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Desenhos de 10 mil anos mostram cães treinados

A descoberta, feita na Arábia Saudita, mostra que os povos locais usavam cães para caçar - e já conheciam até a coleira

Pintura: arqueólogos acreditam que desenho destacado mostra cães adestrados auxiliando na caça a um leão (Journal of Anthropological Archaeology/Instituto Max Planck/Divulgação)

Victor Caputo

Publicado em 24 de novembro de 2017 às 05h55.

Última atualização em 24 de novembro de 2017 às 05h55.

A rotina dos seres humanos de 11 mil anos atrás era um bocado diferente da nossa. Era preciso caçar e colher a própria comida – e chegar vivo aos 40 era um feito digno de nota.

Uma coisa, porém, não mudou: como nós, os Homo sapiens do começo do Neolítico já gostavam de cachorros – e aprenderam a adestrá-los para ajudar nas tarefas cotidianas.

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Cenas entalhadas em pedra encontradas recentemente na região de Shuwaymis, na Arábia Saudita, retratam grupos de cães sendo usados por caçadores humanos para capturar gazelas e um íbex-da-núbia – um tipo de cabra típico do Oriente Médio. As representações foram produzidas entre 9.000 a.C. e 8.000 a.C., e são o mais antigo registro gráfico da domesticação do melhor amigo do homem.

Os cães, a julgar pelo porte físico, a localização do sítio arqueológico e o rabo enrolado na ponta, são de uma das raças mais antigas do mundo – o Cão de Canaã, que já fazia companhia aos israelitas antes da invasão romana, em 63 a.C. Dois dos animais estão com o pescoço atado por uma corda à cintura do caçador – o que também torna o baixo relevo o mais antigo registro do uso de coleiras.

A descoberta, feita por pesquisadores do Instituto Max Planck, na Alemanha, rendeu um artigo científico publicado na semana passada. “É realmente incrível”, declarou à imprensa Melinda Zeder, arqueóloga do Museu Nacional de História Natural em Washington, nos EUA. “É a única demonstração real que existe de seres humanos usando os primeiros cachorros para caçar.”

Fotos de caverna com desenhos de 10 mil anos mostrando cães adestrados

A região de Shuwaymis, no nordeste da península arábica, é repleta de colinas, que no período Neolítico provavelmente foram cortadas por rios e cobertas por uma vegetação bem mais densa que a permitida pelo clima desértico atual. Maria Guagnin, líder do estudo, explora a Arábia Saudita há três anos, e já descobriu 1,4 mil painéis de rocha, em que estão representados mais de 7 mil animais de todas as espécies.

As que contém cachorros, em geral, são de um período de transição entre a ocupação da península por povos caçadores e coletores, por volta de 10000 a.C., e a adoção da pecuária após 8000 a.C. Nessa época, a criação de animais domésticos grandes e dóceis para a alimentação (como vacas, ovelhas e cabras) tirou o “emprego” dos cães de caça.

“Quando Maria chegou em mim com as imagens e perguntou se elas significavam alguma coisa, eu quase enlouqueci”, afirmou àScience Angela Perri, colega dos pesquisadores responsáveis pela descoberta e especialista na pré-história dos animais domésticos. “Um milhão de ossos não me diriam o que essas imagens me contam. É o mais próximo que eu vou chegar de um vídeo no YouTube.”

Este texto foi publicado originalmente no site daSuperinteressante.

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