Ciência

Humanidade terá um "forninho infernal" para segurar até 2100

Quem viver, verá...ou melhor, derreterá

Calor: 74% da população mundial será exposta a ondas de calor assassinas até 2100, segundo estudo. (Tomwang112/Thinkstock)

Calor: 74% da população mundial será exposta a ondas de calor assassinas até 2100, segundo estudo. (Tomwang112/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 27 de junho de 2017 às 12h35.

Última atualização em 27 de junho de 2017 às 12h41.

São Paulo - Se alguém tem dúvidas de que as mudanças climáticas colocaram a humanidade num caminho perigoso, um novo estudo fará qualquer pessoa suar frio. Pesquisadores da Universidade do Havaí, em Manoa, estimam que, até o final do século, 74% da população mundial estará exposta a ondas de calor assassinas se as emissões de gás carbônico continuarem aumentando a taxas atuais.

E mesmo se as emissões forem agressivamente reduzidas, a porcentagem da população humana mundial afetada deverá atingir 48%, segundo a pesquisa publicada este mês na prestigiada revista científica Nature Climate Change.

Não faltam exemplos surpreendentes dos riscos à saúde que os dias mais quentes podem causar. A onda de calor europeia de 2003, por exemplo, matou cerca de 70 mil pessoas, e a onda de calor de Moscou matou 10 mil pessoas em 2010 na Rússia. Mas além dessas tragédias recentes, os cientistas pouco sabiam sobre o quão comuns são essas ondas de calor mortais.

Eis que a equipe de pesquisadores da Universidade do Havaí realizou uma extensa revisão de mais de 30.000 publicações relevantes e encontrou mais de 1.900 casos de locais em todo o mundo onde altas temperaturas causaram mortes desde 1980.

Desses casos, foram obtidas datas para 783 ondas de calor letais em 164 cidades em 36 países, com a maioria dos casos registrados em países desenvolvidos em latitudes médias. Algumas das cidades que experimentaram ondas de calor letais incluem Nova York, Washington, Los Angeles, Chicago, Toronto, Londres, Pequim, Tóquio, Sydney e São Paulo.

Ao analisar as condições climáticas desses episódios de calor letal, os pesquisadores identificaram um limiar além do qual as temperaturas e as umidade do ar tornam-se mortais.

A área do planeta onde esse limite é cruzado por 20 ou mais dias por ano vem aumentando, e deverá crescer mesmo com cortes dramáticos nas emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, cerca de 30% da população humana mundial está exposta a condições tão fatais a cada ano.

O estudo também descobriu que o calor mortal representa um risco maior para quem mora em áreas tropicais. Isso porque os trópicos são quentes e úmidos durante todo o ano, enquanto que para as latitudes mais altas o risco de calor mortal é restrito ao verão.

"Estamos ficando sem escolhas para o futuro", disse Camilo Mora, professor associado de geografia na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade do Havaí em Manoa e principal autor do estudo, em comunicado. Segundo ele, as mudanças climáticas colocaram a humanidade em um caminho que se tornará cada vez mais perigoso e difícil de reverter se as emissões de gases de efeito estufa não forem tomadas a sério.

"Ações como a retirada [dos EUA] do acordo de Paris são um passo na direção errada que inevitavelmente demorará a consertar um problema para o qual simplesmente não há tempo a desperdiçar", afirmou.

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