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Sátira antinazista Jojo Rabbit traz um Hitler idiota e infantil

Longa do diretor Taika Waititi, que também interpreta Hitler, começou a ser cotado para ganhar o Oscar de Melhor Filme após vencer o Festival de Toronto

Jojo Rabbit: Waititi disse que a princípio não queria interpretar Hitler e que ficou envergonhado por ter que se vestir como ele (Trailer Jojo Rabbit/Reprodução)
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AFP

Publicado em 16 de outubro de 2019 às 11h55.

Um diretor precisa de coragem para fazer uma comédia sobre um menino nazista de 10 anos e seu amigo imaginário Adolf Hitler e ainda mais ousadia para interpretar o ditador, com seu bigode e suástica.

Mas Taika Waititi afirma que estava determinado a usar o humor para combater o fanatismo e o fascismo no filme "Jojo Rabbit", cotado para o Oscar e que estreia esta semana nos Estados Unidos, em um período no qual, assegura o diretor, há "muitos nazistas por perto".

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"Passaram 80 anos desde que Charlie Chaplin fez 'O Grande Ditador'. Então, eu não diria que é muito cedo", declarou o cineasta neozelandês, descendente de judeus e maoris, em uma entrevista coletiva em Beverly Hills.

"Segue a tradição de algumas pessoas muito inteligentes que tinham algo a dizer e usavam comédia, que na minha opinião é uma das ferramentas mais poderosas contra o fanatismo e contra regimes e ditadores", completou o diretor de "Thor: Ragnarok".

O filme, protagonizado por Scarlett Johansson, retrata a Segunda Guerra Mundial através dos olhos de um menino alemão (Roman Griffin Davis) que foi doutrinado pela juventude nazista. Ele fica consternado ao descobrir uma menina judia vivendo no sótão de sua casa.

O jovem Jojo, que nunca havia encontrado um judeu, encara a menina inicialmente com temor e repugnância, mas ao tomar conhecimento que sua mãe (Johansson) a abrigou em segredo, correndo um grande risco, se vê obrigado a passar algum tempo com ela.

Classificado como uma "sátira anti-ódio", o filme começou a ser imaginado em 2011, quando a mãe Waititi recomendou o livro "Caging Skies", que inspirou o longa-metragem.

O lançamento - que no Brasil está previsto para janeiro de 2020 - acontece no momento em que déspotas e populistas de extrema direita estão em ascensão em todo o mundo, segundo Waititi.

"Não havia tantos nazistas naquela época", afirmou, em referência ao momento em que começou a trabalhar no projeto.

"Agora, parece estranhamente relevante, mais relevante", enfatiza.

"Você chega a 2019, quando o filme estreia, com um aumento dos neonazistas e de grupos de ódio. Intolerância e ódio avançam, assim como as pessoas que promovem o ódio e a intolerância", completou.

Audacioso

"Jojo Rabbit" poderia emular "A Vida é Bela", de 1997, outro filme de temática nazista polarizador que venceu três estatuetas do Oscar.

Apesar das críticas mornas, o filme de Waititi entrou definitivamente no radar do Oscar após a vitória no Festival de Toronto.

O prêmio, decidido pelo público, é um considerado um indicador confiável para o prêmio mais importante do cinema, como aconteceu com "Green Book- O Guia", "O Discurso do Rei" e "Quem Quer Ser um Milionário?".

As pessoas que assistiram o filme no festival ignoraram as preocupações dos críticos sobre a estética caricatural e "hipster" da obra, e a controversa representação de Waititi de um Hitler idiota e infantil, produto da imaginação de um garoto que sofreu lavagem cerebral.

Waititi disse que a princípio não queria interpretar Hitler, que pressiona Jojo a delatar a presença da jovem judia, mas que cedeu a pedido da Fox Searchlight, estúdio que comprou os direitos de exibição do filme.

"A principal palavra para descrever este papel é vergonha", afirmou o cineasta. "Fiquei embaraçado na maior parte do tempo por ter que me vestir daquele jeito".

Mas a decisão valeu a pena, declarou Waititi, porque ter um astro de Hollywood no papel teria desviado a atenção da verdadeira preocupação do filme: o impacto da guerra e do fascismo nas mentes jovens e inocentes.

Johansson entrou no projeto depois que Chris Hemsworth, seu colega de elenco em "Vingadores", mostrou o roteiro de Waititi.

"Era cheio de extravagâncias e aspectos infantis, mas também era realmente comovente e forte", disse a atriz.

Stephen Merchant, cocriador da série "The Office" e que interpreta um capitão sinistro da Gestapo, disse que pareceu "audacioso" fazer este filme no momento em que o "cinema convencional talvez tenha ficado um pouco mais conservador ou optado por correr menos risco".

"Isto é algo que deve ser aplaudido".

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