"Biblioteca" de vulcões pode ajudar a prever explosões futuras
Estudar o passado das explosões vulcânicas pode dar pistas de como interpretar os sinais de uma atividade vulcânica intensa no futuro, mostra novo estudo
Vanessa Barbosa
Publicado em 25 de maio de 2018 às 08h35.
São Paulo – A mais recente onda de temor e prejuízos provocados pela erupção do vulcão Kilauea, no Havaí, mostra o quão urgente é a necessidade de prever com antecedência e eficácia uma explosão violenta, a tempo de salvar vidas e reduzir danos materiais.
Estudar o passado das explosões vulcânicas pode dar pistas de como interpretar os sinais de uma atividade vulcânica intensa no futuro. É o que sugere uma pesquisa realizada por vulcanologistas da Universidade de Leeds, na Islândia, e do British Geological Survey (Instituto Geológico Britânico), que resolveu analisar os cristais vulcânicos da erupção do Eyjafjallajökull em 2010, para reconhecer os sinais pré-eruptivos.
Para isso, eles estudaram os padrões químicos dos cristais lançados na atmosferadurante os primeiros estágios da erupção do vulcão, ao longo de março e abril de 2010.Antes de uma erupção, ocorrem alterações naestrutura química do magma, que é a rocha líquida que será expelida, com uma maior formação de cristais na região onde se acumula a rocha líquida no interior do vulcão, chamada de câmara magmática.
O interessante é que esses cristais contêm variações químicas que registram as mudanças de condições do ambiente, e também registram o tempo decorrido. Ao "ler" esse registro do tempo, os cientistas conseguem saber onde e comoo magma se movia e se cristalizava antes e durante a erupção.
No caso do vulcão islandês Eyjafjallajökull, como a erupção foi bem monitorada, os geólogos souberam precisamente quando suas amostras foram expelidas dentro de uma janela de erupção de seis horas.Analisando os registros nos cristais e trabalhando desde o momento da erupção, eles puderam ler a história do magma no tempo e espaço, o que lhes permitiu interpretar como o vulcão se comportou e o magma se acumulou nos seis meses anteriores.
A reconstrução levou em conta análises do que estava acontecendo abaixo do solo e observações feitas na superfície. O estudo foi publicado no periódico científico Earth and Planetary Science Letters.
Segundo os cientistas, as mesmas técnicas poderiam ser aplicadas a outros vulcões, criando uma "biblioteca" de histórias de vulcões, o que poderia melhorar em muito a compreensão da fase crítica e pré-eruptiva da atividade vulcânica, que é fundamental para fazer previsões precisas de erupções.
"'As maiores questões relativas ao impacto do vulcanismo são sempre "quando vai entrar em erupção?', "Como podemos saber?" e "vamos ter tempo suficiente para responder?" Uma biblioteca abrangente da atividade de um vulcão no passado poderia percorrer um longo caminho para responder a essas questões no futuro"', disse Matt Pankhurst, cientista que conduziu a pesquisa na Universidade de Leeds,em material de divulgação da universidade.