obesidade e ao modo de vida (sedentarismo, alimentação desequilibrada), destaca a pesquisa.
O estudo está alinhado com outros dois relatórios publicados em janeiro que ressaltaram o vínculo entre alimentação, meio ambiente e mudança climática.
"Estes três fenômenos interagem: o sistema alimentar não é apenas responsável pela pandemias de obesidade e desnutrição, como também gera entre 25 e 30% das emissões de gases do efeito estufa", afirmam os especialistas, que apontam em particular a pecuária.
Para alimentar de maneira saudável os 10 bilhões de seres humanos que a Terra deve ter em 2050 e, ao mesmo tempo, proteger o meio ambiente, um dos estudos já defendia a divisão por dois do consumo mundial de carne vermelha e de açúcar, além de dobrar a ingestão de frutas, verduras e nozes.
Por outro lado, alcançar o objetivo recomendado de comer cinco frutas e verduras por dia representaria apenas 2% da renda familiar nos países ricos, porém mais da metade nos países mais pobres.
O estudo publicado nesta quinta-feira sobre 195 países calcula que mais de metade das mortes em 2017 foram provocadas por carências de nozes, grãos integrais, leite e cereais integrais. Ao mesmo tempo, as bebidas açucaradas, carnes processadas e os sal registram um consumo em excesso.
Quase 2 bilhões de pessoas estão "sobrealimentadas", enquanto um bilhão sofrem desnutrição, segundo a ONU.
"O estudo mostra o que muitos pensam há vários anos: uma alimentação ruim é o principal fator de risco de morte prematura no mundo", afirmou um dos autores, Christopher Murray, que dirige o Instituto de Metrologia e Avaliação da Saúde, organismo financiado pela fundação Bill e Melinda Gates.
"A falta de frutas, verduras e cereais em nossa alimentação é uma constante no mundo, assim como o excesso de sódio", destaca.
O estudo revela grandes disparidades, de acordo com os países. Uzbequistão, com 892 mortos para cada 100.000 habitantes, e Afeganistão registram o maior número de mortes relacionadas com a má alimentação.
Os menores números foram registrados em Israel (89 mortos para cada 100.000 habitantes), França, Espanha e Japão.
Os autores mencionam, no entanto, a disparidade na obtenção de dados para cada um dos regimes alimentares: as informações sobre obesidade estavam disponíveis em 95% dos países, mas os número sobre o consumo de sódio em apenas 25% dos países.
Os autores admitem que o vínculo entre alimentação e morte não pode ser estabelecido com tanta certeza como com outros fatores de risco, como por exemplo o tabaco.