Vídeo ironiza personagens femininas de Hollywood
Página do Facebook lança trailer ironizando a forma com que Hollywood mostra as personagens femininas
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2016 às 19h15.
"Todas essas relações entre mulheres, pensei, recordando rapidamente a esplêndida galeria de personagens femininas, são simples demais. (...) Era estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção, até a época de Jane Austen, eram não apenas vistas pelo outro sexo, como também vistas somente em relação ao outro sexo." - Virginia Woolf
Em seu ensaio, Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf desvendou em 1929 o que o Teste de Bechdel viria a questionar dentro das obras de ficção a partir da década de 80: A falta de representatividade feminina de qualidade em obras ficcionais, seja na literatura , no teatro ou no cinema .
O teste é simples e questiona se numa obra de ficção há pelo menos duas mulheres que conversem entre si algo que não seja relacionado a um homem.
A maior parte das produções culturais, no entanto, falham nesse sentido, o que demonstra como o sexismo e machismo estão enraizados e são reproduzidos de forma naturalizada na sociedade.
Pensando nisso, a página do Facebook SourceFed publicou, nesta terça (5), um trailer super sincero e sarcástico de um filme muito conhecido por todas as pessoas: A Personagem Feminina Pouco Desenvolvida.
O trailer ironiza aquela narrativa batida de filmes que estereotipam a mulher e a reduzem a um ser raso, sem controle de suas emoções e discernimento racional, além de ter um "instinto cuidador" -- no sentido de querer transformar homens fracassados/tristes/"bad boys" em seres humanos decentes. Urgh!
A publicação original fez tanto sucesso que um brasileiro colocou legendas e republicou em seu perfil -- o que rendeu mais de 2 mil curtidas e quase 4 mil compartilhamentos.
Os estereótipos femininos no cinema
No teaser, a protagonista é "sequestrada" por um grupo de três mulheres que se autodenominam "As Personagens Femininas Pouco Desenvolvidas".
Nesse ponto a crítica se aprofunda em explanar o modo como a misoginia e o racismo se interseccionam para anular tanto a complexidade das personagens femininas, como excluir atrizes que envelhecem e renegar lugares de destaque para personagens negras, gordas e fora do padrão.
De modo cômico e exagerado, eles separam quatro estereótipos corriqueiros no cinema:
1. A "Mamãe-Urso", uma atriz que fez 36 anos e foi demitida de Hollywood por ser "velha demais";
2. A "Atrevidinha", uma personagem negra e gorda, que é sempre construída de modo cômico e solitário, como uma espécie de "cota de minorias" para filmes;
3. A "Colírio", a personagem feminina hipersexualizada que geralmente participa de filmes de ação;
4. E a protagonista, colocada como "A Garota Ideal Doida e Alternativa", que serve para desenvolver as narrativas masculinas de idealização romântica sobre as mulheres, ou seja, existe apenas como adjunto do homem.
Neste último caso, qualquer semelhança com a crítica de O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir não é mera coincidência.
Voltando ao Teste de Bechdel, o trailer também brinca com isso. Numa cena típica de interrogatório, uma das mulheres usa o que ela chama de "Bechdelômetro", para medir o conteúdo da fala da protagonista -- que pode falar sobre o que quiser, mas, evidentemente, erra rude ao citar o término de seu relacionamento com um homem.
"Todas essas relações entre mulheres, pensei, recordando rapidamente a esplêndida galeria de personagens femininas, são simples demais. (...) Era estranho pensar que todas as grandes mulheres da ficção, até a época de Jane Austen, eram não apenas vistas pelo outro sexo, como também vistas somente em relação ao outro sexo." - Virginia Woolf
Em seu ensaio, Um Teto Todo Seu, Virginia Woolf desvendou em 1929 o que o Teste de Bechdel viria a questionar dentro das obras de ficção a partir da década de 80: A falta de representatividade feminina de qualidade em obras ficcionais, seja na literatura , no teatro ou no cinema .
O teste é simples e questiona se numa obra de ficção há pelo menos duas mulheres que conversem entre si algo que não seja relacionado a um homem.
A maior parte das produções culturais, no entanto, falham nesse sentido, o que demonstra como o sexismo e machismo estão enraizados e são reproduzidos de forma naturalizada na sociedade.
Pensando nisso, a página do Facebook SourceFed publicou, nesta terça (5), um trailer super sincero e sarcástico de um filme muito conhecido por todas as pessoas: A Personagem Feminina Pouco Desenvolvida.
O trailer ironiza aquela narrativa batida de filmes que estereotipam a mulher e a reduzem a um ser raso, sem controle de suas emoções e discernimento racional, além de ter um "instinto cuidador" -- no sentido de querer transformar homens fracassados/tristes/"bad boys" em seres humanos decentes. Urgh!
A publicação original fez tanto sucesso que um brasileiro colocou legendas e republicou em seu perfil -- o que rendeu mais de 2 mil curtidas e quase 4 mil compartilhamentos.
Os estereótipos femininos no cinema
No teaser, a protagonista é "sequestrada" por um grupo de três mulheres que se autodenominam "As Personagens Femininas Pouco Desenvolvidas".
Nesse ponto a crítica se aprofunda em explanar o modo como a misoginia e o racismo se interseccionam para anular tanto a complexidade das personagens femininas, como excluir atrizes que envelhecem e renegar lugares de destaque para personagens negras, gordas e fora do padrão.
De modo cômico e exagerado, eles separam quatro estereótipos corriqueiros no cinema:
1. A "Mamãe-Urso", uma atriz que fez 36 anos e foi demitida de Hollywood por ser "velha demais";
2. A "Atrevidinha", uma personagem negra e gorda, que é sempre construída de modo cômico e solitário, como uma espécie de "cota de minorias" para filmes;
3. A "Colírio", a personagem feminina hipersexualizada que geralmente participa de filmes de ação;
4. E a protagonista, colocada como "A Garota Ideal Doida e Alternativa", que serve para desenvolver as narrativas masculinas de idealização romântica sobre as mulheres, ou seja, existe apenas como adjunto do homem.
Neste último caso, qualquer semelhança com a crítica de O Segundo Sexo de Simone de Beauvoir não é mera coincidência.
Voltando ao Teste de Bechdel, o trailer também brinca com isso. Numa cena típica de interrogatório, uma das mulheres usa o que ela chama de "Bechdelômetro", para medir o conteúdo da fala da protagonista -- que pode falar sobre o que quiser, mas, evidentemente, erra rude ao citar o término de seu relacionamento com um homem.
O teaser continua com outras boas cutucadas, como o racismo velado em relação a personagens orientais e a padronização do "moço hipster bonzinho".
Bem que esse filme poderia se concretizar na realidade, o cinema mundial está precisando desses tapas na cara.