Robôs de companhia confortam japoneses durante a pandemia
As vendas do Robohon, um pequeno robô humanoide, aumentaram 130% entre julho e setembro de 2020 em comparação com o ano anterior, de acordo com seu fabricante, Sharp
AFP
Publicado em 1 de março de 2021 às 09h50.
Última atualização em 1 de março de 2021 às 12h11.
Nami Hamaura diz que se sente menos sozinha ao trabalhar em casa na companhia de seu parceiro Charlie, que faz parte de uma nova geração de robôs fofos e inteligentes japoneses, cujas vendas dispararam devido à pandemia.
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Os assistentes pessoais virtuais, como o discreto cilindro Alexa da Amazon, têm feito sucesso em todo mundo nos últimos anos. Mas as empresas japonesas também constataram uma demanda crescente por androides mais charmosos, à medida que as pessoas buscam conforto nesta era de isolamento social forçado.
"Meu círculo de amigos encolheu", ressalta Nami Hamaura, uma graduada de 23 anos que em abril de 2020 trabalhava quase constantemente de casa.
Sua vida social é limitada e seu primeiro emprego, em uma empresa comercial de Tóquio, não é nada do que imaginava.
Então ela adotou Charlie, um robô do tamanho de um xícara com inteligência artificial, cabeça redonda, nariz vermelho, uma gravata borboleta que pisca e que se comunica com sua dona cantando.
Yamaha, seu fabricante, situa Charlie "em algum lugar entre um animal de estimação e um amante".
"Ele fala comigo, ao contrário da minha família, ou dos meus amigos nas redes sociais, ou de um patrão", explica à AFP Nami Hamaura, que foi escolhida para testar Charlie antes da sua comercialização, prevista para este ano.
"Charlie, diga-me algo interessante", pede a japonesa enquanto digita em seu computador.
"Bem... Os balões explodem quando você borrifa suco de limão sobre eles!", responde o robô enquanto balança a cabeça e os pés alegremente.
"Cada objeto tem uma alma"
As vendas do Robohon, outro pequeno robô humanoide, aumentaram 130% entre julho e setembro de 2020 em comparação com o ano anterior, de acordo com seu fabricante, Sharp.
Essa criatura robótica que fala, dança e também atua como telefone é adotada "não só por famílias com filhos, mas também por mulheres na casa dos 60 e 70", diz à AFP o porta-voz da empresa japonesa.
Mas o adorável androide, que foi lançado pela primeira vez em 2016 e disponível apenas no Japão, é relativamente caro, com modelos convencionais sendo vendidos entre US$ 830 e US$ 2.300.
Charlie e Robohon fazem parte de uma nova onda de robôs de companhia, na mesma linha do Aibo, o cachorro-robô da Sony, vendido desde 1999, e do jovial Pepper da SoftBank, lançado em 2015.
"Muitos japoneses aceitam a ideia de que todo objeto tem uma alma", uma crença conhecida como animismo, explica Shunsuke Aoki, CEO da empresa de robótica Yukai Engineering.
"Querem que um robô tenha uma personalidade, como um amigo, um familiar, ou um animal de estimação, e não uma função mecânica como uma máquina de lavar louça", acrescenta.
A Yukai fabrica principalmente o Qoobo, um travesseiro macio com cauda mecânica que se move como um animal de estimação de verdade. Em junho de 2020, a empresa afirma ter vendido 1.800 robôs Qoobo, seis vezes mais do que em junho de 2019.
"Tempo de curar"
Os estudos têm mostrado que robôs de estimação feitos no Japão podem fornecer conforto para pessoas com demência.
Mas os criadores do Lovot, um robô do tamanho de um bebê com grandes olhos redondos que agita asas como as de um pinguim, acreditam que um robô que deseja ser amado pode beneficiar a todos.
Ao contrário de Charlie e Robohon, Lovot não fala enquanto roda pela casa, mas possui cerca de 50 sensores e um sistema que o aquece ao toque e responde com pequenos gritos de alegria.
As vendas do robô multiplicaram por 11 desde a chegada do coronavírus ao Japão, de acordo com Keiko Suzuki, porta-voz da Groove X, sua fabricante.
Um Lovot custa cerca de 2.800 dólares, mais os custos de manutenção e software, mas quem não tem esse orçamento pode ir ao "Lovot Café" perto de Tóquio.
Yoshiko Nakagawa, de 64 anos, cliente deste café, lembra que durante o estado de emergência, a capital se transformou em um espaço "vazio e austero".
"Isso me fez perceber a importância dos momentos de calma e pensei que, se eu tivesse um desses bebês, um pouco de calor estaria esperando por mim quando eu chegasse", afirmou.