O Prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, o Presidente do COI Thomas Bach e a Governadora de Tóquio Yuriko Koike participam da Cerimônia de Entrega da Bandeira durante a Cerimônia de Encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016. (Cameron Spencer/Getty Images)
Julia Storch
Publicado em 9 de julho de 2021 às 11h40.
Tóquio sob estado de emergência, sem turistas circulando e movimentando a economia japonesa, ou mesmo a presença de espectadores nipônicos e estrangeiros nas Olimpíadas de Tóquio, seria possível recuperar os investimentos feitos no país sede?
A apenas duas semanas da cerimônia de abertura, em 23 de julho, o número de infecções por coronavírus aumenta na capital japonesa, com considerável avanço dos casos da variante Delta. "Vamos declarar estado de emergência em Tóquio", disse Suga, em uma reunião de governo dedicada às medidas sanitárias, acrescentando que vai durar até 22 de agosto, quase três semanas depois do encerramento dos Jogos, em 8 de agosto.
Os investimentos na infraestrutura não impediram as grandes perdas econômicas com o adiamento e mudança do perfil do evento. Em 2020, a JP Morgan já estimava perdas de 1,1 trilhão de ienes, mesmo com os Jogos ocorrendo na data prevista. Com a pandemia, os setores beneficiados pelos jogos, sofreram quedas maiores.
Com investimento de 11,5 bilhões de euros, sendo 150 bilhões de ienes saídos do Estado japonês, com a pandemia, o país deixou de receber 600 mil estrangeiros no ano passado, com isso, 240 bilhões de ienes deixaram de ser gerados por estrangeiros no país. “A receita proveniente virá dos direitos de transmissão e dos patrocinadores e apoiadores, como o COI”, comenta Marcelo Pereira, professor de Economia da Faculdade Estácio.
“Sem contar os gastos para adequar todo o país e, notadamente, todos os lugares para receber com segurança sanitária todos os turistas e profissionais. Até então a retração no PIB foi de 5,1%”, adiciona.
“Com prejuízo estimado em mais de 100 bilhões de reais, será difícil recuperar os investimentos, pois não haverá turistas consumindo os 90 dólares médios diários no país, caso pudessem ingressar no Japão e comparecer à programação de todos os jogos. O Rio de Janeiro, por exemplo, recebeu 1,17 milhão de turistas, sendo 410 mil estrangeiros”, comenta Pereira.
Segundo o professor, as pequenas e médias empresas foram as mais atingidas pela redução do consumo no período pandêmico e do adiamento dos Jogos Olímpicos. “No curto prazo, as empresas tiveram queda de 5% nos faturamentos”.
Porém, independente das Olimpíadas, a retomada econômica só acontecerá com o fim das restrições sociais e sanitárias. “Sem a retomada integral das atividades, seja no Japão ou em qualquer outro lugar do mundo, não teremos recuperação integral da economia e de sua sustentabilidade social e política”, diz.
“Adiar não é solução do Japão. Os direitos de transmissão e patrocinadores cobrirão parte dos ‘prejuízos’ e gastos dos Jogos”, comenta Pereira.
Para retomada da economia, iniciativas estatais serão necessárias para a retomada de atividades culturais e esportivas nas infra estruturas construídas para os Jogos. Assim como o incentivo aos profissionais e empresas e ao turismo nacional.
“Com o prolongamento da pandemia e as variantes do coronavírus circulantes pelo mundo, nem o melhor dos planos ou ação econômica do governo japonês faria com que as perdas da recessão econômica sejam recuperadas nos próximos anos”, explica Pereira, “o principal problema não são Jogos serem realizados ou não, mas a impossibilidade do acesso do público aos eventos e a entrada de turistas no país”, finaliza.
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