Ciência

Cachorros entendem o que os humanos falam — e mais do que você imagina

Em um experimento conduzido por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, os cães ouviram palavras previamente treinadas enquanto observavam objetos. Veja o que aconteceu

Cachorros: saiba como seu pet pensa (Freepik)

Cachorros: saiba como seu pet pensa (Freepik)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 9 de dezembro de 2025 às 05h01.

Se você chama o cachorro pelo nome e ele vem correndo, talvez ache que ele entendeu perfeitamente. Mas o que de fato ele compreendeu? Pesquisas recentes indicam que os cães não apenas associam sons a comandos, mas são capazes de formar representações mentais das palavras que ouvem — um salto significativo em relação ao que se sabia sobre cognição animal.

Em um experimento conduzido por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, os cães ouviram palavras previamente treinadas enquanto observavam objetos. Em alguns casos, o objeto correspondia à palavra (“bola” e uma bola), em outros, não (“bola” e um boneco). O cérebro dos cães reagiu de maneira distinta nos casos de incongruência, registrando uma atividade semelhante ao efeito N400, conhecido na neurociência humana como um marcador de violação semântica.

Esse resultado sugere que, ao ouvir uma palavra conhecida, os cães acessam uma imagem mental do que esperam ver — e demonstram surpresa quando isso não acontece. Segundo Enikő Kubinyi, responsável pela pesquisa, o estudo indica uma capacidade de compreensão referencial: os cães não apenas ouvem, mas “entendem”.

Associação ou compreensão?

Desde o início dos estudos em cognição canina, uma das principais questões é se os cães respondem por condicionamento ou se desenvolvem algum nível de entendimento semelhante ao humano. Essa diferença define a fronteira entre simples repetição de estímulos e cognição avançada.

O consórcio internacional ManyDogs, que reúne pesquisadores da área, testou a resposta de cães ao gesto de apontar, com e sem estímulos sociais, como contato visual e uso do nome do animal. O resultado mostrou que os cães reagiram da mesma forma nos dois cenários, sugerindo que o gesto em si, e não os sinais sociais, guiava o comportamento — o que reforça a hipótese de aprendizado por associação.

No entanto, a pesquisa com EEG oferece um contraponto. Ao observar uma resposta neural semelhante à humana em contexto de linguagem, os cientistas sugerem que ao menos parte do vocabulário canino é entendido com algum grau de significado.

Quantas palavras os cães podem aprender?

Alguns cães considerados “superdotados” já demonstraram capacidade de reconhecer centenas de palavras. Em um estudo clássico da Universidade de Leipzig, um cão da raça border collie foi treinado para identificar mais de 200 brinquedos diferentes pelo nome — e acertava com alta precisão.

Esses animais representam exceções. No geral, a maioria dos cães aprende entre 10 e 40 palavras, dependendo da exposição e da repetição. O desafio está em saber se o cão realmente entende o que a palavra representa ou se apenas responde por hábito.

Para investigar isso, pesquisadores utilizam o chamado paradigma de violação semântica, o mesmo usado em testes com bebês humanos e primatas. Quando um cão ouve “bola” e vê um osso, a diferença entre expectativa e realidade ativa áreas específicas do cérebro, indicando um processamento mais profundo da linguagem.

Treinamento, repetição e limites

Mesmo com os avanços, os cientistas alertam que o entendimento canino tem limites. A estrutura cerebral dos cães não é igual à humana e a linguagem, para eles, ainda depende de contexto, tom e reforço. Palavras isoladas são menos eficazes do que frases curtas e comandos acompanhados de gestos.

Treinos que envolvem nomeação de objetos e alternância entre estímulos podem aumentar a capacidade do cão de formar associações sólidas. Um dos métodos mais eficazes envolve o reforço positivo imediato ao nomear e entregar um objeto, seguido por testes em que o animal deve escolher entre duas opções.

A ciência ainda investiga se os cães conseguem, por exemplo, inferir significados novos a partir de palavras desconhecidas — algo que já foi observado em experimentos pontuais, mas que exige confirmação em amostras maiores.

Acompanhe tudo sobre:Pesquisas científicasCachorros

Mais de Ciência

Seu cachorro julga você — e a ciência provou

Brasileiro é um dos 10 cientistas mais importantes de 2025 da Nature

Einstein ou Bohr? Século depois, física dá resposta com experimento inédito

Teoria mais abstrata da matemática virou arma secreta para tecnologia