Ciência

Homens de Neandertal eram canibais, confirma novo estudo

Estudo mostrou que, além de cuidarem dos corpos dos mortos, eles também comiam seus pares

Cavernas de Goyet, ocupadas desde o Paleolítico, são galerias de calcário de cerca de 250 metros de comprimento (Emmanuel Dunand/AFP)

Cavernas de Goyet, ocupadas desde o Paleolítico, são galerias de calcário de cerca de 250 metros de comprimento (Emmanuel Dunand/AFP)

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AFP

Publicado em 30 de dezembro de 2016 às 09h37.

Os homens de Neandertal que viviam nas cavernas de Goyet, no que hoje é território belga, não comiam apenas cavalos e renas para se alimentar, mas também carne humana, indica um novo estudo internacional.

Isso fica demonstrado pelos corpos despedaçados ou pelos ossos fraturados para que a medula fosse retirada encontrados na região.

"É irrefutável, o canibalismo era praticado aqui", explica o arqueólogo belga Christian Casseyas enquanto percorre a chamada terceira caverna de Goyet, situada em um pequeno vale perto das Ardenas belgas (sul).

Os restos datam de cerca de 40.000 anos atrás, quando a presença na terra dos neandertais estava chegando ao fim. Faltava pouco para que dessem lugar ao homem de Cro-Magnon, nosso ancestral direto, com o qual haviam coabitado.

Durante anos, os homens de Neandertal, com um cérebro um pouco maior que o do homem moderno, foram considerados seres selvagens, apesar de cuidarem dos corpos dos mortos, como demonstram algumas sepulturas da época.

Agora sabemos que eles também comiam seus pares. Já haviam sido detectados alguns casos de canibalismo em populações de neandertais estabelecidas na Espanha (El Sidrón e Zafarraya) e na França (Moula-Guercy e Les Pradelles), mas nunca antes em um país do norte da Europa.

As cavernas de Goyet, ocupadas desde o Paleolítico, são galerias de calcário de cerca de 250 metros de comprimento, esculpidas naturalmente pelo Samson, um pequeno riacho que atualmente está localizado a poucos metros das cavernas.

O lugar começou a revelar seus segredos em meados do século XIX graças a um dos precursores da paleontologia, Edouard Dupont (1841-1911).

Dupont, geólogo e diretor do Museu Real de História Natural da Bélgica, escavou cuidadosamente várias cavernas, incluindo a de Goyet, em 1867, onde encontrou vários ossos e ferramentas.

Em uma época na qual Darwin acabava de formular sua teoria da evolução, Dupont publicou os resultados de suas pesquisas no livro "L`homme Pendant Les Ages de La Pierre".

Comida e ferramentas

Por mais de um século, as descobertas de Dupont foram esquecidas no museu, atualmente convertido em Instituto de Ciências Naturais de Bruxelas.

Até que em 2004 Patrick Semal, diretor da seção de antropologia do Instituto, encontrou entre os ossos achados por Dupont um fragmento de mandíbula de um neandertal.

Os cientistas começaram, então, um longo trabalho para reexaminar todos estes ossos, incluindo os que Dupont considerou na época que pertenciam a animais.

A equipe internacional liderada pela antropóloga francesa Hélène Rougier, da California State University Northridge (EUA), conseguiu demonstrar que em Goyet o homem de Neandertal era antropófago.

Vários ossos humanos que pertenceram a seis indivíduos (um recém-nascido, uma criança e quatro adultos ou adolescentes) têm sinais de que foram cortados "para serem desarticulados e para que a carne fosse retirada", explica Christian Casseyas.

"Da mesma forma que quebravam os ossos de renas e cavalos que encontramos na entrada da caverna, eles quebraram ossos humanos para extrair a medula", acrescenta o arqueólogo, que acompanha os turistas que visitam Goyet.

Hélène Rougier confirmou à AFP que "alguns neandertais morreram e foram comidos aqui", a primeira constatação deste fenômeno no norte da Europa.

Seu estudo sobre a caverna belga foi publicado em julho pela Scientific Reports, uma publicação do grupo Nature. "Alguns dos ossos também serviram como ferramentas", explicou Rougier.

No entanto, as razões deste canibalismo e até que ponto ele estava disseminado continuam sendo um mistério.

"Talvez fosse apenas para alimentação, mas também poderia ser simbólico. As hipóteses estão abertas", diz Rougier.

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