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Você prefere ser Michael Jordan ou Scottie Pippen?

Em Arremesso Final, série da Netflix, Jordan é genial, porém arrogante e egoísta; Pippen, excepcional, prega a humildade e joga para o coletivo

Michael Jordan e Scottie Pippen: lendas em ação no Chicago Bulls (Kent Smith/Getty Images)

Michael Jordan e Scottie Pippen: lendas em ação no Chicago Bulls (Kent Smith/Getty Images)

Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 26 de maio de 2020 às 09h00.

Última atualização em 26 de maio de 2020 às 09h28.

“Eu nunca teria encontrado um companheiro de tandem como ele”, diz Michael Jordan, em determinado momento da série Arremesso Final, referindo-se a uma bicicleta de dois lugares e, claro, a Scottie Pippen. “Quando falam de Michael Jordan, deveriam falar também de Scottie Pippen. Nunca teria ganhado os torneios sem ele.”

O documentário em dez episódios narra a última temporada do time de basquete Chicago Bulls com a geração de Jordan, Pippen e Dennis Rodman com o treinador Phil Jackson, em 1998, e está disponível na Netflix. Àquela altura, o time vinha de cinco conquistas desde 1991 – na verdade, foram os únicos títulos da NBA dos touros de Chicago.

Mas o time já estava desgastado e se falava abertamente na despedida do elenco. Sabendo que não estariam lá no ano seguinte, o treinador Phil Jackson distribuiu então aos jogadores um manual com orientações para aquela última temporada chamado Last Dance, a última dança, que vem a ser o título original do documentário.

A estrela maior da equipe era Jordan, um jogador tão genial quanto fanfarrão. Uma mostra de sua maestria está no próprio encerramento do campeonato. O título veio no jogo final após uma cesta a cinco segundos do encerramento, que garantiu a vitória pela diferença de um ponto. É o tal Arremesso Final da tradução do nome da série.

Michael Jordan: genialidade e arrogância (Kent Smith)

O depoimento de Jordan sobre Scottie citado no começo do texto foi uma exceção, um momento raro de humildade. Porque o que transparece nas quase dez horas da série é um comportamento agressivo, ególatra. Fica a ideia de que Jordan só conseguiu ser Jordan ao criar um personagem.

Jordan é retratado no documentário como a peça central daquele excepcional time do jeito que ele é: magistral em quadra, capaz de jogadas inacreditáveis com a bola laranja nas mãos. Também é extremamente competitivo e focado nos resultados, características talvez necessárias para quem quer chegar ao topo. Mas prepotência e egoísmo não são ingredientes essenciais nessa equação.

Já Pippen aparece um jogador que atuava pelo coletivo e, em última instância, o escudeiro de Jordan, a escada para o companheiro brilhar. As estatísticas da última temporada resumem seu papel. Ele foi o segundo em pontos marcados, o segundo em rebotes, o segundo em minutos jogados no time. E foi o primeiro em assistências e o primeiro em bolas roubadas. O problema vem a seguir: Pippen ganhava apenas o sexto maior salário do Chicago Bulls e o 122º da NBA.

O motivo foi um contrato assinado por Pippen logo ao chegar no Chicago Bulls, que se mostrou defasado à medida em que o time ganhava títulos e patrocínios. Apesar da qualidade de jogo excepcional, Pippen passou a ser muito mal pago em comparação com seus colegas de liga, e isso criou um visível desconforto nos vestiários do time.

Scottie Pippen: descontentamento pelo salário baixo (Scott Cunningham)

Em uma cena da série, durante uma entrevista coletiva antes de uma partida na temporada final, um jornalista toca no assunto. “Meu dia vai chegar”, responde Pippen. “Sei que sou um dos melhores jogadores do basquete.” Quando perguntado sobre o depoimento do companheiro de time, Jordan rebate: “Vamos falar do jogo ou de Pippen?”.

Segundo um repórter do Washington Post, “Pippen era o Robin menos apreciado e menos valorizado do Batman.” O descontentamento de uma década atrás ressurgiu depois da estreia da série. Na semana passada, o jornalista David Kaplan, da ESPN, afirmou em seu programa de rádio que Pippen estava chateado com Jordan por ter sido retratado como egoísta.

Um episódio, especificamente, desagradou a Jordan. Descontente com os baixos rendimentos, Pippen resolveu se submeter a uma cirurgia assim que a temporada de 1998 teve início. Poderia ter optado por fazer durante as férias, mas foi sua forma de protestar. Dessa forma, desfalcou o time no importante momento da arrancada para o título.

Segundo o jornalista da ESPN, Pippen não percebeu o tom do documentário até ver o resultado final. Na quadra, o descontentamento do jogador aumentou depois dos três primeiros títulos dos Bulls na NBA, quando Jordan decretou sua precoce aposentadoria e foi jogar beisebol. Quem assumiu o protagonismo da franquia então foi Pippen. Foi o momento em que teve seu melhor desempenho.

Jordan teria sido o jogador que foi sem Pippen? O Chicago Bulls teria ganhado seis títulos quase consecutivos? Provavelmente as duas respostas são negativas. O que só melhora o enredo e aumenta o interesse pela série da Netflix.

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