Cientista reduz o pum da vaca em 30% -- acredite, isso é muito importante
Gases emitidos pelo gado respondem por 50% do efeito estufa; pesquisador passou oito anos estudando as enzimas dos animais
Carla Aranha
Publicado em 15 de julho de 2020 às 14h03.
Última atualização em 16 de julho de 2020 às 11h42.
Depois de oito anos de pesquisa, o cientista Maik Kindermann, líder de pesquisa e desenvolvimento da multinacional holandesa DSM, de nutrição animal e humana, conseguiu criar uma molécula que diminui em 30% a emissão de gases das vacas e bois. O pesquisador passou um bom tempo testando algumas moléculas, naturalmente presentes no organismo do gado, que se ligam a enzimas que produzem a flatulência do rebanho. O trabalho foi supervisionado pelo executivo Mark van-Niewland, responsável pelo projeto Vaca Limpa, que conduz esse tipo de estudo.
Os 1,5 bilhão de vacas e bois do planeta produzem, por dia, mais de 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono, que correspondem a pelo menos 20% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. “Cada vez mais os consumidores valorizam a carne que foi produzida com menos poluentes e não agride tanto o meio ambiente”, disse van-Niewland em entrevista à EXAME.
Os estudos começaram com as moléculas que se ligam a enzimas que só existem no gado e provocam a grande quantidade de puns que os animais produzem. Ele acreditou que haveria uma forma de diminuir o poder dessas enzimas. “Elas não só contribuem para a poluição do meio ambiente e tiram energia do rebanho”, diz. "Isso é algo que não é agradável nem para nós, seres humanos, nem para as vacas".
Após uma longa série de testes em laboratório, os pesquisadores chegaram à conclusão que, ao unir duas moléculas que são importantes no processo de emissão de puns, seria possível reduzir a produção de gases. A partir daí, seguiram-se mais alguns anos de trabalho intenso. Finalmente, foi possível conseguir criar uma nova molécula. A substância exerce um papel importante no processo de desativação de algumas enzimas que são responsáveis pela produção de gases.
O processo continuará a ser aprimorado. “A ideia é que as vacas possam emitir até 70% menos de emissão de gás metano e ajudar ainda mais a diminuir o efeito estufa”, diz o cientista. A nova substância deverá ser acrescentada à ração dos animais. A empresa só aguarda a liberação do produto pela União Europeia e o Ministério da Agricultura no Brasil. “Até o início de 2021, todo esse trâmite deverá estar concluído”, diz van-Niewland. “Estamos caminhando para diminuir os gases do efeito estufa de forma inteligente”.
O lançamento deve chegar em um momento em que o agronegócio brasileiro dá saltos significativos de produtividade e vive o melhor ano de sua história, com excelentes resultados também nas exportações. A expectativa é que a atividade gere 728,6 bilhões de reais este ano, um crescimento de 2,5% em relação a 2019, enquanto outros setores da economia patinam na crise do coronavírus . O agronegócio deverá representar 24% do PIB brasileiro este ano.
"Novidades como a substância que reduz os gases das vacas deverão ser importantes para impulsionar ainda mais as vendas externas de carne do Brasil", diz Maurício Adade, presidente da DSM para a América Latina.
A reportagem completa sobre o crescimento do agronegócio está naedição 1.213da EXAME, disponível em todas as plataformas digitais . Leia aqui .