Ciência

Frutas pouco conhecidas são fontes promissoras de compostos bioativos

Usada na medicina popular para tratar diarreia e estimular o sistema imunológico, o mirtilo rosa é uma das maiores fontes no reino vegetal de piceatannol

 (Earth100/Wikimedia Commons/Divulgação)

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Lucas Agrela

Lucas Agrela

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 05h55.

Última atualização em 23 de outubro de 2018 às 05h55.

O sucesso que o açaí (Euterpe oleracea) obteve no Brasil e em diferentes partes do mundo nos últimos anos teve a contribuição do belga Yvan Larondelle, professor da Faculdade de Bioengenharia da Universidade Católica de Louvain (UCL).

O pesquisador foi um dos primeiros a estudar a fruta de origem amazônica e revelar que ela é extremamente rica em compostos fenólicos antioxidantes – substâncias como os polifenóis, presentes no vinho tinto, com efeitos positivos sobre doenças cardiovasculares.

“Um copo com 250 mililitros de extrato de açaí tem 1 grama de compostos fenólicos”, destacou em palestra na FAPESP Week Belgium, realizada nas cidades de Bruxelas, Liège e Leuven de 8 a 10 de outubro de 2018.

Larondelle tem se dedicado nos últimos 25 anos a descobrir e explorar o potencial de frutas e verduras pouco conhecidas que podem ser fontes negligenciadas de compostos bioativos – substâncias que ocorrem naturalmente em alimentos e que interferem positivamente no metabolismo, mas que não são nutricionalmente necessárias.

A fim de revelar novas fontes de compostos bioativos, a estratégia adotada por Larondelle e sua equipe tem sido selecionar vegetais promissores, com base no consumo e na utilização deles em medicina tradicional.

Se o alimento atender a esses requisitos, os próximos passos dos pesquisadores são fazer a caracterização química dos bioativos potenciais e avaliar a biotividade dos compostos in vitro e in vivo, a fim de identificar se apresentam propriedades antioxidante, anti-inflamatória, antiaterosclerótica, antiobesidade e anticancerígena, entre outras.

Comprovadas essas propriedades, são feitas parcerias com empresas com o objetivo de desenvolver produtos, como alimentos, suplementos ou aditivos, a partir dessas frutas, como ocorreu com o açaí, explicou Larondelle.

“O conhecimento acumulado sobre o açaí foi transferido para as comunidades locais no Brasil e resultou na melhoria da qualidade microbiológica da polpa da fruta, na otimização do período de colheita e dos processos de produção”, afirmou.

Depois do açaí, a fruta que passou a despertar maior interesse dele nos últimos anos é o mirtilo rosa (Rhodomyrtus tomentosa (Ait.) Hassk) do Sudeste Asiático.

Usada na medicina popular para tratar diarreia e estimular o sistema imunológico, a fruta é uma das maiores fontes no reino vegetal de piceatannol – um composto fenólico mais ativo que o resveratrol, encontrado principalmente na casca da uva, em termos de propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias, antiproliferativas e antilipogênicas.

“O piceatannol parece interferir com o acúmulo de lipídios no tecido adiposo”, disse Larondelle.

Por meio do estudo, os pesquisadores têm auxiliado os produtores da fruta, que tem sido utilizada no Vietnã na produção de sucos e bebidas alcoólicas, a corrigir falhas na produção e desenvolver processos para extrair piceatannol de forma mais eficiente. A meta é introduzir o composto bioativo em outros produtos mais elaborados.

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