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Os planos do Masp para 2024: novo edifício e programação dedicada à diversidade LGBTQIA+

Com previsão de entrega para o segundo semestre deste ano, o edifício Pietro terá 14 andares, ampliando em 66% a área expositiva do museu

Masp: novo edifício terá conexão subterrânea (Divulgação/Divulgação)

Masp: novo edifício terá conexão subterrânea (Divulgação/Divulgação)

Júlia Storch
Júlia Storch

Repórter de Casual

Publicado em 22 de janeiro de 2024 às 14h41.

Última atualização em 23 de janeiro de 2024 às 15h20.

Quem passa pela Avenida Paulista pode observar há alguns anos o prédio em obras ao lado do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Previsto para ser inaugurado neste ano, o edifício nomeado como Pietro Maria Bardi, marido de Lina Bo Bardi, aumentará os espaços expositivos e de multiuso do museu, com estrutura apropriada para as mostras, os programas educativos e os serviços de restauro de obras.

“Com esse projeto de expansão, o Masp assume uma estrutura semelhante aos museus internacionais, com a capacidade de receber cerca de 2 milhões de visitantes, alinhado às necessidades de uma grande metrópole global como a cidade de São Paulo. O novo prédio equipara a estrutura física do museu à sua ambição institucional, transformando o museu para acolher as próximas gerações", diz Heitor Martins, diretor-presidente do Masp.

O projeto terá um túnel sob a avenida que interligará o atual edifício Lina Bo Bardi ao novo prédio. A galeria de interligação será a única conexão entre os dois edifícios, criando um conjunto arquitetônico com funções e programação complementares e permitindo tanto o trânsito de visitantes quanto de obras, equipamentos e equipes técnicas.

O projeto do edifício Pietro Maria Bardi está sendo desenvolvido a partir da estrutura do prédio Dumont-Adams, construído nos anos 1950 para uso residencial.

Ademais, a bilheteria, que atualmente ocupa parte do vão livre, será transferida para o novo prédio, devolvendo àquele espaço sua configuração original, como concebido pela arquiteta Lina Bo Bardi, idealizadora da atual sede do Masp.

Masp: expansão tem inauguração prevista para o segundo semestre de 2024. (Divulgação/Divulgação)

Edifício Pietro Maria Bardi

Com previsão de entrega para o segundo semestre deste ano, o edifício Pietro terá 14 andares ocupados por cinco galerias expositivas e duas galerias multiuso, ampliando em 66% a área expositiva do Masp.

O edifício também abrigará restaurante, café, bilheteria, loja, salas de aula e laboratório de restauro. Ao final da obra, a área total do Masp será de 17,68 mil metros quadrados.

O Masp possui mais de 11 mil obras entre pinturas, esculturas, objetos, fotografias, vídeos e vestuário de diversos períodos, que abrangem a produção europeia, africana, asiática e das Américas. Por conta das limitações físicas, pouco mais de 1% do acervo do museu é exposto atualmente. Com a ampliação das áreas expositivas, espera-se ampliar sua visibilidade em até 50%.

“O acervo do Masp vem crescendo. Nosso plano é que o 2º andar e o 2º subsolo do edifício Lina sejam dedicados às exposições de longa-duração, com obras que pertencem à coleção do museu. Já as novas galerias do edifício Pietro, todas com pé-direito alto e equipadas com sistema de climatização e iluminação de última geração, deverão ser ocupadas com exposições temporárias”, conta Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp. “Atualmente, a programação do museu tem um cronograma restrito. Esses novos espaços vão proporcionar um respiro maior no calendário e uma melhor organização da narrativa das exposições, além disso, cresceremos o número de mostras por ano.”

Histórias da diversidade LGBTQIA+

Após dedicar a programação às Histórias Indígenas e às Histórias Brasileiras, para 2024, o museu terá exposições voltadas para a diversidade LGBTQIA+ ao redor do mundo.

Ao longo do ano, será apresentada uma série de atividades dentre exposições, cursos, palestras, oficinas, seminários e publicações, que propõem abordar e debater temas como o ativismo e a representatividade queer e os movimentos sociais LGBTQIA+ em conexão com a cultura visual e as práticas artísticas.

Em 23 de fevereiro serão inauguradas duas mostras. A primeira traz o coletivo Gran Fury pela primeira vez na América Latina, com a mostra Gran Fury: Arte não é o bastante.

Gran Fury produziu campanhas gráficas e intervenções públicas em torno das questões relacionadas à crise da aids, servindo visualmente ao ACT UP (Aids Coalition to Unleash Power) [Coalizão da Aids para Libertar o Poder] em protestos e ações de desobediência civil diante do descaso do governo de Ronald Reagan ao tratamento da epidemia. O coletivo encerrou suas atividades em 1995, e seu arquivo encontra-se na New York Public Library.

Masi Mamaní (Jujuy, Argentina, 1995)
Ramita Seca, La colonialidad permanente, 2019 (frame do vídeo). (Masp/Divulgação)

Já na Sala de vídeo chegam os trabalhos de Masi Mamaní e Bartolina Xixa.

Masi Mamaní (Jujuy, Argentina, 1995) atua como bailarino, performer e artesão, fazendo parte da comunidade LGBTQIA+ na região da Quebrada de Humahuaca, localizada na região noroeste da Argentina, que faz fronteira com Bolívia e Chile. Mamaní trabalha na intersecção entre pesquisa antropológica, experiências pessoais e expressão artística, oferecendo uma reflexão sobre as realidades marginais na Argentina e nos Andes. Sua arte é um manifesto de resistência, denunciando as adversidades enfrentadas por seu povo e reafirmando suas identidades culturais ancestrais.

Desde sua infância, em Salta, Masi demonstrou interesse pelas danças folclóricas andinas, sendo inclusive professor de danças folclóricas. Em 2016, deu vida à personagem Bartolina Xixa, uma "drag diversa", conforme sua própria definição. Sua inspiração veio de Bartolina Sisa Vargas (Corregimiento de La Paz, Bolívia, circa 1750 – La Paz, Bolívia, 1782), uma heroína indígena histórica no contexto de colonização andina, que liderou inúmeras revoltas pela liberdade do seu povo e foi brutalmente assassinada pelos colonizadores espanhóis no século 18.

Bartolina Xixa desafia os estereótipos e padrões convencionais do universo drag ao incorporar elementos tradicionais da cultura indígena andina. Com um forte simbolismo, assume a identidade de "chola", termo de origem quéchua e aymara inicialmente utilizado para designar mulheres mestiças e atualmente associado às mulheres andinas que adotam vestimentas e adereços tradicionais. Ao fazê-lo, reivindica suas raízes ancestrais, ao mesmo tempo em que denuncia a persistência da colonialidade na atualidade, tal como reflete o título de uma de suas obras: Ramita Seca, La colonialidad permanente [Ramo seco, a colonialidade permanente], gravado em 2019 em um lixão de Hornillos.

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