O que as supermodelos dos anos 1990 têm em comum com os Beatles
Naomi, Cindy, Linda e Christy ficaram conhecidas pelo primeiro nome, romperam barreiras e viraram ícones pop
Editor de Casual e Especiais
Publicado em 28 de setembro de 2023 às 06h30.
Em determinado momento do documentário As Supermodelos, que estreou na semana passada na Apple TV +, Linda Evangelista diz, sobre o frisson que ela e suas colegas causavam nos desfiles, nos eventos, nas ruas: “Era insano. Nós não éramos os Beatles.”
É uma comparação difícil mesmo de fazer com os músicos de Liverpool que mudaram o mundo e se tornaram mais famosos que Jesus Cristo, segundo John Lennon. Mas o paralelo tem sua razão de ser, a começar pela formação, um quarteto de modelos que não precisam de sobrenome para serem reconhecidas.
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Naomi, Cindy, Linda e Christy são Naomi Campbell, Cindy Crawford, Linda Evangelista e Christy Turlington. Até o surgimento delas, o mercado era dividido entre modelos de revista e modelos de passarela. Elas romperam essa barreira e muitas outras mais ( leia a crítica da Casual sobre o filme aqui ).
John, Paul, George e Ringo
De origem diversa, as quatro modelos se conheceram nos estúdios de Nova York ainda nos anos 1980 e logo se tornaram amigas. As imagens de época mostram elas rindo, se divertindo, fazendo piada umas com as outras, como os músicos de Liverpool faziam nos programas de Ed Sullivan.
Os temperamentos, gostos e personalidades de cada uma delas podem ser associadas a Paul, John, George ou Ringo. Os talentos individuais se complementam aos das demais e não se anulam no conjunto.
Como Paul, Cindy é quem tinha maior visão comercial. Entre elas, foi quem começou a planejar antes o seu futuro fora das passarelas. “Acho que ser modelo não era um plano de longo prazo para nós, pensávamos que teríamos uma carreira de cinco anos”, diz em uma das cenas de época.
Paul tinha um talento único para saber que músicas virariam hit, de Hey Jude a Yesterday, e foi quem manteve a banca unida pelo tempo que conseguiu. Cindy inventou um branding para si antes do termo se popularizar. Na época do namoro com o ator Richard Gere, inaugurou a era das celebridades no tapete vermelho do Oscar com um vestido Versace. “Meu trabalho é ser Cindy”, costumava dizer.
Cindy lançou um calendário próprio de fotos, rompeu seu contrato com a Revlon no auge da popularidade para lançar uma linha própria de produtos de beleza, criou uma marca de móveis. O ofício das passarelas foi transmitido para seus filhos, Gaia e Presley Gerber.
Entre as drogas e a filantropia
Como John, Naomi era a rebelde do grupo. Ela fala no documentário sobre a adição de drogas, conta seus períodos em clínicas de reabilitação e admite seus registros de brigas e agressão. Os estilistas e amigos Marc Jacobs e John Galliano contam como Naomi também os ajudou a tentar largar o vício.
Naomi credita em parte a raiva que sentia por ser órfã de pai e ter uma mãe ausente. John também vem de um lar desestruturado e foi criado por uma tia. A ausência materna foi cantada na bonita música Mother. Era sempre o mais polêmico nas entrevistas e provocou a opinião pública com o casamento pouco convencional com Yoko Ono.
O beatle de óculos tornou-se ativista pela paz em seus últimos anos. Naomi esteve diversas vezes na África do Sul ainda com Nelson Mandela para participar de projetos de ajuda a crianças sem assistência e participa de diversas ações de apoio à moda em países em desenvolvimento.
Christy é uma modelo de beleza clássica, que por vezes passa despercebida nas celebrações coletivas. É discreta e tem um lado espiritualizado que aflorou principalmente depois da carreira nas passarelas. Ela tem um livro publicado sobre yoga e estampou uma capa da Time sobre o tema.
George foi quem apresentou o Oriente aos Beatles. Esteve na Índia antes de todos eles, aproximou-se de Ravi Shankar, meditou com Maharishi Maheshi Yogi, trouxe a cítara para as composições do grupo na última fase.
Últimos momentos das carreiras
Ringo era o mais ausente da banda. Nas mais de oito horas de gravações do excelente documentário Get Back, também da Apple TV +, aparece entediado com as discussões entre John e Paul e é quem sempre preservou mais sua vida pessoal, por temperamento mesmo.
Linda também esteve fora dos noticiários por anos, mas por outras razões, que ela explica no documentário: uma depressão profunda, causada pelos inchaços em diversas partes no corpo como reação alérgica a um procedimento estético chamado CoolSculpting, além de diversos outros problemas de saúde.
Ainda nos anos 1990, Linda fez trabalhos voluntários de alerta contra o câncer de mama. Por trsiste coincidência, mais de duas décadas depois ela foi diagnosticada com a doença. O tratamento incluiu mastectomia bilateral e sofridas sessões de quimioterapia.
O câncer voltou no ano passado, como Linda revela no filme, em que aparece em algumas cenas durante tratamento no hospital. “Não sei quantas cirurgias já fiz. Considero minhas cicatrizes no copo como troféus", diz.
Em outro momento, Linda afirma saber que um dia “tudo aquilo iria terminar”. “Espero que eu aceite bem”, diz. O final de carreira das supermodelos, como era de se esperar, tem desafios. De que maneira esses ícones de beleza encaram o envelhecimento? Naomi fala no filme sobre os calores da menopausa. E Christy, sempre serena, afirma: “Espero que o que somos vá além da nossa imagem.”