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Entender ciências é exceção no Brasil, mostra pesquisa

Segundo Instituto Abramundo, metade dos chefes não entende sequer gráficos um pouco mais complexos, por exemplo. Só 5% dos brasileiros conseguem aplicar a ciência no dia-a-dia

Maior parte dos brasileiros não consegue decifrar o resultado de um exame de sangue (Fabrice Coffrini/AFP)

Talita Abrantes

Publicado em 22 de setembro de 2014 às 15h44.

São Paulo – De cada 100 brasileiros que têm pelo menos até a quarta-série, apenas 5 são capazes de aplicar conhecimentos de ciências em atividades simples do cotidiano – como calcular a potência de um chuveiro, por exemplo, segundo levantamento do Instituto Abramundo.

Na prática, 64% dos alfabetizados sofrem para compreender informações científicas simples – como um manual ou interpretar os resultados de um exame de sangue, por exemplo. Pior: 56% dos profissionais que trabalham em cargos de chefia no Brasil também estão na mesma situação.

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O Instituto chegou a essa conclusão após analisar o desempenho de cerca de 2 mil pessoas com idade entre 15 e 40 anos que tinham até a quarta série diante de situações cotidianas que envolviam o domínio de conceitos científicos.

O desempenho foi medido de acordo com o Índice de Letramento Científico, desenvolvido pela Abramundo em parceria com o Ibope Inteligência.

Veja qual foi o desempenho dos entrevistados na escala desenvolvida pelo instituto.

Nível 1Básico

O que consegue fazer? Compreende informações apresentadas de maneira clara (e explícita) em contextos já conhecidos. No fim das contas, não usa conceitos científicos para entender o mundo.

Quantos estão neste grupo? 16% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 29% estavam neste grupo. No ensino médio, eram 14%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 4% eram deste nível.

Nível 2Rudimentar
O que consegue fazer? É capaz de localizar informações em diversos formatos de textos e reconhecer termos científicos simples, mas não consegue resolver problemas ou interpretar informações científicas.

Quantos estão neste grupo? 48% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 50% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 52%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 37% eram deste nível.

Nível 3Intermediário
O que consegue fazer? É capaz de entender gráficos, tabelas, esquemas e textos mais complexos, além de conseguir resolver problemas que demandam a aplicação de conceitos científicos básicos. Mas não conseguem solucionar problemas mais complexos.

Quantos estão neste grupo? 31% do total de entrevistados. Entre os que tinham apenas o ensino fundamental, 20% estavam neste grupo. Do ensino médio, eram 29%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 48% eram deste nível.

Nível 4Proficiente
O que consegue fazer? Entende, de fato, termos científicos e é capaz de aplicar conceitos da ciência para interpretar a realidade e em problemas do cotidiano.

Quantos estão neste grupo? Apenas 5% do total de entrevistados. Entre os entrevistados que tinham apenas o ensino fundamental, 1% estava neste grupo. Do ensino médio, eram 4%. Entre os que tinham concluído (ou estavam cursando) a faculdade, 11% eram deste nível.

Mercado de trabalho

Mais do que dificultar algumas situações cotidianas simples, não dominar conceitos simples (como a habilidade de ler tabelas ou gráficos) também impacta o desempenho dos brasileiros no mercado de trabalho , segundo Ricardo Uzal, presidente do Instituto Abramundo.

A baixa produtividade da indústria nacional está aí para provar este fato. Segundo Uzal, o aumento da produtividade da economia depende de inovação e “a falta de conhecimento científico dificulta a busca por esta melhoria contínua”, afirma.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, metade dos profissionais que ocupam um cargo de chefia no Brasil chegaram até o nível 2 do índice de letramento científico – fato que sinaliza, no máximo, um domínio rudimentar das habilidades derivadas do conhecimento básico de Ciências . Veja o quadro por profissões:

Profissão/CargoBásicoRudimentarIntermediárioProficiente
Profissional liberal / Micro ou Pequeno Empresário / Comerciante / Empregador / Grande Proprietário rural ou industrial / Proprietário ou Produtor rural13%43%30%15%
Funcionário de nível alto / gerencial (setor público ou privado)0%28%60%12%
Funcionário de nível técnico / estagiário / trainee (setor público ou privado)8%44%40%7%
Autônomo formal14%51%30%5%
Funcionário de nível operação / produção (setor público ou privado)14%50%33%3%
Trabalhador informal, em casa ou fora de casa25%48%23%4%
Serviço doméstico, com ou sem carteira29%55%13%3%

O setor de educação é o que mais possui profissionais proficientes em letramento científico. Mas mesmo assim, a proporção é pequena: apenas 10% dos entrevistados que declararam trabalhar na área de educação atingiram o nível máximo da análise. Veja:

SetorBásicoRudimentarIntermediárioProficiente
Educação5%43%41%10%
Saúde5%50%37%8%
Prestação de Serviços17%48%30%6%
Indústria Transformação13%43%38%6%
Administração Pública6%37%50%6%
Comércio14%52%29%5%
Transporte8%46%41%5%
Construção24%48%26%2%
Atividade Doméstica46%54%0%0%
Agricultura40%60%0%0%
Inativo43%29%29%0%

Além de colocar os entrevistados para resolver problemas, a pesquisa também os questionou sobre o grau de dificuldade que eles tinham para compreender bulas de remédios, tabelas nutricionais ou calcular quanto de combustível era necessário para percorrer um percurso.

O resultado foi desalentador: 48% dos entrevistados não conseguem sequer entender uma tabela com informações nutricionais. Confira os 10 dados simples que muita gente no Brasil não consegue entender.

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