Casual

Viradouro e Mangueira enfrentam chuva e falha de som

Mais tradicional e mais rica, a Mangueira conseguiu contornar os problemas apostando na emoção extraída de seu enredo autorreferente e dos seus símbolos

Desfile da escola de samba Mangueira no Carnaval do Rio de Janeiro de 2015 (Tata Barreto/ Riotur/Fotos Públicas)

Desfile da escola de samba Mangueira no Carnaval do Rio de Janeiro de 2015 (Tata Barreto/ Riotur/Fotos Públicas)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2015 às 05h34.

Rio - A chuva forte e o sistema de som vacilante atrapalharam as duas escolas que abriram os desfiles do Grupo Especial do Rio, neste domingo, dia 15. 

A Viradouro sofreu com pelo menos sete paradas do sistema de som e desfilou sob muita água. Já a Mangueira entrou com chuva um pouco menos forte, mas persistente, e também foi afetada pelo som do sambódromo - que já havia se mostrado problemático durante os desfiles da segunda divisão, na sexta e no sábado.

Mais tradicional e mais rica, a Mangueira conseguiu contornar os problemas apostando na emoção extraída de seu enredo autorreferente, e das alusões aos seus símbolos, evocados no samba-enredo: as matriarcas Dona Zica (mulher de Cartola) e Dona Neuma (filha de um dos fundadores), ambas já falecidas, o jequitibá que lhe serve de apelido ("jequitibá do samba"), os trechos de composições de Cartola ("divina dama", "alvorada").

Os componentes driblaram as falhas do som cantando bem alto o samba, em especial o refrão simples e cheio de brios: "Eu vou cantar a vida inteira/ pra sempre Mangueira/ tem que respeitar".

A escola foi enxugada esse ano, para que o desfile saísse mais barato. Saiu com cerca de quatro mil componentes - já chegou a ter mil a mais -, o que rendeu leveza às alas.

"A Mangueira é mais Mangueira quando fala de si mesma" - foi o lema traçado para o desfile desse ano. O carnavalesco Cid Carvalho o seguiu à risca "vestindo" a escola de verde e rosa, em variados tons, e distribuindo ícones da Mangueira pelos setores.

O carro que representava as cantoras Alcione, Beth Carvalho, Rosemary e Leci Brandão foi bastante saudado pelo público. Alcione, que demonstrou tensão por conta da chuva ao chegar ao carro, acabou machucando o pé e foi retirada da avenida de cadeira de rodas.

A comissão de frente, a cargo do coreógrafo Carlinhos de Jesus, alusiva à Vó Luciola, parteira lendária do Morro da Mangueira, já prenunciava o desfile emotivo e afetivo, mas de carros pouco luxuosos e sem os efeitos especiais das escolas milionárias.

Na concentração, o presidente, Chiquinho da Mangueira, tentava não demonstrar apreensão quanto à chuva, ainda que a água chegasse ao tornozelo dos componentes.

"Deus dá o que a gente pede. Não pedimos tanto a chuva? Não posso reclamar, com tanta gente por aí passando sede. Até porque em 1968 a Mangueira foi bicampeã na Avenida Presidente Vargas debaixo de um temporal", disse, referindo-se à estiagem na Região Sudeste.

Antes da Mangueira, a Viradouro entrou na Marquês de Sapucaí com quase 30 minutos de atraso, por causa do temporal. Embora tenha feito um desfile bonito, acabou prejudicada: a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira fizeram apresentação comedida, ainda que correta, diante dos jurados, para evitar escorregões na pista.

As cuícas tiveram de ser cobertas com sacos plásticos, para que a água não estragasse o couro dos instrumentos. Ao longo dos primeiros 32 minutos da apresentação, o som falhou sete vezes.

Mas os componentes e as arquibancadas cantaram à capela o samba-enredo, resultante da fusão de duas composições do sambista Luiz Carlos da Vila (morto em 2008) e adaptado por Gustavo Clarão, presidente da escola e também compositor.

A Viradouro cantou a trajetória do negro no Brasil. O refrão "o samba corre/ nas veias dessa pátria-mãe gentil/ é preciso atitude/ de assumir a negritude/ pra ser muito mais Brasil" pegou. A bateria tocou em ritmo mais cadenciado, em vez do andamento acelerado que se vê nos sambas de hoje. "É um samba à moda antiga, pra acompanhar o ritmo de Luiz Carlos da Vila", disse Mestre Magrão. As paradinhas foram mantidas, mas ganharam ritmo afro.

A escola de Niterói, que voltou ao Grupo Especial depois de três anos na Série A, teve na comissão de frente a atriz Juliana Paes, que estava afastada da agremiação por causa da maternidade. Ela desfilou como símbolo do fruto da árvore do baobá.

"Já fui rainha, já fui destaque. Experimentei todas as cores e sabores da escola. Agora sou destaque da comissão de frente", afirmou Juliana, que disse representar a miscigenação do povo brasileiro.

Na concentração, a madrinha de bateria Raissa Machado teve de dividir atenções. Primeiro, com Juliana Paes, que foi imediatamente cercada por fotógrafos e repórteres. Depois, com os tenistas Gustavo Scherer, Roger Federer e Rafael Nadal, que desfilaram com roupa da diretoria à frente da escola, cercados por seguranças.

Assim como o presidente da Mangueira, Gusttavo Clarão minimizou os efeitos da chuva. "As fantasias estavam perfeitas, mas a chuva atrapalha. É um fator extra, assim como parou o som. Todo mundo tá vendo que não é a escola. Como é que vai brigar contra a natureza?"

Acompanhe tudo sobre:Carnavalcidades-brasileirasEscolas de sambaMetrópoles globaisRio de Janeiro

Mais de Casual

Matthieu Blazy é nomeado o novo diretor criativo da Chanel

Brasileira Miolo compra vinícola na Argentina e começa expansão internacional

Natal 2024: 18 ideias de presentes para se inspirar

Vendas de veículos no Brasil crescem 15% em 2024, maior alta desde 2007