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Como a teoria dos jogos pode ajudar na sua carreira

A aplicação na carreira da teoria premiada com o Nobel de economia em 2012 mostra que profissionais e empresas precisam “namorar” até formar um par perfeito

No filme Uma Mente Brilhante (2001): o ator Russell Crowe interpreta o matemático John Nash, cuja obra teve grande contribuição para o desenvolvimento da teoria dos jogos (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2013 às 18h33.

Sonhar com a empresa mais desejada do mercado é algo com poucas chances de virar realidade. A matemática comprova que preencher uma vaga é um processo mais parecido com um casamento, em que duas partes entram num acordo após se conhecerem bem, do que uma escolha unilateral por parte da empresa ou do candidato.

Segundo o professor Carlos Da Costa, presidente e reitor do Institute of Performance and Leadership (IPL), escola de negócios de São Paulo, o par perfeito não existe no trabalho e esse é o primeiro erro que os candidatos cometem ao buscar uma nova colocação.

“Busque a empresa dos seus sonhos e que sonhe com você”, diz Carlos. Em outras palavras, é preciso ter o pé no chão e buscar um emprego no qual as duas partes fiquem satisfeitas.

A base para a afirmação de Carlos é a Teoria das Alocações Estáveis e do Modelo de Mercado, desenvolvida pelos professores americanos Alvin Roth, da Universidade Harvard, e Lloyd Shapley, da Universidade da Califórnia, vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2012.

A partir da teoria dos jogos, que usa modelos matemáticos para analisar decisões, Lloyd desenvolveu um algoritmo que combina oferta e demanda. Ele partiu do exemplo dos casamentos, propondo uma fórmula que permitiria (em tese) oferecer a cada solteiro de um determinado grupo o melhor parceiro.

Depois, Alvin aplicou a teoria na nomeação de novos médicos em hospitais, de estudantes nas escolas e de receptores de órgãos na fila de transplante. De acordo com Carlos, que estudou com Lloyd durante seu doutorado, é possível fazer uma leitura do mercado de trabalho com base no modelo dos americanos.

Partindo de um cenário hipotético de mercado (veja o quadro Como Funciona a Teoria), um grupo de pessoas elegeria a empresa em que gostariam de trabalhar, ou seja, aquelas que considerassem a melhor opção para elas.


Como cada empresa só chamaria um funcionário, os candidatos precisariam refazer suas decisões até encontrar uma empresa que correspondesse às suas expectativas.

Ao final das seleções, porém, novas rodadas poderiam começar, já que pessoas e empresas mudam. Teoricamente, dessa forma os profissionais estariam menos sujeitos às estabilidades porque estariam onde quisessem e na empresa que mais combinasse com eles.

Para alcançar esse equilíbrio — mesmo que provisório —, empregados e organizações precisam superar algumas etapas. Em primeiro lugar, interromper a busca do par perfeito não significa aceitar a primeira proposta de trabalho. Ao contrário. Segundo Carlos, as pessoas precisam se esforçar para encontrar o melhor emprego possível, e isso requer paciência e sabedoria para saber dizer não.

“Se em um primeiro momento leva mais tempo achar a empresa ideal, depois você aumenta as chances de encontrar um emprego adequado, com menor risco de demissão”, afirma. Para a teoria funcionar, os profissionais precisam ter informações sobre as empresas.

Só assim poderão ter certeza de que a companhia é de fato a que melhor combina com eles. Até aqui todo mundo concorda. Executivos e headhunters ouvidos pela reportagem afirmam que um candidato bem preparado e informado tem maior possibilidade de conquistar um emprego. Sim, parece óbvio, mas na prática essa é a primeira condicionante da teoria a falhar.

“Por incrível que pareça, mesmo oferecendo várias informações sobre o cargo e a empresa ao divulgarmos uma vaga, as pessoas chegam aqui desinformadas e despreparadas”, diz Thiago Panicacci, líder de RH e treinamento da Starbucks Brasil, de São Paulo. Engana-se quem acha que esse despreparo se restringe aos cargos iniciais ou médios.


