Ciência

Coronavírus causa sérios problemas neurológicos em pacientes, diz estudo

Pesquisa aponta que alguns problemas neurológicos têm sido desencadeados pela covid-19, como inflamação cerebral, delírios e até AVCs

Pessoas com trajes de proteção em Melbourne
06/07/2020 AAP Image/James Ross/via REUTERS (James Ross/Reuters)

Pessoas com trajes de proteção em Melbourne 06/07/2020 AAP Image/James Ross/via REUTERS (James Ross/Reuters)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 8 de julho de 2020 às 10h28.

Um estudo publicado na revista científica Brain, especializada em neurologia, sugeriu que os médicos do mundo todo devem ficar atentos a mais uma complicação que pode ser fatal em infecções causadas pelo novo coronavírus. Segundo eles, alguns problemas neurológicos têm sido desencadeados pelo vírus, como inflamação cerebral, delírios, problemas no sistema nervoso e até AVCs.

43 pacientes com sintomas leves ou graves da doença foram analisados pelos cientistas no Reino Unido. Em alguns casos, de acordo com a observação dos profissionais, os sintomas neurológicos foram os primeiros ou os principais a serem apresentados nos casos de covid-19.

Uma das pacientes observada pelo estudo tem 55 anos e não tinha nenhum histórico prévio de doenças psiquiátricas. Ela chegou ao hospital apresentando febre, tosse, dores musculares, falta de ar e também falta de olfato e paladar.

Com um caso mais leve, ela quase não precisou de oxigenação mecânica e teve alta três dias depois. No dia seguinte a sua saída no hospital, o marido dela começou a reparar que ela havia adotado um comportamento esquisito, como colocar e tirar repetidamente o casaco, bem como ter alucinações e ver leões nas paredes.

Outra paciente, de 47 anos e também sem histórico de doenças neurológicas, sentiu o lado esquerdo de seu corpo formigando e apresentou forte dor de cabeça antes de ser internada --- o que pode significar que os efeitos acontecem antes e depois da internação.

Com essa análise, eles foram capazes de observar que uma condição ameaçadora chamada de doença desmielinizante do Sistema Nervoso Central (SNC), ou Acute Disseminated Encephalomyelitis (Adem, na sigla em inglês) aumentou durante a primeira onda de infecções no país britânico. Antes da pandemia, os casos de Adem eram dois ou quatro por semana nos meses de abril e maio.

O estudo ainda é preliminar e, de acordo com os próprios cientistas, ainda precisa ser mais aprofundado para entender melhor como o SARS-CoV-2 é realmente capaz de afetar o cérebro humano e quais serão os tratamentos adotados para lidar com a complicação.

O efeito neurológico do coronavírus

No final de junho, outro estudo feito por cientistas das universidades britânicas de Liverpool, Southampton, New Castle e a College London apontou que os pacientes mais graves do novo coronavírus podem desenvolver problemas cerebrais e correm mais risco de ter derrames.

Segundo a pesquisa, feita com 125 pacientes hospitalizados no ápice da crise do vírus no Reino Unido em abril, seis a cada dez corriam o risco. Desses, 62% sofreram derrames durante a hospitalização e quase um terço desenvolveu sintomas parecidos com demência ou psicose. 

No entanto, os pesquisadores admitem que o estudo é ainda muito preliminar para ter conclusões 100% assertivas, mas que isso pode jogar luz nos problemas neurológicos menos conhecidos que a doença respiratória pode engatilhar em determinados casos.

Um dos motivos que pode levar um infectado a ter derrames é o desenvolvimento de coágulos sanguíneos, efeito colateral bastante conhecido e estudo em casos de covid-19, o que pode levar a um derrame fatal caso eles migrem para o cérebro e cortem o fornecimento de sangue ao restante do corpo. Ainda não há nenhum estudo que confirme exatamente o por que de os coágulos se formarem em quadros mais severos da doença e causarem inflamações.

Essas inflamações nas principais artérias podem estar, inclusive, por trás dos efeitos psiquiátricos do vírus em alguns casos. 

Dos pacientes estudados pelas universidades acima que apresentaram casos cerebrovasculares, 74% tiveram acidente vascular cerebral isquêmico, 12% uma hemorragia intracerebral e 1% vasculite, que é uma doença capaz de inflamar os vasos sanguíneos. 

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