A trajetória do cometa projetada em coordenadas galácticas e o mapa de raios X de todo o céu obtido com o MAXI. No detalhe, imagens ópticas (DSS) e de raios X (eROSITA) com o campo de visão do XRISM sobreposto. (JAXA/DSS/eROSITA/MAXI/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 14 de dezembro de 2025 às 09h57.
O cometa interstelar C/2025 N1 (3I/ATLAS) se tornou um dos objetos mais intrigantes já estudados pela astronomia moderna.
Além de ser um cometa vindo de outra galáxia, foi identificado que o objeto emite raios-x. A missão japonesa XRISM registrou, a partir da observação com a radiação, um "brilho" ao redor do objeto celeste. O 3I/ATLAS é o primeiro objeto interestelar ter essa característica.
Descoberto em 1º de julho de 2025, o 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar confirmado, seguindo os passos de ʻOumuamua e Borisov. De acordo com a XRISM, sua passagem oferece uma oportunidade científica praticamente única: analisar materiais que não se formaram no Sistema Solar.
Cometas locais já são conhecidos por emitirem raios-x. O fenômeno foi descoberto em 1996, com o cometa Hyakutake, e confirmado várias vezes desde então. Mas, até agora, nenhum cometa interestelar havia revelado emissões desse tipo.
A equipe da XRISM conduziu uma operação de emergência, um "Target of Opportunity", entre 26 e 28 de novembro de 2025. Foram 17 horas de observação contínua, ajustando a orientação do satélite 14 vezes para seguir o objeto na constelação de Virgem.
Como o telescópio Xtend não pode mirar muito perto do Sol, o monitoramento só foi possível quando o cometa se afastou o suficiente do periélio.
O cuidado técnico rendeu resultados: a imagem reconstruída mostrou uma névoa de raios-x que se estende por cerca de 400 mil quilômetros ao redor do núcleo.
Em comunicado, a XRISM explica que o cometa libera gases quando sua superfície gelada aquece. Esses gases encontram o vento solar, rico em partículas carregadas. O choque entre os dois ambientes gera uma reação de troca de carga, capaz de emitir raios-x característicos.
O espectro captado pelo Xtend mostra sinais de carbono, nitrogênio e oxigênio em padrões que não podem ser atribuídos ao fundo difuso da Via Láctea ou à atmosfera terrestre.
XRISM divulgou os resultados preliminares em 3 de dezembro no The Astronomer’s Telegram, plataforma de alertas rápidos da comunidade astronômica.
Enquanto isso, observatórios terrestres detectaram o primeiro sinal de rádio emitido por 3I/ATLAS, encerrando debates sobre sua natureza.
Segundo a revista Wired, o registro confirmou que o objeto realmente se comporta como um cometa ativo, reforçando o que os dados de raios-x já sugeriam.
Com equipes internacionais preparando novas campanhas de observação, os dados iniciais da XRISM tornaram-se referência. A missão japonesa continuará refinando os resultados para entender como um cometa oriundo de outro sistema estelar reage ao vento solar e por que sua atividade parece tão intensa.
Se confirmado, o brilho de raios-x do 3I/ATLAS marcará um avanço histórico: o primeiro registro desse tipo em um visitante interestelar. Para a astronomia, é a chance rara de estudar, em tempo real, um pedaço de outro mundo atravessando o nosso.
O dia mais aguardado desta visita cósmica será em 19 de dezembro deste ano, quando o cometa atingirá seu ponto de maior aproximação da Terra. Apesar disso, não haverá risco de colisão: ele passará a uma distância segura, permitindo observações privilegiadas. Astrônomos estimam que o brilho pode aumentar nesse período, possibilitando registros detalhados de sua composição e comportamento.
Observações posteriores descartaram qualquer risco de impacto nos próximos 100 anos, mas a passagem continua sendo um evento histórico. O asteroide será visível a olho nu em algumas regiões do globo. [/grifar]
Após essa passagem, 3I/ATLAS seguirá sua rota de saída. A partir de 2026, o cometa deixará gradualmente o Sistema Solar, acelerando rumo ao espaço.