Ciência

Consequências do aquecimento do mar podem superar expectativas

Pesquisadores decidiram aquecer uma fina camada de água do fundo do mar em torno da estação de Rothera, na Antártida

Aquecimento global: o aquecimento foi de um e dois graus acima da temperatura ambiente (foto/Getty Images)

Aquecimento global: o aquecimento foi de um e dois graus acima da temperatura ambiente (foto/Getty Images)

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EFE

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 18h39.

Madri - Uma experiência qualificada por seus autores como a "mais realista até o momento sobre o aquecimento do oceano" aponta que os efeitos desse fenômeno no futuro "podem superar amplamente as expectativas", segundo um estudo publicado nesta quinta-feira pela revista "Current Biology".

Pesquisadores do Estudo Antártico Britânico e do centro de investigação meio ambiental Smithsonian decidiram aquecer uma fina camada de água do fundo do mar em torno da estação de Rothera, na Antártida, onde foram instalados painéis especiais.

O aquecimento foi de um e dois graus acima da temperatura ambiente, que é o aumento global da temperatura que, acredita-se, poderia se produzir nos próximos 50 e cem anos, respectivamente.

Como resultado foram observadas "enormes consequências no conjunto marítimo", já que as taxas de crescimento de alguns organismos quase dobraram.

"Surpreendeu bastante", afirmou em um comunicado o membro da equipe Gail Ashton, que destacou que não era esperada "uma diferença significativa observável em comunidades da Antártida" com um aumento de um grau centígrado da temperatura.

Ashton indicou que passou a maior parte da sua carreira trabalhando em climas temperados, onde as comunidades de organismos experimentam oscilações da temperatura muito maiores, e não esperava "uma reação tal com apenas um grau de mudança".

Predizer como os organismos e comunidades que vivem nessas águas podem responder à mudança climática no futuro "continua sendo um desafio fundamental".

A experiência concluiu que, com um aumento da temperatura em um grau, a população de uma só espécie de ectoprocta (Fenestrulina rugula), um pequeno tipo de animal que cria colônias, cresceu rapidamente e acabou dominando a comunidade, o que levou a uma redução global da diversidade de espécies e à uniformidade em dois meses.

Além disso, os exemplares de um verme marítimo conhecido como Romanchella perrieri aumentaram seu tamanho em 70% em relação àqueles que permaneceram em condições ambientais normais.

Já com o aumento de dois graus centígrados da temperatura, a resposta dos organismos foi muito mais variada e a taxa de crescimento foi diferente dependendo das espécies, da idade e da estação do ano.

O relatório aponta que as espécies cresceram geralmente mais rápido com o aquecimento durante o verão. No entanto, foram observadas respostas diferentes entre as espécies durante março, quando tanto a disponibilidade de alimento quanto a temperatura diminuem.

Estes resultados sugerem, segundo os pesquisadores, que a mudança climática "pode inclusive ter maiores efeitos nos ecossistemas polares marítimos do que o previsto" e que, à medida que o planeta for se aquecendo, "haverá ganhadores - como os ectoproctas - e perdedores", indica o comunicado.

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