Imunidade coletiva contra covid-19 pode ser possível com 20% de infectados
Para que uma doença desapareça, é preciso que uma boa quantidade de pessoas esteja imunizada. Como chegar nisso sem uma vacina?
Tamires Vitorio
Publicado em 27 de julho de 2020 às 11h44.
Última atualização em 27 de julho de 2020 às 13h06.
Um estudo prelimina r aponta que de 10% a 20% da população de um local precisa ser infectada pelo novo coronavírus para que consigamos alcançar a imunidade de rebanho pela doença.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores utilizaram um modelo matemático desenvolvido em uma colaboração com cientistas brasileiros, portugueses e britânicos.
“Nosso modelo mostra que não é preciso sacrificar a população deixando-a circular livremente para que a imunidade coletiva se desenvolva. Por outro lado, sugere que também não há necessidade de manter as pessoas em casa durante muitos e muitos meses, até que se aprove uma vacina”, afirmou a biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, atualmente na University of Strathclyde, no Reino Unido, à Agência FAPESP.
Para Gomes, os fatores que influenciam o risco de alguém ser contaminado pela covid-19 podem ser divididos em duas categorias: a de ordem biológica, como a genética, nutrição e a imunidade, e os fatores comportamentais, que "determinam o nível de contato com outras pessoas que cada um de nós tem no cotidiano".
“Isso tem relação com o tipo de ocupação, o local de moradia, os meios de deslocamento e até o perfil de personalidade. Uma pessoa que prefere ficar em casa lendo um livro tem um risco menor de se expor ao vírus do que quem sai com muita frequência e se relaciona com muitas pessoas”, diz a pesquisadora à FAPESP.
Segundo ela, quando modelos estimam que uma imunidade de rebanho ao novo coronavírus acontece somente quando 50% a 70% da população está infectada, eles estão ignorando que as pessoas têm diferentes riscos de infecção pela doença.
No mundo todo, 16.296.635 foram infectadas pela doença e 649.662 morreram. Os Estados Unidos são o epicentro da doença, com 4.238.500 de doentes e mais de 146 mil mortes. O Brasil, segundo país mais afetado pela covid-19, tem 2.419.091 casos confirmados e 87.004 óbitos, segundo a Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.
A teoria da imunidade consiste no efeito de proteção que surge nas pessoas quando grande parte se vacinou contra uma doença — assim, mesmo quem não tomou a vacina fica protegido. Muitos acreditam que o indivíduo, ao contrair a SARS-CoV-2, se torna imune a ela.
Assim, quanto mais gente for infectada, maior a chance de todos se tornarem imunes. É daí que vem o termo “imunidade de rebanho”.
Com ela, todos estariam protegidos. No caso da covid-19, fica difícil imaginar que a situação possa ser resolvida dessa forma, já que ainda não existe uma vacina.
Para que uma doença desapareça, é preciso que uma boa quantidade de pessoas esteja imunizada. No caso do sarampo, o percentual de imunização fica entre 92% e 95% da população. O número é proporcional à taxa de replicação de um vírus, conhecida pelo símbolo R0.
O sarampo é altamente contagioso. Cada infectado pode transmitir o vírus para outros 12 ou mais. Isso significa que a taxa de reprodução (o R0) é igual a 12. Os cientistas ainda estudam qual é o R0 da covid-19, mas a estimativa é que fique entre 2 e 3. Sabendo essa taxa, estima-se que a covid-19 possa ser erradicada se 60% a 70% das pessoas estiverem imunizadas.
A quarentena pode reduzir o R0 para perto de 1 (quando cada pessoa infectada passa a doença a apenas uma). Nesse caso, o percentual de imunização cai para o nível entre 20% e 30%. Esse é o número mágico que todas as autoridades de saúde pública do mundo inteiro agora querem alcançar. Em teoria, é possível diminuir a taxa de infecção a um nível tão baixo que a epidemia seria controlada até que a população alcançasse a imunização natural.
Na prática, ainda não se sabe qual é o número ideal.
*Com informações da Agência Fapesp