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Suicídio de ator evidencia pobreza de estrelas soviéticas

Embora tenham gozado de muitos privilégios brindados pelo regime soviético, a maioria dos atores não pôde sequer economizar


	Os atores soviéticos não recebem nem um centavo pelos direitos de transmissão de seus filmes
 (Alexander Nemenov/AFP)

Os atores soviéticos não recebem nem um centavo pelos direitos de transmissão de seus filmes (Alexander Nemenov/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2012 às 21h09.

Moscou - A trágica morte do ator russo Aleksandr Beliavski, que segundo aponta a investigação policial se atirou por uma janela no sábado passado, trouxe à tona mais uma vez as misérias da nova Rússia ao evidenciar a precariedade e o esquecimento no qual vivem muitas estrelas do cinema soviético.

Um debate que agrada à imprensa russa e que ressurge várias vezes no país que herdou a cultura da União Soviética e também suas estrelas de renome nacional e internacional, cultivadas e mimadas em um tempo que não lhes deixou transformar sua popularidade em algo mais que a fama.

Homens e mulheres insignes, embora tenham gozado de muitos privilégios brindados pelo regime soviético, a maioria não pôde sequer economizar, pelo menos não de maneira legal, porque nunca tiveram os salários de seus colegas do outro lado da Cortina de Ferro.

''Agora que estão aposentados, a pensão que recebem deixa uma sensação de tristeza. Inclusive os mais distintos, condecorados com o título de ''Artista do Povo'', recebem um máximo de 13 mil rublos (cerca de R$ 1 mil)'', lamentou à Agência Efe Valeria Gushina, diretora do Grêmio de Atores de Cinema da Rússia.

Beliavski, que subiu do terceiro andar no prédio em que vivia até o quinto para saltar pela janela apesar de seus 80 anos, era uma autêntica estrela de seu tempo, memória viva de toda uma geração que o viu em alguns dos filmes mais queridos primeiro pelo público soviético e depois também pelo russo.

Desejado e amado por milhões de mulheres que ainda lembram seus inesquecíveis papeis, no ocaso de sua vida, Beliavski não podia pagar as contas de luz e telefone, comentou Valeria.

Era um dos 50 atores soviéticos que recebia ajuda financeira do Grêmio, integrado à União Cinematográfica da Rússia presidida pelo oscarizado diretor e ator Nikita Mijalkóv, a quem muitos criticam por não defender com toda sua influência e poder os que foram durante anos seus companheiros de cena.


''Os velhos atores não devem morrer na indigência, não devem pular de prédios. Seus filmes deram milhões ao Estado, são transmitidos um sem-fim de vezes na televisão, que cobra uma ingente quantidade de dinheiro por suas emissões'', denunciou em seu blog outra estrela soviética, o ator de comédias Stanislav Sadalski.

Os atores soviéticos não recebem nem um centavo pelos direitos de transmissão de seus filmes, revelou a diretora do Grêmio.

''O presidente de nossa União Cinematográfica deve fazer com que cada ator receba seu centavo, inclusive pelos episódios nos quais aparece'', reivindicou Sadalski.

Valeria, consciente da polêmica que frequentemente envolve o cineasta mais internacional da Rússia, apressa-se em lembrar que o próprio Mijalkov criou um fundo para ajudar os veteranos do cinema.

''Se não fosse por este fundo, não haveria dinheiro nem para o enterro de muitos'', garantiu.

A tragédia, digna do celuloide, se repete ano após ano, cada vez que outro rosto conhecido deixa o mundo na precariedade e no abandono.

''São muitos os que necessitam de uma ajuda que esperam como um reconhecimento à sua carreira, à sua arte, mas nunca como uma esmola'', comentou Gúshina, concluindo que ''é inútil implorar ao Estado''. 

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