“Na semana passada entrevistei um candidato que já foi presidente de empresa e chegou aqui sabendo muito pouco sobre a nossa companhia”, diz Maria Fernanda Teixeira, presidente da First Data, empresa de tecnologia para serviços financeiros. “Apesar de conhecê-lo, achei que poderia não dar certo”, diz Maria Fernanda.


Foco é fundamental

A aplicação do modelo matemático da teoria dos jogos também indica que restringir o número de processos seletivos pode ser uma medida eficiente para encontrar um bom emprego.

Na teoria de Lloyd Shapley, por exemplo, que usa como modelo os casamentos, as pessoas só podem mandar uma proposta por vez. No mercado de trabalho, Carlos sugere aos candidatos conduzir três ou quatro processos de seleção por vez.

“Se as primeiras tentativas não derem certo, a pessoa pode aumentar o número de opções gradualmente, de maneira que consiga se preparar corretamente para cada vaga”, diz Carlos. Para Maria Fernanda, da First Data, o que não pode é arrumar desculpa para não se preparar. Para saber como é a empresa, ela sugere buscar informações sobre os executivos da companhia, a situação do segmento em que ela atua, quem são seus clientes e fornecedores.

Mas será que apenas informações sobre a empresa garantem um casamento feliz? Outra condicionante, segundo Carlos, está bastante relacionada ao networking. Não basta desejar uma empresa, é preciso ser desejado por ela, e a única forma desse desejo ser despertado é ser conhecido por ela. “De acordo com a teoria, as pessoas trocam de par até chegar ao relacionamento estável com o par ideal”, diz Carlos.

“E isso funciona para o emprego também, ou seja, é preciso rodar para conhecer pessoas e se fazer conhecer.” Para Carlos, em situações de empresas em franco crescimento ou mercados com muitas vagas abertas é de se esperar uma rotatividade maior de profissionais.

Isso ocorre porque mais interações precisam acontecer até que se encontre a empresa perfeita. Porém, diz Carlos, depois da turbulência, se as pessoas seguissem as condicionantes, poderiam chegar à estabilidade ao encontrar os pares que mais combinam com elas.

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Sonhar com a empresa mais desejada do mercado é algo com poucas chances de virar realidade. A matemática comprova que preencher uma vaga é um processo mais parecido com um casamento, em que duas partes entram num acordo após se conhecerem bem, do que uma escolha unilateral por parte da empresa ou do candidato.

Segundo o professor Carlos Da Costa, presidente e reitor do Institute of Performance and Leadership (IPL), escola de negócios de São Paulo, o par perfeito não existe no trabalho e esse é o primeiro erro que os candidatos cometem ao buscar uma nova colocação.

“Busque a empresa dos seus sonhos e que sonhe com você”, diz Carlos. Em outras palavras, é preciso ter o pé no chão e buscar um emprego no qual as duas partes fiquem satisfeitas.

A base para a afirmação de Carlos é a Teoria das Alocações Estáveis e do Modelo de Mercado, desenvolvida pelos professores americanos Alvin Roth, da Universidade Harvard, e Lloyd Shapley, da Universidade da Califórnia, vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2012.

A partir da teoria dos jogos, que usa modelos matemáticos para analisar decisões, Lloyd desenvolveu um algoritmo que combina oferta e demanda. Ele partiu do exemplo dos casamentos, propondo uma fórmula que permitiria (em tese) oferecer a cada solteiro de um determinado grupo o melhor parceiro.

Depois, Alvin aplicou a teoria na nomeação de novos médicos em hospitais, de estudantes nas escolas e de receptores de órgãos na fila de transplante. De acordo com Carlos, que estudou com Lloyd durante seu doutorado, é possível fazer uma leitura do mercado de trabalho com base no modelo dos americanos.

Partindo de um cenário hipotético de mercado (veja o quadro Como Funciona a Teoria), um grupo de pessoas elegeria a empresa em que gostariam de trabalhar, ou seja, aquelas que considerassem a melhor opção para elas.


