Ciência

Descoberta muda o que a ciência sabia sobre dopamina e Parkinson

Pesquisa indica que níveis estáveis de dopamina são mais importantes que picos

Publicado em 22 de dezembro de 2025 às 18h01.

A dopamina pode não funcionar como o “acelerador” do cérebro, como se acreditava há décadas. Um estudo da Universidade McGill indica que a substância atua como um suporte básico para o movimento, permitindo que ele ocorra, mas sem controlar diretamente velocidade ou força.

A descoberta altera a compreensão científica sobre o funcionamento motor e pode influenciar futuras estratégias de tratamento da doença de Parkinson. Os resultados foram publicados na revista Nature Neuroscience.

A pesquisa analisou como a dopamina age durante movimentos em tempo real. Os cientistas observaram que mudanças pontuais nos níveis da substância, enquanto a ação já estava em curso, não alteraram o desempenho motor. Em contraste, a restauração dos níveis basais de dopamina teve impacto significativo. A conclusão sugere que a substância cria as condições necessárias para o movimento, em vez de comandá-lo momento a momento.

Qual é o papel da dopamina na doença de Parkinson?

A dopamina está diretamente ligada à capacidade de iniciar e sustentar movimentos. Na doença de Parkinson, ocorre a degeneração progressiva das células cerebrais produtoras dessa substância. Essa perda está associada a sintomas como lentidão motora, rigidez, tremores e dificuldade de equilíbrio. O tratamento mais utilizado atualmente é a levodopa, que aumenta os níveis de dopamina no cérebro. Apesar de amplamente eficaz, seu mecanismo de ação ainda não era totalmente compreendido.

Nos últimos anos, avanços em técnicas de monitoramento cerebral identificaram picos rápidos de dopamina durante movimentos. Esses sinais levaram parte da comunidade científica a supor que a substância controlaria diretamente a intensidade da ação. O novo estudo, no entanto, desafia essa interpretação ao mostrar que tais flutuações não determinam o vigor do movimento.

Diante disso, os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral de camundongos enquanto eles realizavam tarefas motoras, como pressionar uma alavanca com peso. Utilizando técnicas baseadas em luz, foi possível ativar ou inibir neurônios produtores de dopamina durante a execução do movimento. Alterações nesses sinais, no momento da ação, não modificaram a força nem a velocidade dos movimentos.

Quando os animais receberam levodopa, houve melhora do desempenho motor. A análise indicou que o efeito ocorreu pelo aumento do nível geral de dopamina, e não pela restauração dos picos rápidos observados durante a tarefa. Segundo o pesquisador Nicolas Tritsch, os resultados indicam que manter níveis estáveis da substância pode ser suficiente para favorecer o movimento.

O que muda para os tratamentos da doença de Parkinson?

A nova interpretação pode influenciar o desenvolvimento de terapias mais direcionadas. Em vez de buscar imitar sinais rápidos de dopamina, futuros tratamentos podem focar na manutenção de níveis basais adequados. Isso pode reduzir efeitos colaterais associados a medicamentos que atuam de forma ampla no cérebro.

Os autores também destacam que a descoberta incentiva a reavaliação de abordagens antigas, como o uso de agonistas dopaminérgicos. Embora eficazes em alguns casos, esses fármacos costumam afetar grandes áreas cerebrais. Uma compreensão mais precisa do papel da dopamina pode ajudar a criar terapias mais específicas e seguras para pacientes com Parkinson.

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