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Construção de telescópio sobre vulcão sagrado no Havaí gera protestos

Manifestações pacíficas, apoiadas por diferentes celebridades, atrasam o início das obras

Mauna Kea: região que abriga um vulcão inativo é considerada sagrada para população local do Havaí (Pixabay/Divulgação)
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AFP

Publicado em 28 de setembro de 2019 às 12h30.

São Paulo – Na encosta do Mauna Kea, um vulcão inativo que domina a ilha do Havaí , centenas de manifestantes tentam impedir a construção do maior telescópio do hemisfério norte.

O início da construção do Telescópio de Trinta Metros (TMT), que os astrônomos terão uma resolução doze vezes maior que a do Telescópio Espacial Hubble, está atrasada há anos em razão dos protestos pacíficos, que tiveram o apoio de celebridades como Dwayne Johnson, Jason Mamoa e Bruno Mars.

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Os manifestantes argumentam que esse projeto de US$ 1,4 bilhão será construído em terras "sagradas", prejudicaria o meio ambiente e ameaçaria a soberania das comunidades nativas.

As obras, que deveriam começar em 2015 e terminar em 2027, ainda não começaram.

"A construção está atrasada há anos devido a essa situação. O custo também aumentou significativamente", disse à AFP Christophe Dumas, astrônomo francês e chefe de operações do TMT, que explicou que "o processo para obter a licença de construção durou 10 anos".

Os manifestantes disseram ao grupo de cientistas por trás do projeto que o TMT pode ser construído em um local menos controverso. Propuseram uma montanha nas Ilhas Canárias, na Espanha, mas Dumas disse que o Mauna Kea "continua sendo o lugar ideal" no hemisfério norte devido à sua altitude de 4.205 metros e à porcentagem de noites claras "em torno de 70%".

O novo telescópio, segundo os cientistas, permitiria aos astrônomos testemunhar "a formação de galáxias nos limites do universo observável, perto do inícios dos tempos".

Essas condições justificam os outros 13 telescópios já instalados na encosta do vulcão, de onde novas descobertas são feitas todos os anos e estudos científicos são publicados.

E alguns acreditam que outro faria uma grande diferença.

"Falei com os líderes dos opositores [do projeto] e eles deixaram bem claro que não é apenas grande demais, mas que há muitos", disse Greg Chun, diretor de administração de Mauna Kea na Universidade do Havaí.

"Eles me dizem que já compartilharam a montanha por tempo suficiente, e isso basta", continuou ele, garantindo que as preocupações dos nativos havaianos foram ignoradas.

"Não podemos esperar muito mais"

Os cientistas começaram a ir em grande número para Mauna Kea depois que um tsunami em 1960 devastou as comunidades que habitavam as encostas do vulcão, e as autoridades locais, na tentativa de reviver a economia da área, começaram a atrair os astrônomos.

"Desde o início, o desenvolvimento da astronomia suscitou preocupação, não é algo novo", disse Chun.

Mas muitos observadores dizem que o debate de Mauna Kea vai além de um simples telescópio e reflete o profundo ressentimento de alguns havaianos nativos pelos abusos do passado e o legado do colonialismo nas ilhas havaianas.

Jonathan Osorio, especialista em cultura havaiana e opositor de longa data do telescópio, insiste que ele e outros manifestantes não se opõem à ciência, mas à construção em solo sagrado.

Dumas, enquanto isso, acredita que a guerra do telescópio é uma ferramenta para pressionar as autoridades a dar mais autonomia à população nativa.

"O telescópio não estaria localizado no topo da montanha e só será visível em uma pequena parte (14%) da ilha", indicou, insistindo que sua equipe fez todo o possível para respeitar os costumes e tradições locais.

Agora, segundo ele, o projeto precisa começar. "Não podemos esperar muito mais e as próximas semanas serão críticas", disse ele.

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