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Quero uma casa no campo: o sonho que levou a JHSF a ganhar R$ 1,2 bi em 2020

Resultado se deve, principalmente, ao sucesso de dois empreendimentos da incorporadora: a incensada Fazenda Boa Vista e o vizinho Boa Vista Village

Fazenda Boa Vista: 848,4 milhões de reais em vendas em 2020 (Divulgação/Divulgação)
DS

Daniel Salles

Publicado em 18 de janeiro de 2021 às 11h57.

Última atualização em 18 de janeiro de 2021 às 12h08.

Quarentena não é férias, repetia-se, a cada segundo, logo que o isolamento social se mostrou indispensável você sabe por quê. A frase era endereçada à turma que não via nada de errado em ir à praia com grupos de amigos ou dar festas com a pandemia a pleno vapor, para citar duas incorreções dos novos tempos (que, diga-se de passagem, ainda devem ser evitadas mesmo com o início da vacinação no Brasil). Mas há quem siga as orientações das autoridades de saúde à risca e ainda assim pareça estar de férias e despreocupado. Quem tem casa na Fazenda Boa Vista, por exemplo, e lá se refugiou com a família, como o publicitário Nizan Guanaes e o médico José Luiz Egydio Setubal, um dos acionistas do Itaú.

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A 100 quilômetros de São Paulo, o condomínio em Porto Feliz se espalha por um terreno maior do que sete parques do Ibirapuera e tem direito a dois campos de golfe, uma hípica e um hotel Fasano. Este último, como a maioria das áreas coletivas, ficou fechado até o fim de maio. Nada que impedisse os condôminos, desde a chegada do coronavírus, de circular entre os belos bosques e lagos da propriedade — a pé, de bike ou em carrinhos de golfe — e usufruir suas irretocáveis casas de campo.

“A Fazenda Boa Vista nunca esteve tão cheia como na quarentena”, disse, meses atrás, Thiago Alonso de Oliveira, CEO da JHSF, a incorporadora do empreendimento. Na época, ele contou que as vendas no condomínio aumentaram com a covid-19. “Moradores de apartamentos em São Paulo que não pensavam em ter um espaço mais amplo, em meio à natureza, estão mudando de ideia”, disse ele. Naquela época só 150, aproximadamente, dos 885 lotes, continuavam vagos.

No último dia 15, a JHSF anunciou que ganhou 1,2 bilhão de reais com vendas de incorporação em 2020. Desse montante, 848,4 milhões de reais vieram da Fazenda Boa Vista. Outros 297,5 milhões de reais saíram do Boa Vista Village, um empreendimento vizinho lançado em dezembro de 2019. E 77 milhões de reais são fruto do Fasano Cidade Jardim, anexo ao shopping Cidade Jardim (os 6,2 milhões de reais restantes se devem a outros projetos).

Tudo somado, a companhia terminou o ano com um crescimento de 228,5% no que se refere a vendas contratadas de incorporação. A cifra não envolve a venda do terreno, por 98,6 milhões de reais, para a XP Investimentos, no qual será erguida a controversa Villa XP. Os resultados anunciados, no entanto, estão sujeitos a revisões a cargo de uma auditoria. Os números definitivos serão divulgados no relatório final da JHSF envolvendo 2020 como um todo e o último trimestre dele. É nele que entrarão dados referentes ao desempenho de shoppings, hotéis e restaurantes do grupo, fortemente atingidos pela pandemia.

De volta à Fazenda Boa Vista. Inaugurado em 2007, ela oferece desde terrenos para quem almeja construir por conta própria, da forma que quiser, até residências prontas assinadas por arquitetos incensados, a opção de 30% dos compradores até agora.

Projeção da Fazenda da Grama, no interior de São Paulo: praia artificial de 700 metros prevista (Divulgação/Divulgação)

As mais conhecidas, vendidas por completo, saíram das pranchetas do arquiteto Isay Weinfeld, autor do Fasano local. A autoria das casas erguidas no entorno do circuito de triathlon é do escritório franco-brasileiro Triptyque. Ainda à venda, custam a partir de 4,9 milhões de reais, com cinco suítes, só um pavimento, piscina e 457 metros quadrados de área construída.

Quase dispensam decoração. Isso porque só um quinto das paredes é de alvenaria, com revestimento de madeira queimada, que confere um aspecto rústico chique. As demais paredes, emolduradas por poucas vigas, são todas de vidro. “O objetivo é expor ao máximo a cinematográfica paisagem do entorno”, diz o arquiteto Grégory Bousquet, um dos donos do Triptyque. “No fim das contas, os compradores só precisam trazer os móveis e escolher o piso, o forro e as cortinas.”

Foi o sucesso da Fazenda Boa Vista que motivou o desenvolvimento do Boa Vista Village. Esse ocupa uma área quase igual à do Parque do Ibirapuera. Prevê edifícios de dois ou três andares e apartamentos a partir de 133 metros quadrados, com amplas varandas, de 2,2 milhões de reais para cima. Terá o próprio campo de golfe, cinco hotéis e uma piscina para surfistas, com ondas de até 2,75 metros de altura e 22 segundos de duração.

Mais: terá uma pequena versão do Shopping Cidade Jardim, com restaurantes, teatro e cinema. A entrega das primeiras edificações estava prevista para o primeiro semestre deste ano e o valor geral de vendas (VGV) estimado para o condomínio todo é de 4,5 bilhões de reais.

Se o Boa Vista Village terá uma piscina para surfar, a Fazenda da Grama, em Itupeva, a 60 quilômetros de São Paulo, promete uma praia artificial com 700 metros de extensão, areia que não esquenta e ondas de até 2 metros a cada 8 segundos.

Projeto de Arthur Casas para casa no Botanique Community: em meio à natureza da Serra da Mantiqueira (Divulgação)

Será o novo cartão de visita do condomínio, outro que ficou lotado desde o início da quarentena ao mesmo tempo que viu subir a procura por compradores em potencial. “Em vez de investir em viagens longas, muita gente vai preferir gastar com moradias no campo”, disse Oscar Segall, fundador da incorporadora responsável, a KSM.

Como na Fazenda Boa Vista, dá para adquirir só o terreno ou encomendar uma casa concebida, por exemplo, pelo renomado arquiteto Thiago Bernardes. Não sai por menos de 7,3 milhões de reais.

A procura por imóveis que espelham um estilo de vida marcado pela tranquilidade e pelo contato com a natureza também elevou o interesse por condomínios fora de São Paulo, como o do Frade, em Angra dos Reis, e por propriedades mais em conta afastadas das grandes metrópoles.

“A quarentena trouxe uma urgência por espaços abertos e ensinou todo mundo a trabalhar à distância”, diz Fernanda Ralston Semler, às voltas com a criação de um novo residencial, o Botanique Community. É vizinho do hotel Botanique, na região de Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, e tem os mesmos investidores — ela e o marido, Ricardo Semler, dono do grupo Semco; David Cole, fundador da AOL; e Gordon Roddick, um dos criadores da The Body Shop.

Prevê 42 residências e os interessados podem optar entre cinco projetos. O de 120 metros quadrados custa cerca de 1,2 milhão de reais. O que foi desenvolvido pelo escritório de arquitetura Andrade Morettin, como os outros, chama a atenção pela profusão de paredes de vidro e pelos traços minimalistas.

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