Ciência

Cientista brasileiro cria minicérebro com gene de Neanderthal

A pesquisa inédita tem o objetivo de compreender as distinções entre os cérebros dos humanos modernos e de seus mais próximos parentes extintos

Pesquisa busca a compreensão da capacidade cognitiva do cérebro do Homo sapiens (Pierre Andrieu/AFP)

Pesquisa busca a compreensão da capacidade cognitiva do cérebro do Homo sapiens (Pierre Andrieu/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de julho de 2018 às 11h59.

Última atualização em 16 de julho de 2018 às 12h00.

São Paulo - Nos Estados Unidos, um cientista brasileiro combinou um conjunto de avançadas tecnologias para produzir em laboratório minicérebros com o material genético do homem de Neanderthal. A pesquisa inédita tem o objetivo de compreender as distinções entre os cérebros dos humanos modernos e de seus mais próximos parentes extintos, a fim de tentar compreender como surgiu a capacidade cognitiva que torna o cérebro do Homo sapiens tão especial.

O autor do estudo, que foi destaque em uma reportagem publicada na revista Science, é o geneticista Alysson Muotri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórina em San Diego (Estados Unidos) e diretor do programa de células-tronco da universidade. Os resultados, ainda não publicados, foram apresentados em um congresso na Califórnia.

"O objetivo final desses estudos é entender o que nos torna humanos, isto é, quais são as alterações genéticas que, ao longo da evolução, tornaram o cérebro humano diferente de qualquer outra espécie", disse Muotri ao jornal O Estado de S. Paulo.

O trabalho envolveu ferramentas de três áreas que vêm revolucionando a ciência: os estudos sobre DNA antigo, a tecnologia "Crisper" de edição do genoma e os organóides celulares - ou minicérebros - que são estruturas construídas a partir de células-tronco para simular o desenvolvimento cerebral.

Em comparação aos minicérebros feitos com células humanas, os que foram criados a partir do DNA Neanderthal - e que simulam aspectos do desenvolvimento do córtex cerebral da espécie extinta- apresentaram um formato distinto e diferenças em suas redes neurais. "Algumas dessas diferenças podem ter influenciado a capacidade dos Neanderthais para a socialização - que é uma das características especiaisdo cérebro humano", afirmou Muotri.

O DNA neanderthal foi extraído pela primeira vez em 2010 e o genoma da espécie foi sequenciado. Segundo Muotri, certas regiões do genoma neanderthal ainda existem na população humana, enquanto outras partes foram eliminadas por seleção natural. Usando ferramentas genômicas, o pesquisadore selecionou genes que só existiam nos neanderthais e que estavam relacionados ao desenvolvimento dos neurônios. "Decidimos então criar minicérebros com um dos genes neanderthais para avaliar a importância dessas diferenças genéticas.

"A equipe do cientista reprogramou células da pele humana para que elas se convertessem em células-tronco, que foram usadas para gerar os minicérebros. A ferramenta de edição de DNA foi usada para inserir no organóide uma das modificações encontradas no genoma neanderthal. Essa única modificação, segundo ele, afetou os minicérebros, que apresentaram diferenças em suas estruturas.

"Os neurônios que derivam dessas células apresentam uma redução em sua atividade. É muito provável que os neurônios dos neanderthais fizessem um número de sinapses menor do que o observado nos humanos modernos", disse. Segundo ele, as conclusões sobre como seria o cérebro neanderthal ainda são especulativas, mas o estudo mostra que as ferramentas podem ser usadas para avançar nessa direção. "Gosto de chamar esses estudos de neuroarqueologia. Como os arqueólogos, não vamos conseguir reconstruir o passado, mas vamos reunindo evidências que vão aprimorando as teorias." 

Acompanhe tudo sobre:BrasilDNAGenomaPesquisas científicas

Mais de Ciência

Cientistas constatam 'tempo negativo' em experimentos quânticos

Missões para a Lua, Marte e Mercúrio: veja destaques na exploração espacial em 2024

Cientistas revelam o mapa mais detalhado já feito do fundo do mar; veja a imagem

Superexplosões solares podem ocorrer a cada século – e a próxima pode ser devastadora