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Pilotamos o McLaren Senna em Interlagos

Estrela das homenagens aos 25 anos sem Ayrton Senna em São Paulo, superesportivo de 800 cavalos de potência foi testado por Exame

McLaren Senna em Interlagos: Exame testou carro na pista (Divulgação/Divulgação)

Rodrigo França

Publicado em 17 de maio de 2019 às 09h00.

Última atualização em 19 de julho de 2019 às 13h33.

Na vida de um repórter há momentos que lembram aquela célebre campanha publicitária de cartão de crédito: têm experiências que nem mesmo o dinheiro compra. Foi meu primeiro pensamento quando recebi o convite para testar o McLaren Senna em Interlagos na semana do Senna Day, evento organizado pelo Instituto Ayrton Senna e a família do tricampeão mundial de F1 para homenagear os 25 anos de legado do piloto.

Até porque o dinheiro até “poderia” comprar o superesportivo de 800 cavalos de potência. Isso mesmo, “poderia”, mas não pode mais: as 500 unidades produzidas pela McLaren na Inglaterra já foram vendidas, com preço médio estimado em R$ 9 milhões. Outro detalhe é que o teste foi feito no protótipo de número 0, ou seja, o primeiro McLaren Senna produzido na história e que não está à venda.

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Para coroar este cenário de sonho, o teste foi realizado na pista onde Senna venceu pela primeira vez o GP Brasil de F1, em 1991. Foi uma vitória com raça, superação e determinação, levando o carro apenas com a sexta marcha nas voltas finais – talvez uma das mais emblemáticas da carreira daquele que é apontado como o melhor piloto de todos os tempos – e vencedor também do GP de 1993 nesta mesma pista.

O carro

Meu primeiro contato com o carro havia sido em sua primeira apresentação para a imprensa, em junho do ano passado, no autódromo de Estoril. Mas lá tive apenas a chance de acelerar o carro na rua – e não na pista, onde seus números de fato impressionam.

Com motor 4.0 V8 biturbo e pesando apenas 1.198 quilos (com uso intenso da fibra de carbono), este é o McLaren mais rápido já feito, capaz de fazer 0 a 100 km/h em apenas 2,8 segundos. Ainda mais impressionante, o “Senna” faz de 0 a 200 km/h em 6,8 segundos, com velocidade máxima de 335 km/h.

Assim, já estava familiarizado com seu design impressionante. A novidade ficou por conta da pintura estilo McLaren dos anos do tricampeonato de Senna (1988, 1990 e 1991). A pintura foi feita pelo estúdio de Sid Mosca em um layout criado por Raí Caldato, brasileiro responsável pelo desenho do capacete de Lewis Hamilton.

McLaren Senna: carro em homenagem aos 25 anos sem Ayrton (Divulgação)

O McLaren Senna é o carro mais rápido que já guiei na vida. E, com o mundo se tornando cada vez mais em prol de carros autônomos, provavelmente será meu recorde para sempre. Ah, sim, eu também já pilotei um F1 (eu disse que a vida de repórter tem vantagens….) em Paul Ricard, mas era outra experiência.

A diferença dos dois testes é que, no caso do Lotus Renault, ele é feito apenas para competir. Já o Senna pode andar no autódromo e pode te levar ao cinema no shopping. Mas convenhamos, ele nasceu para acelerar e foi com esta missão que demos as 2 voltas pisando fundo em Interlagos.

Que fique claro, especialmente para quem estiver assistindo ao vídeo: sim, o McLaren Senna intimidou bastante este repórter. Mesmo já tendo pilotado carros de corrida em Interlagos e com carteira de piloto (suficiente para pilotar na Stock Light, por exemplo), não é todo dia que se tem 800 cavalos no comando do acelerador “prontos” para ser usados.

Isso significa que uma saída errada de curva ou mesmo uma pisada mais afoita no acelerador podia por tudo a perder – já pensou o carro escapando e indo direto para o guardrail? Concentro a experiência nos detalhes. A começar por ligar o carro num comando no teto, parecendo uma nave – demais!

O interior do carro impressiona pelo design todo em fibra de carbono e pela porta “vazada” - o vidro permite você ver a pista, zebra etc. O que dá ainda mais sensação de velocidade. Fiz as duas voltas com ao lado do instrutor da McLaren Brasil, Rodrigo Hanashiro, que já competiu na Stock Car.

Na saída, perguntei: posso sair “rasgando”? A risada já dizia o que eu pensava: “cuidado, Rodrigo, este carro é único no mundo e ainda vamos ter o evento Senna Day em Interlagos”. Olha a responsabilidade! Por isso, só pisei 100% de acelerador nos trechos “sem risco”, ou seja, nas retas e nas saídas de curva.

Ainda assim já deu para notar uma grande diferença de outros superesportivos e até do F1 que pilotei na França: normalmente com tanta cavalaria, os carros são bastante ariscos, ou seja, dá aquela “traseirada” mesmo que você pise 50% de acelerador. Já o Senna é um “lorde”: sabe ser suave, mas também responde rápido se você provocar.

Não por acaso, nos pouco segundos acelerando tudo, chegamos a mais de 220 km/h nas ruas retas (Oposta e Boxes). “O Senna é um carro ‘na mão’, que responde imediatamente, mesmo nas curvas de raio longo e de alta velocidade”, disse Cacá Bueno, pentacampeão da Stock Car e que levou os convidados da família Senna para uma volta rápida em Interlagos.

Outro aspecto impressionante é o freio: no S do Senna, a aproximação superava os 220 km/h. Freei forte e, quando vi, poderia ter brecado muito mais dentro da curva. Assim, tive que deixar o carro “rolar” por preciosos segundos. Se a volta estivesse valendo a pole position, já era...

Mesmo nas voltas cautelosas, o Senna desafia você a pisar mais fundo. O tempo todo o carro mostra que você ainda está bem longe do limite. E as curvas finais das minhas duas voltas foram as mais divertidas, pois aí eu já tinha ganhado a confiança – especialmente na última vez que contornei a descida do Mergulho, a mais de 150 km/h.

Só que aí já era tarde. Na subida da reta dos boxes, já com pé 100% no acelerador, Hanashiro acena com um “joia” (deve ter pensado “ufa, o jornalista trouxe o carro inteiro”) e sinaliza o fim do teste. Foram duas voltas de sonho: impossível não lembrar da infância vendo o F1 de Senna passar diante de meus olhos na arquibancada do GP Brasil de F1.

Agora, eu estava pilotando um carro especial que, independente do valor (até há carros mais caros e exclusivos no mundo), tinha um importante significado. Acelerar o McLaren Senna no solo sagrado de Interlagos e durante a homenagem ao melhor piloto de todos os tempos. É... não tem preço.

McLaren Senna na pista de Interlagos (Divulgação/Divulgação)

Rodrigo França testou o McLaren Senna na pista (Divulgação)

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