Ciência

Gene herdado de neandertais pode estar ligado a casos graves de covid-19

Estudo revisado por pares e publicado na revista Nature indica que genes herdados da espécie podem contribuir para aumento da gravidade do coronavírus

Gene herdado de neandertais pode estar ligado a casos graves de covid-19 (1971yes/Getty Images)

Gene herdado de neandertais pode estar ligado a casos graves de covid-19 (1971yes/Getty Images)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 1 de outubro de 2020 às 17h12.

Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 16h38.

Um estudo revisado por pares e publicado na prestigiada revista científica Nature aponta que o gene neandertal carregado por alguns seres humanos pode estar por trás da explicação de casos graves do novo coronavírus. Os pesquisadores suecos e alemães analisaram a genética de 3.199 pacientes hospitalizados pelo vírus no mundo todo para chegar a essa conclusão — e cerca de 50% das pessoas na parte sul da Ásia e 16% na Europa carregam esse gene, o que pode explicar porque ambas as regiões foram duramente impactadas pela covid-19.

Segundo os cientistas, os seres humanos modernos e o neadertal podem até ter herdado esse gene comum há meio milhão de anos, mas a probabilidade maior é de que ele foi integrado com o "cruzamento mais recente da população", datado de 60.000 anos atrás. Em Bangladesh, país no sul asiático, os genes no cromossomo 3 são encontrados em 63% da população — sendo que cada um deve carregar cerca de uma cópia da sequência do DNA.

Ainda não está claro como os genes podem piorar os casos da doença, mas o que os cientistas identificaram é que um deles é importante para o organismo gerar uma resposta imune e o outro para que o vírus invada o corpo humano. A suspeita surgiu de uma suspeita deles que entendia que o gene já foi responsável por ajudar a humanidade a batalhar contra outros vírus — mas, agora, falhou.

O que se sabe com certeza é que alguns fatores são considerados de risco e podem contribuir para quadros mais graves da infecção —como sexo, idade e doenças prévias. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o grupo de risco para a covid-19 é integrado por pessoas com mais de 60 anos, com condições prévias de saúde (como diabetes, problemas do coração ou respiratórios). Os genes neandertais, então, não são identificados pela ciência como indicadores de casos severos. 

O estudo foi conduzido por Hugo Zeberg e Svante Pääbo, responsável pelo time internacional que em 2010 decodificou o genoma neandertal. Para Zeberg e Pääbo, mais de 100.000 pessoas morreram na pandemia atual graças a essa combinação de genes. Mais de 1 milhão de pessoas já morreram no mundo todo vítimas da covid-19 e outras 34.114.758 foram infectadas, segundo o monitoramento em tempo real da universidade americana Johns Hopkins.

O continente com a menor concentração do gene é o africano, sendo que, por lá, ele é praticamente nulo. Para os cientistas, isso pode ter relação direta com o número de casos de SARS-CoV-2 no local, que são menores do que em outros continentes.

O motivo por trás disso? A paleontologia explica que primeiro ancestral dos humanos com semelhanças parecidas com as nossas surgiu há mais de 600.000 anos na África e diversas espécies do homo sapiens arcaico reproduziram-se entre si para dar origem ao que hoje entendemos como homo sapiens. 

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