Oásis de luxo perto de Riade, onde sauditas endinheirados descansam durante a pandemia. (Anuj Chopra/AFP)
Julia Storch
Publicado em 21 de março de 2021 às 06h32.
Sauditas endinheirados se divertem em um oásis artificial construído sobre dunas de cor salmão, esbanjando dinheiro, após um ano de pandemia e no momento em que o reino petroleiro tenta impulsionar o turismo nacional. O coronavírus prejudicou o desejo do maior exportador de petróleo do mundo: tornar-se um novo destino turístico e de lazer para remediar sua hiperdependência do ouro negro.
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Para esta estratégia de longo prazo, organizou nos últimos anos festivais de música e competições esportivas para um público misto e reabriu cinemas, durante muito tempo proibidos.
O "Riyadh Oasis", localizado próximo à capital, é um refúgio sofisticado no deserto. Com seus lagos cercados de palmeiras, restaurantes efêmeros e barracas de luxo, atrai os sauditas mais ricos, acostumados a gastar bilhões de dólares no exterior.
"Água, palmeiras, areia - o oásis tem de tudo", diz um guia saudita aos visitantes, cercado por carros Maserati, ou Bentley. O oásis foi inaugurado em meados de janeiro por uma temporada de três meses, mas tem gerado ressentimento entre os que não são ricos, em um país que passa por medidas de austeridade. "O oásis é voltado para sauditas muito ricos, aqueles que não podem viajar para os Estados Unidos, ou para a Europa, para suas férias anuais", disse um banqueiro de Riade à AFP.
Os países do Golfo - e a Arábia Saudita em particular - são os principais fornecedores de turistas ricos, acostumados a gastar dinheiro.
Segundo o centro de análises Research and Markets, com sede em Dublin, o mercado de turismo anual da Arábia Saudita deve atingir mais de US$ 43 bilhões (€ 36 bilhões) até 2025. Os turistas sauditas gastaram em torno de US$ 18,7 bilhões no exterior em 2019, informa um relatório do Banco Central saudita.
Estimular o gasto local
A Arábia Saudita estendeu a proibição de viagens de seus cidadãos ao exterior até 17 de maio, devido ao atraso na chegada das vacinas contra o coronavírus, segundo o governo. A decisão tem incentivado os gastos na economia local.
Por um lado, dados oficiais dos últimos meses mostram um aumento no turismo doméstico e nas reservas de hotéis. Por outro, uma pesquisa da empresa de turismo Almosafer estima que 80% dos sauditas planejam viajar para o exterior nos seis meses após a suspensão das restrições de viagem.
O reino está construindo um parque de diversões no estilo Walt Disney, chamado Qidiya, que custará centenas de bilhões de dólares, além de um luxuoso resort, semelhante às Maldivas, ao longo do Mar Vermelho. Isso "deve estimular mais os gastos locais", considerou em 2019 um relatório da consultoria internacional McKinsey. "Atualmente, mais de 50% do gasto dos sauditas com lazer e entretenimento acontece no exterior e, em categorias como o luxo, aproxima-se de 70%", dizia o mesmo relatório.
Apenas para os ricos
No oásis situado perto de Riade, paga-se em torno de 13.000 riais (quase US$ 3.570) por uma noite em uma barraca "glamps" (contração das palavras "glamour" e "camping").
"As 'glamps' me custaram quase o salário de um mês. Elas são voltadas para a nata, o 1% mais rico", explica à AFP um funcionário da imprensa saudita, que pediu para não ser identificado, em um país intolerante com a liberdade de expressão. Adel Al Rajab, CEO da Seven Experience, uma empresa promotora do oásis, reconhece que o empreendimento "não é para todos".
"Você não espera que as massas vão a hotéis cinco, ou seis, estrelas", disse ele à AFP. Mas "esta abordagem 'apenas para os ricos' pode se voltar contra eles", disse à AFP uma autoridade ocidental que trabalha no Golfo. O reino "terá que encontrar um equilíbrio entre os preços altos e uma inclusão mais ampla dos sauditas", acrescenta.