Ciência

"Au revoir" Paris? 2018 registra 4ª maior alta de CO2 na atmosfera

Um sinal de que o mundo não está agindo para frear as emissões de CO2 e mitigar as mudanças climáticas, como prevê acordo global pelo clima

Emissões: a cada ano, produzimos mais CO2 do que a Terra consegue absorver. (Lukas Schulze/Getty Images)

Emissões: a cada ano, produzimos mais CO2 do que a Terra consegue absorver. (Lukas Schulze/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 25 de março de 2019 às 15h20.

Última atualização em 25 de março de 2019 às 15h29.

São Paulo - A concentração de gases do efeito estufa liberados na atmosfera da Terra durante o ano 2018 atingiu o quarto maior nível já observado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), desde que os registros começaram, há 60 anos.

Os cientistas medem regularmente a abundância de dióxido de carbono (CO2) em amostras atmosféricas coletadas no Observatório Mauna Loa, no Havaí.

Segundo uma nova análise do observatório, a concentração de CO2 subiu 2,87 partes por milhão (ppm) ao longo do ano passado, saltando de uma média de 407,0 ppm em 1º de janeiro de 2018 para 409,9 ppm em 1º de janeiro de 2019. 

Três dos quatro maiores aumentos anuais registrados ocorreram nos últimos quatro anos (de 2015 a 2018), um sinal de que o mundo não está agindo para frear as emissões de CO2 e mitigar as mudanças climáticas, como prevê o Acordo do Clima de Paris. 

"No momento em que há toda essa conversa sobre como deveríamos estar diminuindo as emissões, a quantidade de CO2 que estamos colocando na atmosfera está claramente aumentando", disse Pieter Tans, cientista sênior da Divisão de Monitoramento Global da NOAA.

O aumento observado em 2018 ficou atrás apenas do salto recorde de 2016 de 3,01 ppm, do aumento quase recorde de 2,98 ppm em 2015 e da alta de 2,93 ppm em 1998.

Quanto mais demorarmos para frear as emissões, mais difícil será lidar com os impactos ambientais de um planeta aquecido, de secas severas a inundações extremas.

Pelo Acordo de Paris, assinado em 2015, os países signatários devem atingir a meta de limitar o aquecimento do Planeta a no máximo 2 graus Celsius (ºC) até o final do século, acima do níveis pré-industriais, ou no cenário ideal, a 1,5 ºC. 

Sem trégua: gráfico mostra concentrações crescentes de dióxido de carbono na atmosfera (em partes por milhão).

Sem trégua: gráfico mostra concentrações crescentes de dióxido de carbono na atmosfera (em partes por milhão). (NOAA)

Por que isso é importante?

A cada ano, as atividades humanas produzem mais CO2 do que os processos naturais podem absorver. Isso significa que o valor líquido de dióxido de carbono atmosférico nunca diminui. Assim, o acúmulo anual do gás segue subindo a medida que população mundial queima mais e mais combustíveis fósseis, como carvão e petróleo para geração de energia.

O dióxido de carbono é, de longe, o mais importante entre os gases de efeito estufa, tanto na quantidade total quanto na taxa de aumento. Nas últimas duas décadas, a taxa de aumento de CO2 foi aproximadamente 100 vezes mais rápida do que os aumentos ocorridos de forma natural durante a última era glacial (entre 11.000 de 17.000 anos atrás).  

"A alta acelerada de CO2 na atmosfera hoje em dia é dominada por atividades humanas", disse Tans. "Não é de causas naturais".

Transição energética estagnada

Os novos dados sobre o aumento das concentrações de CO2 coincidem com a divulgação de um estudo preocupante do Forum Econômico Mundial, que alerta: a transição energética global estagnou, em parte devido ao uso contínuo de energia a carvão em todo o mundo e ao lento progresso dos países em eficiência energética.

A constatação é do relatório “Promovendo a energia eficaz de Transição”, divulgado nesta segunda-feira (25). Limitar o aquecimento global depende de uma transição rápida de combustíveis fósseis para fontes de energia mais sustentáveis, como eólica e solar.

Mas enquanto Europa e América do Norte se distanciam do carvão, muitos países na Ásia continuam a depender dessa fonte poluente para atender à crescente demanda por energia de suas populações. 

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