Como cada empresa só chamaria um funcionário, os candidatos precisariam refazer suas decisões até encontrar uma empresa que correspondesse às suas expectativas.

Ao final das seleções, porém, novas rodadas poderiam começar, já que pessoas e empresas mudam. Teoricamente, dessa forma os profissionais estariam menos sujeitos às estabilidades porque estariam onde quisessem e na empresa que mais combinasse com eles.

Para alcançar esse equilíbrio — mesmo que provisório —, empregados e organizações precisam superar algumas etapas. Em primeiro lugar, interromper a busca do par perfeito não significa aceitar a primeira proposta de trabalho. Ao contrário. Segundo Carlos, as pessoas precisam se esforçar para encontrar o melhor emprego possível, e isso requer paciência e sabedoria para saber dizer não.

“Se em um primeiro momento leva mais tempo achar a empresa ideal, depois você aumenta as chances de encontrar um emprego adequado, com menor risco de demissão”, afirma. Para a teoria funcionar, os profissionais precisam ter informações sobre as empresas.

Só assim poderão ter certeza de que a companhia é de fato a que melhor combina com eles. Até aqui todo mundo concorda. Executivos e headhunters ouvidos pela reportagem afirmam que um candidato bem preparado e informado tem maior possibilidade de conquistar um emprego. Sim, parece óbvio, mas na prática essa é a primeira condicionante da teoria a falhar.

“Por incrível que pareça, mesmo oferecendo várias informações sobre o cargo e a empresa ao divulgarmos uma vaga, as pessoas chegam aqui desinformadas e despreparadas”, diz Thiago Panicacci, líder de RH e treinamento da Starbucks Brasil, de São Paulo. Engana-se quem acha que esse despreparo se restringe aos cargos iniciais ou médios.


“Na semana passada entrevistei um candidato que já foi presidente de empresa e chegou aqui sabendo muito pouco sobre a nossa companhia”, diz Maria Fernanda Teixeira, presidente da First Data, empresa de tecnologia para serviços financeiros. “Apesar de conhecê-lo, achei que poderia não dar certo”, diz Maria Fernanda.


Foco é fundamental

A aplicação do modelo matemático da teoria dos jogos também indica que restringir o número de processos seletivos pode ser uma medida eficiente para encontrar um bom emprego.

Na teoria de Lloyd Shapley, por exemplo, que usa como modelo os casamentos, as pessoas só podem mandar uma proposta por vez. No mercado de trabalho, Carlos sugere aos candidatos conduzir três ou quatro processos de seleção por vez.

“Se as primeiras tentativas não derem certo, a pessoa pode aumentar o número de opções gradualmente, de maneira que consiga se preparar corretamente para cada vaga”, diz Carlos. Para Maria Fernanda, da First Data, o que não pode é arrumar desculpa para não se preparar. Para saber como é a empresa, ela sugere buscar informações sobre os executivos da companhia, a situação do segmento em que ela atua, quem são seus clientes e fornecedores.

Mas será que apenas informações sobre a empresa garantem um casamento feliz? Outra condicionante, segundo Carlos, está bastante relacionada ao networking. Não basta desejar uma empresa, é preciso ser desejado por ela, e a única forma desse desejo ser despertado é ser conhecido por ela. “De acordo com a teoria, as pessoas trocam de par até chegar ao relacionamento estável com o par ideal”, diz Carlos.

“E isso funciona para o emprego também, ou seja, é preciso rodar para conhecer pessoas e se fazer conhecer.” Para Carlos, em situações de empresas em franco crescimento ou mercados com muitas vagas abertas é de se esperar uma rotatividade maior de profissionais.

Isso ocorre porque mais interações precisam acontecer até que se encontre a empresa perfeita. Porém, diz Carlos, depois da turbulência, se as pessoas seguissem as condicionantes, poderiam chegar à estabilidade ao encontrar os pares que mais combinam com elas.

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