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Como gatos gordos ajudaram cientistas a entender melhor a obesidade

Pesquisa norte-americana mostra que perda de peso pode funcionar de forma parecida em humanos e gatos

Gato gordo (Tripp/Flickr)

Gato gordo (Tripp/Flickr)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 06h18.

Quem tem gatos em casa sabe que é o sobrepeso é um problema comum entre os pets. Os gatinhos gordos têm muito em comum com os seres humanos e estão ajudando a ciência a entender melhor como funciona a obesidade

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, indica que mudanças na dieta de felinos obesos provocam alterações no intestino muito semelhantes às observadas em pessoas que perdem peso, especialmente no funcionamento das bactérias intestinais.

A pesquisa analisou como diferentes dietas afetam o microbioma intestinal de gatos obesos. Segundo os cientistas, as semelhanças encontradas entre gatos e humanos reforçam o potencial dos animais de estimação como modelos naturais para estudar a origem e o tratamento da obesidade.

De acordo com dados citados no estudo, cerca de 60% dos gatos em países desenvolvidos estão acima do peso ou obesos. Nos Estados Unidos, mais de dois em cada cinco adultos sofrem de obesidade, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

A dieta para os gatos gordos

“Os animais dividem a cama conosco. Dividem o sorvete. Há muitas coisas que as pessoas fazem com seus pets que mostram que eles são um modelo natural de doenças, com exposições ambientais semelhantes às dos humanos”, afirmou Jenessa Winston, autora principal do estudo, em comunicado da Universidade.

Publicado recentemente na revista científica Scientific Reports, o trabalho se baseou na análise de amostras fecais de sete gatos obesos ao longo de 16 semanas, durante as quais os animais passaram por quatro fases de dieta, incluindo restrição rigorosa de calorias para promover a perda de peso.

Durante o experimento, os gatos foram inicialmente alimentados à vontade com ração comum. Em seguida, passaram a consumir uma dieta específica para emagrecimento, primeiro sem restrição e depois com controle calórico, com o objetivo de reduzir de 1% a 2% do peso corporal por semana. Na fase final, retornaram à dieta de manutenção.

Metabolismo

Os pesquisadores observaram mudanças significativas na presença de ácidos graxos de cadeia curta, substâncias produzidas por bactérias intestinais durante a digestão.

Um desses compostos, o ácido propiônico, chamou a atenção por aumentar durante o período de perda de peso. Estudos anteriores em humanos e outros mamíferos associam essa substância à regulação do apetite, à redução do acúmulo de gordura e à proteção contra obesidade e diabetes tipo 2.

“Quando os gatos estão na dieta especial para perda de peso, o ácido propiônico aumenta e se mantém alto, e depois volta a cair quando eles retornam à dieta de manutenção. Isso mostra claramente que se trata de um efeito da dieta”, explicou Winston. “O estudo destaca que, ao restringirmos calorias em gatos obesos, conseguimos alterar o ecossistema microbiano — e essas mudanças provavelmente se relacionam a alguns resultados metabólicos.”

Bactérias intestinais

O aumento do ácido propiônico ocorreu em paralelo à maior presença da bactéria Prevotella 9 copri, já associada em estudos com humanos à perda de peso e ao melhor controle da glicemia.

Embora o estudo não tenha confirmado se essa bactéria produz diretamente o ácido propiônico, a coincidência temporal dos dois fatores durante o emagrecimento foi considerada relevante pelos pesquisadores.

Para Winston, os resultados reforçam a importância de estudar o microbioma como parte do combate à obesidade.

“Meu laboratório é focado em como podemos aproveitar o poder terapêutico dos microrganismos”, disse a pesquisadora. “Para isso, precisamos entender como os estados de doença diferem da saúde, para identificar e direcionar, de forma mecanística, as mudanças que ocorrem no microbioma.”

Ela acrescenta que as semelhanças observadas entre gatos e humanos são promissoras. “Ver mudanças em gatos que também aparecem no contexto da obesidade e do diabetes tipo 2 em pessoas faz deles um modelo muito interessante para começarmos a explorar terapias voltadas ao microbioma para tratar a obesidade humana”, afirmou.

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