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Versão funk de música de Bach viraliza e se torna hino da vacina do Butantã

"Bum bum tam tam" foi uma das músicas mais tocadas em 2017 no Brasil. Foram mais de 500 milhões de visualizações no YouTube

A vacina do Butantan ganhou trilha sonora (Amanda Perobelli/Reuters)

A vacina do Butantan ganhou trilha sonora (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 09h29.

A Orquestra Sinfônica da Bahia viu o trecho de um concerto de 2017, em homenagem ao compositor alemão Johann Sebastian Bach, ser resgatado e viralizar nas redes sociais recentemente. Achou melhor atualizá-lo. O diretor artístico e maestro Carlos Prazeres compôs uma nova letra, "uma coisinha rápida, para grudar como chiclete".

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Ao lado de sete músicos, gravou uma versão para o funk de MC Fioti Bum bum tam tam, o hino da vacina Coronavac: "É a Osba envolvente que é consciente/ E pra tá presente/ nos concertos da gente/ toma vacina e vem sorridente/ eu falei assim pra ela/ eu falei assim pra ela/ confia no Butantã/ e na vacinação/ confia no Butantã/ e na vacinação".

"Bum bum tam tam" foi uma das músicas mais tocadas em 2017 no Brasil. Foram mais de 500 milhões de visualizações no YouTube, com direito a versão em inglês e espanhol. Entrou na peça Bach Eterno porque a ideia de Prazeres era mostrar como a música erudita do regente alemão ainda estava presente nos dias de hoje. O maestro da orquestra contou ao Estadão sobre a aproximação com a música popular brasileira e sobre seus novos projetos.

Como surgiu a ideia de fazer a versão do funk na orquestra?
Muita gente vê a Orquestra da Bahia tocando um funk e pode achar que viramos uma orquestra popular. A ideia começou por causa de um concerto feito em 2017 chamado Bach Eterno, que foi bastante conceitual. O objetivo era mostrar que a música desse compositor falecido em 1750 influenciou gerações e chegou aos dias de hoje, pasmem, até a comunidade. Ia de Arvo Pärt, compositor estoniano, passando pelas bachianas número 4 do Villa-Lobos entre outros compositores. Tudo isso desembocou na Partita em Lá menor para flauta solo, de Bach. É a prova de que Bach chega à favela.

Agora virou o hino de conscientização para a vacina.
A orquestra não pode ser um objeto de museu arcaico. Ela precisa ser um ente conectado à sociedade. E, neste momento, entendemos que deveríamos, com a orquestra, conscientizar o povo a optar pela ciência, a fugir do obscurantismo. Pegamos esse material e fizemos essa versão para conseguir convencer de maneira bem-humorada a população de que vacinar é o melhor remédio para sair do pesadelo. A letra é uma coisinha rápida, para grudar como chiclete.

A versão não deixa de ser um posicionamento da orquestra. Algum integrante se posicionou contra o vídeo?
Não. Tivemos poucos integrantes que fizeram parte. A gente precisa sempre se colocar acima da política no âmbito de esquerda e direita. Temos de nos colocar completamente ao lado disso. Até porque eu sou de esquerda, venho de uma família de esquerda, meu tio é o Perfeito Fortuna. Mas eu tenho músicos da orquestra com pensamento de direita e seria um desrespeito colocar a orquestra como bandeira do meu pensamento. Isso sou contra. Mas uma coisa é pensamento político. Outra coisa é lutar contra fake news.

E a repercussão do vídeo?
A melhor possível. Imaginei que pudesse ter problema pela falta de reflexão sobre o nosso trabalho. Mas essa falta de reflexão vem do imediatismo das redes sociais. Por exemplo, a pessoa vê uma orquestra tocando funk e acha ruim. Mas sem ter uma ideia de que isso foi decorrente de um processo de que Bach chega a todos os lugares. Quando vejo Djamila Ribeiro compartilhando, vejo que temos de estar, sem medo, no lado certo.

Há busca por conteúdo mais leve por causa do momento?
Acho que sim. Até porque as pessoas buscam leveza em meio a um cenário de mais de 200 mil mortos no País. Fizemos um documentário em parceria com o Balé do Teatro Castro Alves chamado Abraço no Tempo (com participação de Caetano Veloso) para tentar estimular que as pessoas ficassem em casa.

Como surgiu o Osbatalá?
As missas católicas e protestantes sempre fizeram parte da programação da orquestra sinfônica, independentemente da religião de seus músicos. A gente vê presente A Paixão de São Matheus, de Bach, A Missa Solene, de Beethoven, o Réquiem, de Mozart. Tudo sempre foi parte de uma liturgia católica ou luterana e sempre entrou na orquestra sem objeção. Acho mágico hoje poder colocar o terreiro para dentro da orquestra. O Osbatalá foi isso.

Quais projetos de audiovisual estão produzindo atualmente?
Vamos lançar o documentário Solário, que mostra a música e a poesia baiana do século 17 aos dias de hoje. É muito interessante. Devemos lançar no dia 21 de janeiro. Vamos explorar imagens de Salvador e mostrar compositores locais importantes e pouquíssimos conhecidos, como Damião Barbosa, nascido em Itaparica, e Mussurunga. Solário é uma poesia de Mirian Fraga que fala muito sobre a cura. É o que todos nós estamos precisando: da cura através da arte.

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