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Tarantino diz em Cannes que exibição digital matou o cinema

Segundo o diretor, exibir filmes no formato digital é como forçar as plateias a ver televisão em público

O cineasta Quentin Tarantino (centro) acena para fãs ao chegar à praia para a exibição do seu filme "Pulp Fiction", durante o Festival de Cannes, na França, nesta sexta-feira (Yves Herman/Reuters)

O cineasta Quentin Tarantino (centro) acena para fãs ao chegar à praia para a exibição do seu filme "Pulp Fiction", durante o Festival de Cannes, na França, nesta sexta-feira (Yves Herman/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2014 às 21h57.

Cannes - Exibir filmes no formato digital é como forçar as plateias a ver televisão em público, disse o diretor Quentin Tarantino no Festival de Cinema de Cannes nesta sexta-feira, acrescentando que os filmes em 35 milímetros com os quais cresceu estão “mortos”.

Tarantino não compete no evento deste ano, mas falou a jornalistas e críticos de cinema antes da exibição do seu grande sucesso "Pulp Fiction: Tempo de Violência" na praia à noite – e em 35 milímetros.

“O fato de que a maioria dos filmes não são exibidos em 35 milímetros significa que a guerra está perdida”, declarou o criador do cult “Cães de Aluguel”.

Os formatos e a distribuição digitais varreram o mundo do cinema, em grande parte por causa dos custos – a maioria dos filmes em Cannes hoje em dia é projetado assim.

Mas os aficionados ainda cantam as glórias dos velhos rolos de filme – da mesma maneira que fãs de música se apegam aos seus discos de vinil. Os fãs defendem com entusiasmo o calor e a sofisticação da textura em 35 milímetros e sua capacidade de registrar a mais escura das sombras e a mais brilhante das luzes.

“Projeções digitais são TV em público. E, aparentemente, o mundo inteiro aceita TV em público, mas o que eu conhecia como cinema está morto”, afirmou Tarantino.

“Tenho esperança de que estejamos passando por um período de atordoamento romântico com a facilidade do digital e que, embora esta geração esteja irremediavelmente perdida, a próxima irá exigir o cinema genuíno”, acrescentou.

O diretor, conhecido pela energia e violência dos seus filmes, disse que o cinema digital, de fato, tem algumas vantagens.

“O lado bom do digital é o fato de que um cineasta jovem pode simplesmente comprar um celular e, se tiver a tenacidade de bolar alguma coisa... pode até fazer um filme”, afirmou.

Antes do advento do digital, as barreiras para se fazer um filme eram tão grandes que era como um “monte Everest que a maioria de nós não podia escalar”.

“Mas por que um cineasta estabelecido iria filmar em digital, não tenho a mínima ideia”, acrescentou Tarantino.

O diretor disse ter uma “coleção sensacional” de filmes em 35 milímetros em casa, e uma ainda maior de filmes em 16 milímetros, “e exibo os filmes o tempo todo, estou sempre assistindo filmes”.

“Uma das coisas mais legais na minha vida, porque me saí bastante bem no cinema, é que meio que me deu a chance de praticamente viver a vida de um acadêmico, e por isso me sinto estudando para minha tese de história do cinema mundial, e o dia em que morrer será o dia da minha graduação”.

Tarantino foi indagado sobre a conquista da Palma de Ouro de Cannes em 1994 com "Pulp Fiction".

“Ganhar a Palma de Ouro, até hoje, no que diz respeito a láureas, é absolutamente, positivamente, a minha maior conquista”.

“De todos os troféus que conquistei, é aquele que tem o maior lugar de honra na minha casa, é aquele que quero ganhar de novo, talvez, um dia, antes do apagar das luzes”.

Uma ideia que intriga Tarantino no momento é transformar o seu faroeste de 2012 "Django Livre", estrelado por Jamie Foxx e Leonardo DiCaprio, em uma minissérie em quatro partes para a TV a cabo, usando tomadas adicionais inéditas, disse ele.

Dezoito filmes competem pela Palma de Ouro de Cannes, que será entregue no sábado.

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