El Niño intenso preocupa produtores rurais
No Sul, as chuvas abundantes, ainda que possam turbinar a produtividade, dificultam o controle de doenças
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2015 às 10h34.
São Paulo - O El Niño, já classificado nesta temporada como um dos mais intensos dos últimos anos, tem trazido preocupação para a safra de verão 2015/16.
Para os produtores, o fenômeno climático é agridoce. A falta de chuvas no Norte do país atrasa o plantio da soja , carro-chefe do agronegócio brasileiro. Já no Sul, as chuvas abundantes, ainda que possam turbinar a produtividade, dificultam o controle de doenças.
Em sua forma tradicional, o El Niño, gerado pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico, causa chuvas mais intensas no Sul, seca no Norte e Nordeste e temperaturas mais elevadas no Sudeste e Centro-Oeste do país. ]
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, o fenômeno deverá se fortalecer antes do fim do ano, podendo se tornar o mais forte já registrado.
De acordo com a instituição, ele deverá ter picos de 2°C acima do normal nas médias, colocando-se no patamar dos verificados em 1972/73, 1982/83 e 1997/98.
"Olhando as condições atuais, o El Niño é o segundo mais forte de todos os tempos. Já superou o de 1982/1983 e, ao que tudo indica, vai igualar ou superar o de 1997/98, que foi o mais intenso de todos", afirma Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo.
Os efeitos do fenômeno já são sentidos nas Regiões Norte e Nordeste do país, bem como ao norte dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, maior produtor de soja nacional.
Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), essas regiões podem ter de 25% a 50% de chuvas abaixo da média nesta temporada.
No Matopiba, importante região produtora que abrange parte de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o plantio da soja, tradicionalmente iniciado na segunda quinzena de outubro, está começando apenas em meados de novembro.
Ritmo menor
A falta de chuvas diminuiu o ritmo de semeadura do produtor Valdir Valtram, de 53 anos, que planta 10 mil hectares de soja e milho em Balsas, sul do Maranhão.
"Nesse período do ano passado, estávamos com toda a lavoura plantada; neste ano, estamos com apenas metade - sendo que 10% terá de ser replantado", afirma o gaúcho, que mora na região há 15 anos. "Está chovendo pouco e de maneira muito irregular. Teremos uma queda de produtividade, isso é indiscutível."
Outro problema desencadeado por esse descompasso é o atraso no cultivo da segunda safra de milho. "O impacto é direto, pois atrasando o plantio, você impõe um risco maior para a cultura da safrinha", afirma Paulo César Sentelhas, professor de Agrometeorologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
"Quanto mais tarde ela entrar, maior a chance de déficit hídrico na fase reprodutiva da cultura", afirma o acadêmico.
Segundo Valtram, no Maranhão, muitos que planejavam aumentar a área de safrinha terão de interromper os planos. Segundo ele, presidente do sindicato dos produtores de Balsas, a área plantada da safrinha deve cair deve cair no Estado de 220 mil hectares para 130 mil hectares.
Ferrugem
Já no Sul, o excesso de chuvas tem levado ao aumento da aparição de ferrugem asiática - doença fúngica que ataca plantas em condições úmidas. Segundo o Consórcio Antiferrugem, da Embrapa Soja, casos da doença relatados de junho até o momento já são o dobro dos reportados no mesmo período do ano passado.
"No sul do país, o produtor está tendo muita dificuldade com semeadura, e posteriormente com a questão do controle fitossanitário, pois há muita proliferação de doenças com a umidade", diz Sentelhas.
"Outra preocupação é com a colheita, pois as chuvas na região devem continuar acima do normal até meados de março e abril do ano que vem."
A maior incidência de pragas e doenças no campo aumenta a necessidade de aplicação de defensivos agrícolas, fazendo subir os custos de produção, já turbinados nesta safra com a disparada do dólar. Fertilizantes e defensivos subiram em média 30% neste ano.
Apesar dos males do El Niño, ainda é difícil mensurar seu impacto sobre a produção da safra 2015/16.
"Em Matopiba, por exemplo, o impacto da seca com certeza será grande na produtividade. No Sul, você pode ter produtividades altas, já que a chuva elimina o risco de déficit hídrico, mas gera muito problema de manejo", diz Sentelhas, da Esalq. Oliveira, da Somar, acredita que as condições devem ficar mais favoráveis nos próximos meses.
"Mesmo com essas dores de cabeça na primavera, é provável que haja uma produção mais elevada. Para a safra de verão, as coisas devem começam a entrar nos eixos em dezembro, com a regularização das chuvas", diz ele.
Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos do país na temporada 2015/16 está estimada entre 208,6 milhões e 212,9 milhões de toneladas, o que indicaria crescimento de até 2,1% ante a safra 2014/15.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo - O El Niño, já classificado nesta temporada como um dos mais intensos dos últimos anos, tem trazido preocupação para a safra de verão 2015/16.
Para os produtores, o fenômeno climático é agridoce. A falta de chuvas no Norte do país atrasa o plantio da soja , carro-chefe do agronegócio brasileiro. Já no Sul, as chuvas abundantes, ainda que possam turbinar a produtividade, dificultam o controle de doenças.
Em sua forma tradicional, o El Niño, gerado pelo aquecimento das águas no Oceano Pacífico, causa chuvas mais intensas no Sul, seca no Norte e Nordeste e temperaturas mais elevadas no Sudeste e Centro-Oeste do país. ]
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU, o fenômeno deverá se fortalecer antes do fim do ano, podendo se tornar o mais forte já registrado.
De acordo com a instituição, ele deverá ter picos de 2°C acima do normal nas médias, colocando-se no patamar dos verificados em 1972/73, 1982/83 e 1997/98.
"Olhando as condições atuais, o El Niño é o segundo mais forte de todos os tempos. Já superou o de 1982/1983 e, ao que tudo indica, vai igualar ou superar o de 1997/98, que foi o mais intenso de todos", afirma Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo.
Os efeitos do fenômeno já são sentidos nas Regiões Norte e Nordeste do país, bem como ao norte dos Estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, maior produtor de soja nacional.
Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Cptec/Inpe), essas regiões podem ter de 25% a 50% de chuvas abaixo da média nesta temporada.
No Matopiba, importante região produtora que abrange parte de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o plantio da soja, tradicionalmente iniciado na segunda quinzena de outubro, está começando apenas em meados de novembro.
Ritmo menor
A falta de chuvas diminuiu o ritmo de semeadura do produtor Valdir Valtram, de 53 anos, que planta 10 mil hectares de soja e milho em Balsas, sul do Maranhão.
"Nesse período do ano passado, estávamos com toda a lavoura plantada; neste ano, estamos com apenas metade - sendo que 10% terá de ser replantado", afirma o gaúcho, que mora na região há 15 anos. "Está chovendo pouco e de maneira muito irregular. Teremos uma queda de produtividade, isso é indiscutível."
Outro problema desencadeado por esse descompasso é o atraso no cultivo da segunda safra de milho. "O impacto é direto, pois atrasando o plantio, você impõe um risco maior para a cultura da safrinha", afirma Paulo César Sentelhas, professor de Agrometeorologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
"Quanto mais tarde ela entrar, maior a chance de déficit hídrico na fase reprodutiva da cultura", afirma o acadêmico.
Segundo Valtram, no Maranhão, muitos que planejavam aumentar a área de safrinha terão de interromper os planos. Segundo ele, presidente do sindicato dos produtores de Balsas, a área plantada da safrinha deve cair deve cair no Estado de 220 mil hectares para 130 mil hectares.
Ferrugem
Já no Sul, o excesso de chuvas tem levado ao aumento da aparição de ferrugem asiática - doença fúngica que ataca plantas em condições úmidas. Segundo o Consórcio Antiferrugem, da Embrapa Soja, casos da doença relatados de junho até o momento já são o dobro dos reportados no mesmo período do ano passado.
"No sul do país, o produtor está tendo muita dificuldade com semeadura, e posteriormente com a questão do controle fitossanitário, pois há muita proliferação de doenças com a umidade", diz Sentelhas.
"Outra preocupação é com a colheita, pois as chuvas na região devem continuar acima do normal até meados de março e abril do ano que vem."
A maior incidência de pragas e doenças no campo aumenta a necessidade de aplicação de defensivos agrícolas, fazendo subir os custos de produção, já turbinados nesta safra com a disparada do dólar. Fertilizantes e defensivos subiram em média 30% neste ano.
Apesar dos males do El Niño, ainda é difícil mensurar seu impacto sobre a produção da safra 2015/16.
"Em Matopiba, por exemplo, o impacto da seca com certeza será grande na produtividade. No Sul, você pode ter produtividades altas, já que a chuva elimina o risco de déficit hídrico, mas gera muito problema de manejo", diz Sentelhas, da Esalq. Oliveira, da Somar, acredita que as condições devem ficar mais favoráveis nos próximos meses.
"Mesmo com essas dores de cabeça na primavera, é provável que haja uma produção mais elevada. Para a safra de verão, as coisas devem começam a entrar nos eixos em dezembro, com a regularização das chuvas", diz ele.
Segundo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos do país na temporada 2015/16 está estimada entre 208,6 milhões e 212,9 milhões de toneladas, o que indicaria crescimento de até 2,1% ante a safra 2014/15.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.