“Baseado em ciência”: termo é banido de agência de saúde dos EUA
A administração do presidente Donald Trump proibiu o uso de sete palavras nos documentos orçamentários de sua agência de saúde pública
Gabriela Ruic
Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 16h22.
Última atualização em 16 de dezembro de 2017 às 16h28.
São Paulo – Em um movimento surpreendente, a administração do presidente Donald Trump editou uma lista composta por sete palavras que estão banidas de serem usadas nos documentos orçamentários do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC). A informação veio à tona no fim da tarde de ontem, divulgada primeiro pelo jornal The Washington Post.
Segundo a publicação, funcionários da maior agência de saúde pública dos EUA receberam a notícia durante uma reunião com o alto escalão que durou 90 minutos. A partir de agora, os seguintes termos não poderão ser usados na edição do orçamento do CDC para o ano que vem: “vulnerável“, “direito“, “transgênero“, “feto“, “baseado em evidências“, “baseado em ciência” e “diversidade“.
No caso dos termos “baseado em evidências“ e “baseado em ciência”, uma fonte ouvida pela publicação disse que os oficiais ofereceram uma alternativa: “O CDC fundamenta as suas recomendações em ciência e em consideração com os padrões e desejos da comunidade”. A reação dos presentes, continuou a fonte ao jornal, foi de incredulidade.
O CDC é composto por vários escritórios que trabalham com temas cujas palavras banidas são de extrema relevância, como aqueles focados em saúde sexual e reprodutiva. Uma das pesquisa que a agência conduz especificamente sobre o vírus da Zika é sobre o desenvolvimento da doença em fetos. Não há sugestões de outros termos a serem usados nestes casos.
Organizações de defesa de direitos das mulheres e da comunidade LGBT reagiram à notícia. Segundo a porta-voz da Planned Parenthood, instituição que foca em cuidados de saúde reprodutiva, disse que “está mais claro do que nunca: essa administração desdenha da saúde das mulheres, da população LGBT e da saúde desde o dia 1”.
“Como vamos lutar contra o Zika ou melhorar a saúde para as mulheres e os fetos se não podemos usar essa palavra?”, questionou.
“Fingir que as pessoas transgênero não existem, e permitir que isso influencie a pesquisa em saúde pública e prevenção é irracional e muito perigoso“, disse Mara Keisling, diretora do Centro Nacional para a Igualdade Trans. “A administração Trump está cheia de negadores da ciência que não deveriam chegar perto do sistema de saúde. Eles vão matar americanos”, continuou.
A questão causou polêmica nos Estados Unidos e a gestão republicana voltou a ser comparada com a distopia “1984”, do escritor George Orwell. Publicado em 1949 , o livro trata de uma sociedade nos quais fatos são distorcidos e o Ministério da Verdade fica encarregado de determinar o que é falso e o que é verdadeiro. Desde que Trump assumiu a presidência, a obra é presença frequente na lista de “mais vendidos” na Amazon.