Aquecimento global: perda de pergelissolo no Ártico pode custar trilhões de dólares (Joe Raedle/Bloomberg)
Maria Eduarda Cury
Publicado em 27 de abril de 2019 às 05h55.
Última atualização em 27 de abril de 2019 às 05h55.
São Paulo - Um estudo divulgado nesta semana pela Universidade de Lancaster, Inglaterra, apontou que a perda acelerada do pergelissolo do Ártico - solo constituído por gelo, terra e rocha sempre congelados -. juntamente com o aumento da absorção solar pela superfície da Terra vão acelerar a mudança do clima mundial, além de ter um impacto de trilhões de dólares na economia mundial.
Com o Acordo de Paris, firmado para reduzir o aquecimento global desenfreado, ao impedir que a temperatura ultrapasse o nível de 1,5ºC a partir de 2020. Com isso, o impacto econômico que seria de quase 70 trilhões de dólares - caso alcançasse 3ºC - cai para 25 trilhões. Em ambos os casos, o fator culpado pelos custos adicionais é o carbono emitido pelo derretimento do solo Ártico.
Pesquisadores estudaram simulações de modelos complexos de última geração para estimar a força que a emissão de carbono pelo pergelissolo possui sobre a superfície, à medida que o gelo do mar branco e a cobertura de neve da terra diminuem, deixando o oceano e a terra cada vez mais escuros.
O resultado desses estudos foi uma taxa constante de SAF (feedback da radiação solar que incide sobre a superfície) e zero PCF (feedback da emissão de carbono pelo pergelissolo). No entanto, observações recentes indicam que o PCF apresenta taxas maiores e que ambos são não-lineares, tendo sua força alterada de maneiras complexas conforme a temperatura muda.
O autor do estudo, Dmitry Yumashev, da Universidade de Lancaster, afirma: "O gelo do oceano Ártico e a neve presente na Terra contribuem para cerca de um terço, cada um, para o feedback global da radiação solar sobre a superfície"; disse, em comunicado. Comparada com zero PCF e um constante SAF dos valores climáticos atuais, a combinação não-linear de ambos causa um aquecimento extra significante, em âmbito global, sobre baixas e médias emissões nesses cenários.
As baixas emissões presentes no estudo respeitam o limite de 1,5ºC a 2ºC estabelecido pelo Acordo de Paris, enquanto as emissões médias incluem níveis atenuantes e consistentes com a promessa nacional de não ultrapassar 3ºC.
Espera-se que os cenários de altas emissões de carbono cheguem a uma temperatura de 4ºC, e causem, de longe, o maior impacto nos ecossistemas e nas sociedades; em relação a esses impactos, a força do PCF alcança seu pico e não aumenta mais, enquanto o enfraquecimento contínuo do SAF cancela, gradualmente, o efeito aquecedor do PCF.
Em todos os cenários, utilizando os feedbacks não-lineares, o custo da adaptação climática e dos resíduos climáticos causa um impacto: o crescimento ocorre, primeiramente, por impactos na economia, no ecossistema e na saúde humana direcionados pelo aumento da temperatura, além de impactos adicionais pelo aumento do nível do mar.
Com estimativas prévias para os feedbacks no Ártico, o custo total para a mudança climática associada com os limites de temperatura estabelecidos pelo Acordo de Paris encontra-se por volta de 600 trilhões de dólares, enquanto sem os limites do Acordo o custo sobe para 2.000 trilhões. Yumashev adiciona: "Nossas descobertas confirmam a necessidade de medidas de mitigação mais pró-ativas para manter a elevação da temperatura global bem abaixo de 2ºC" .
A pesquisa faz parte do projeto ICE-ARC, que é financiado pelo 7º Programa-Quadro da União Europeia.