Ciência

Cometa 3I/ATLAS surpreende cientistas com emissão inédita de raios X

Primeira detecção do tipo mostra como materiais de fora do Sistema Solar reagem ao Sol.

3I/ATLAS: cometa é o terceiro objeto confirmado vindo de fora do Sistema Solar. (Reprodução/International Gemini Observatory/NOIRLab/NSF/AURA/B. Bolin)

3I/ATLAS: cometa é o terceiro objeto confirmado vindo de fora do Sistema Solar. (Reprodução/International Gemini Observatory/NOIRLab/NSF/AURA/B. Bolin)

Ana Dayse
Ana Dayse

Colaboradora

Publicado em 13 de dezembro de 2025 às 18h10.

O cometa interestelar 3I/ATLAS, o terceiro objeto confirmado vindo de fora do Sistema Solar, voltou a surpreender a comunidade científica após ser observado em raios-x por dois grandes observatórios espaciais, o que revelou detalhes inéditos sobre sua composição química e interação com o Sol.

Novas imagens divulgadas pela Agência Espacial Europeia (ESA) mostram que o 3I/ATLAS emite raios-x ao interagir com o vento solar — um fenômeno raro e nunca antes registrado em um objeto interestelar. As observações ampliam significativamente o entendimento sobre materiais formados em outros sistemas estelares.

Entre a noite de 26 de novembro e a tarde de 28 de novembro, o cometa foi observado pela missão Xirsm (X-Ray Imaging and Spectroscopy Mission), operada em parceria pela Agência Espacial Japonesa (Jaxa) e pela ESA. Foi a primeira vez na história que um objeto interestelar foi detectado em raios-x.

Dias depois, em 3 de dezembro, o observatório espacial XMM-Newton, também da ESA, acompanhou o 3I/ATLAS por cerca de 20 horas contínuas, quando ele estava a aproximadamente 283 milhões de quilômetros do Sol. A observação foi realizada com a câmera EPIC-pn, o instrumento mais sensível do telescópio.

Segundo a ESA, o brilho em raios X surge quando gases liberados pelo cometa colidem com partículas carregadas do vento solar, produzindo emissões energéticas detectáveis apenas nesse comprimento de onda.

Raios X revelam gases que telescópios ópticos não detectam

A análise em raios X permite identificar gases considerados “invisíveis” para instrumentos tradicionais. Enquanto telescópios como o James Webb e o SPHEREx, ambos da NASA, já haviam confirmado a presença de vapor d’água, dióxido de carbono (CO₂) e monóxido de carbono (CO), os dados de raios X ajudam a rastrear compostos como hidrogênio molecular (H₂) e nitrogênio (N₂).

De acordo com pesquisadores da JAXA e da ESA, esses elementos são fundamentais para testar hipóteses sobre a formação do cometa e sua origem em outro sistema estelar. A nuvem de gás detectada ao redor do 3I/ATLAS se estende por cerca de 400 mil quilômetros, indicando intensa atividade química.

Brilho esverdeado reforça atividade química do cometa

Além das observações em raios X, novas imagens ópticas captadas pelo telescópio Gemini North, no Havaí, revelaram que o 3I/ATLAS passou a emitir um brilho esverdeado após sua maior aproximação do Sol.

Segundo o NSF NOIRLab (Laboratório Nacional de Pesquisa em Astronomia Óptica e Infravermelha dos EUA), a coloração é causada pela emissão do carbono diatômico (C₂) — uma molécula altamente reativa que brilha em tons verdes quando excitada pela radiação solar.

O programa científico foi liderado pelo pesquisador Bryce Bolin, da Eureka Scientific, em colaboração com o projeto de divulgação Shadow the Scientists.

Criovulcões e semelhanças com objetos do Sistema Solar

Estudos recentes indicam que o 3I/ATLAS apresenta jatos de gelo e poeira, conhecidos como criovulcões, ativados à medida que o calor solar penetra em seu interior. Essas erupções fornecem pistas valiosas sobre sua estrutura interna.

Pesquisadores também apontam semelhanças entre o 3I/ATLAS e objetos transnetunianos, corpos gelados localizados além da órbita de Netuno. Se confirmado, o dado sugere que, apesar de sua origem interestelar, o cometa compartilha características com materiais formados no Sistema Solar.

Um novo laboratório natural vindo de outra estrela

O 3I/ATLAS é apenas o terceiro visitante interestelar já identificado, após 1I/‘Oumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019). Diferentemente de seus predecessores, ele está sendo observado com uma combinação inédita de telescópios ópticos, infravermelhos e de raios X.

Segundo cientistas da Nasa, Esa e Jaxa, o cometa representa uma oportunidade única de estudar, em tempo real, a composição de materiais formados em outros sistemas planetários — algo impossível de reproduzir em laboratório.

À medida que o 3I/ATLAS se afasta do Sol e inicia sua trajetória de saída do Sistema Solar, novas observações devem esclarecer como esses objetos reagem ao resfriamento e se podem apresentar explosões tardias ou liberações adicionais de gases.

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