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Palmeiras e Galo fazem duelo de mecenas na Copa Libertadores

Times alcançaram um patamar de dominância no futebol brasileiro com ajuda de empresários. No campo, mineiros são favoritos. Mas o balanço dos paulistas está melhor

Rubens Menin e Leila Pereira: torcedores fanáticos que investiram milhões de reais em seus clubes de coração (Germano Lüders / reprodução Twitter/Exame)
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Rodrigo Caetano

Publicado em 21 de setembro de 2021 às 11h50.

A noite desta terça-feira, 21, entrará para a história do futebol brasileiro . Dois clubes gigantes, Palmeiras e Atlético Mineiro , se enfrentam pela semifinal da Copa Libertadores da América, a principal competição sul-americana. Em campo, o duelo promove o encontro de dois estilos de jogo, a transição rápida da defesa ao ataque dos paulistas e a força ofensiva dos mineiros, que são favoritos.

Nos bastidores, há outro duelo, de dois modelos de negócios suportados pelos empresários Leila Pereira, da Crefisa, e Rubens Menin, da MRV. Torcedores fanáticos do Palmeiras e do Atlético, respectivamente, Pereira e Menin investiram milhões em seus clubes de coração para a contratação de jogadores. Crefisa e MRV estampam as camisas dos times, enquanto a torcida se divide entre a gratidão aos mecenas e o medo do abandono repentino – história vivida por diversos clubes brasileiros, inclusive o Palmeiras.

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Além do fanatismo, a semelhança entre os dois mecenas termina no volume investido, acima do que é considerado racional em termos de marketing. Pereira, que é a grande favorita para vencer as eleições palmeirenses no final deste ano e deve assumir a presidência em 2022, trabalha com um clube equilibrado financeiramente.

Austeridade versus alavancagem

O atual campeão da Libertadores adotou, este ano, uma postura austera. Não fez grandes contratações e manteve os investimentos na base para formar jogadores, estratégia que funcionou durante a pandemia. No título do ano passado, as “crias da Academia”, como os meias Gabriel Menino e Patrick de Paula, se destacaram.

Menin, por sua vez, dobrou a aposta na alavancagem. O Galo vem de uma forte queda de receita na pandemia (-48%). Suas dívidas cresceram de forma astronômica, com a adição de 466 milhões de reais, para 1,27 bilhão. “O problema é que, exceto pelos Impostos parcelados, que cresceram pouco, as demais formas de dívidas apresentaram saltos relevantes”, afirma o Itaú BBA, em relatório que analisa as finanças dos clubes brasileiros. “Para deixar a situação mais complexa, parte relevante está no curto prazo, com níveis de alavancagem elevadíssimos.”

Ainda assim, Menin liberou o PIX para contratar as estrelas Hulk, Diego Costa e Nacho Fernández – somente os dois primeiros, custam 32 milhões anuais ao Galo, um quarto da sua folha salarial. Os investimentos estão funcionando em campo. O clube, que não ganha um Campeonato Brasileiro desde os anos 70, hoje lidera o Brasileirão sete pontos à frente do segundo colocado, justamente o Palmeiras. Na Libertadores, teve a proeza de eliminar os argentinos Boca Jr. e River Plate, maiores algozes de brasileiros na história – especialmente o Boca.

O mecenas do Galo não está sozinho. Na realidade, ele lidera um grupo de empresários atleticanos chamado de “4Rs”: Renato Salvador, da rede de hospitais Mater Dei; Ricardo Guimarães, do banco BMG; além de Rubens e seu filho Rafael Menin, CEO da MRV Engenharia. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, em agosto, Menin garantiu que a bonança não vai acabar tão cedo para o galo. “Em 2022, o piso de investimento será maior”, afirmou o empresário.

É dívida, não caridade

Chamar Leila Pereira e Rubens Menin de mecenas, no entanto, é impreciso. O dinheiro investido por ambos não é a fundo perdido. No Palmeiras, a dívida com a Crefisa somava 161 milhões de reais em 2020. O valor deve ser pago em até dois anos após o fim do vínculo do atleta contratado pelo o clube, acrescido de encargos financeiros com base no CDI. Caso o jogador seja vendido, o valor recebido irá para o pagamento da dívida – se não cobrir tudo, o saldo será pago pelo Palmeiras, nas mesmas condições.

O Atlético tinha uma dívida de 324 milhões de reais com “pessoas físicas/jurídicas não financeiras” no ano passado, de acordo com o balanço do clube. Incidem sobre 123 milhões de reais encargos mensais equivalentes à taxa SELIC, o restante consta como juro zero. Todas as dívidas vencem até 2023. Para o Itaú BBA, o Galo passa por um processo de aceleração de crescimento, que “mescla a tradição de uma marca importante com conceitos de startups” e demanda grandes investimentos. “Como todos os projetos semelhantes, o resultado de longo prazo é incerto”, aponta o relatório.

A questão, para os mineiros, é conciliar investimentos com resultados em campo. Ainda que aumente as chances, gastar altas somas com jogadores não é garantia de vitória, como foi demonstrado inúmeras vezes em situações semelhantes com outros clubes, inclusive com o grande rival do Atlético, o Cruzeiro, que hoje amarga a série B do Campeonato Brasileiro após anos de investimentos sem lastro, que renderam dois títulos nacionais, é verdade, mas culminaram no rebaixamento do clube.

O duelo de hoje, nesse sentido, vale mais para mineiros do que para paulistas. Segundo o Itaú BBA, o Palmeiras deu uma demonstração de força em 2020. Num cenário conturbado, o clube cortou as despesas em 30%, manteve um bom mix de receita e estabilizou suas contas. Em campo, a parceria com Leila Pereira já deu resultados. Desde a chegada da patrocinadora, foram conquistados dois brasileiros, duas Copas do Brasil, um Campeonato Paulista e uma Libertadores da América.

“A vantagem de ter um modelo de patrocínio como este é que ele é capaz de seguir suportando as estruturas mesmo em momentos de crise”, diz o Itaú BBA. O palmeirense, até o momento, não pode reclamar de Leila Pereira, a “Tia Leila”, como a mecenas é chamada pelos torcedores. O atleticano também não tem muito a reclamar dos 4Rs, porém, os títulos precisam ser conquistados. No duelo desta noite, a derrota custará mais caro para os mineiros.

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