Calor: estudos apontam para verões cada vez mais quentes no planeta (Thilo Schmuelgen/Reuters)
AFP
Publicado em 19 de agosto de 2019 às 17h09.
Os verões do hemisfério norte trarão ondas de calor perigosamente mais longas, secas e chuvas fortes mesmo que a humanidade consiga limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius, disseram cientistas nesta segunda-feira, 19.
Com 1ºC de aquecimento dos tempos pré-industriais até agora, o clima extremo desse tipo já se tornou mais intenso, com uma única onda de calor em 2003 levando a 70.000 mortes somente na Europa.
Mas o novo estudo, publicado na revista Nature Climate Change, é o primeiro a quantificar quanto tempo a mais esses eventos durarão se as temperaturas subirem mais um grau Celsius.
"Nós pudemos ver uma mudança significativa nas condições climáticas do verão", disse o autor principal do estudo, Peter Pfleiderer, pesquisador na Universidade Humboldt, em Berlim.
"O clima extremo se tornaria mais persistente - períodos quentes e secos, bem como dias consecutivos de chuva forte seriam mais longos", acrescentou.
Mesmo pequenos aumentos na duração de eventos climáticos extremos podem ter impactos devastadores na saúde humana, produção de alimentos, biodiversidade e crescimento econômico.
Durante a onda de calor de 2018 na Europa, por exemplo, vários períodos quentes e secos levaram a perdas de 15% no rendimento do trigo na Alemanha.
Nos Estados Unidos, os últimos 12 meses foram os mais chuvosos já registrados, com grandes áreas paralisadas por chuvas contínuas e inundações.
O estudo analisou as mudanças no sistema climático do hemisfério norte que podem estar gerando um clima mais extremo.
"Os modelos climáticos mostram um enfraquecimento sistemático da circulação atmosférica em grande escala no verão - incluindo as correntes de jato e tempestades - à medida que o planeta aquece", disse o coautor Dim Coumou, pesquisador da Universidade Livre de Amsterdã.
"O aumento da persistência do clima pode estar ligado a um enfraquecimento dessa circulação", acrescentou.
À medida que ela desacelera, condições quentes e secas podem se desenvolver nos continentes. Ao mesmo tempo, furacões e tufões podem persistir por mais tempo em um lugar.
De acordo com as novas descobertas, a chance de períodos quentes prolongarem-se por mais de duas semanas em um mundo 2ºC mais quente aumentará em 4% em relação a hoje, com aumentos ainda maiores no leste da América do Norte, na Europa central e no norte da Ásia.
Condições similares à seca com mais de 14 dias de duração se tornarão 10% mais prováveis na região central da América do Norte.
E períodos de chuvas fortes sustentadas aumentarão mais de 25% em toda a zona temperada do norte.
Todos esses impactos seguiriam secas mais intensas, chuvas fortes e ondas de calor, como as temperaturas recorde que foram registradas em grande parte do hemisfério norte em junho e julho deste ano.
"Para um aquecimento acima de 2ºC, esperamos ainda mais extremos de persistência de calor", disse o coautor Carl-Friedrich Schleussner, chefe de ciência climática e impactos na Climate Analytics, em Berlim, à AFP.
"Tendo em mente que o ritmo lento atual de redução de emissões coloca o mundo no caminho para +3ºC, nosso estudo ressalta a necessidade de uma ação urgente".
Sob o Acordo de Paris de 2015, o mundo se comprometeu a limitar o aquecimento globa "bem abaixo" de 2ºC e, se possível, de 1,5ºC.
"Limitar o aquecimento a 1,5ºC reduziria consideravelmente os impactos do clima extremo do verão", disse Schleussner.
Muitos cientistas, no entanto, dizem que a meta de 1,5ºC não está mais ao alcance - as emissões de CO2 subiram para novos recordes nos últimos dois anos e estão caminhando para fazer isso novamente em 2019.