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O homem que fez do futebol um negócio universal e polêmico

Com uma personalidade forte e conhecido como um mestre das relações públicas, Havelange completou um século de vida em 8 de maio


	João Havelange: antes de chegar à Fifa, o currículo de Havelange já estava vinculado ao esporte
 (Nuno Correia/AllsportUK/Allsport/Getty Images)

João Havelange: antes de chegar à Fifa, o currículo de Havelange já estava vinculado ao esporte (Nuno Correia/AllsportUK/Allsport/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2016 às 11h05.

Rio de Janeiro - João Havelange, que morreu nesta terça-feira aos 100 anos, foi responsável direto por transformar o futebol em um espetáculo planetário e também inaugurou a linhagem de diretores corruptos da Fifa que se aproveitaram deste lucrativo negócio.

Com uma personalidade forte e conhecido como um mestre das relações públicas, Havelange completou um século de vida em 8 de maio.

O brasileiro gritava aos ventos que quando assumiu a presidência da Fifa em 1974, havia apenas US$ 20 em caixa, e se vangloriava de ter transformado a entidade em um negócio multinacional com 209 países filiados e um patrimônio financeiro de US$ 4 bilhões quando cedeu seu posto a seu sucessor, Joseph Blatter, em 1998.

Sob seu mandato, a Copa do Mundo, que antes era disputada por 16, passou a contar com 32 seleções, e além disso, Havelange deu um maior protagonismo à América, África e Ásia, estendendo a febre pelo futebol a todos os cantos do planeta.

Além disso, o ex-dirigente introduziu novos torneios como os mundiais Sub-17 e sub-20, o Mundial de Clubes, a Copa das Confederações e a Copa Mundial Feminina, com os quais a Fifa se transformou em uma máquina de fazer dinheiro.

Nos 24 anos que ocupou a presidência da Fifa, Havelange se empenhou para que o futebol se transformasse em um espetáculo que atingisse milhões de pessoas.

Mas de forma paralela, aproveitou os milionários ingressos fornecidos pelas transmissões para encher os bolsos de seus elegantes trajes, inaugurando a infame saga de dirigentes da Fifa cujo nome foi manchado por corrupção.

O escândalo só lhe atingiu em 2012, 14 anos depois de ter cedido o poder a Blatter, quando foi revelado um relatório que mostrou que tanto ele como seu ex-genro, o então presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) Ricardo Teixeira, receberam subornos milionários.

As propinas foram pagas sistematicamente entre 1992 e 2000 pela empresa ISL, dona dos direitos audiovisuais do Mundial até que a companhia quebrou em 2001.

Estas denúncias lhe forçaram a apresentar sua renúncia como membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) para evitar ser punido e também a deixar seu posto de presidente de honra da Fifa, cargos desde os quais continuou gozando de uma grande parcela de influência e de respeito no mundo do esporte.

Essa influência foi usada para persuadir seus companheiros do COI para que designassem sua cidade natal, Rio de Janeiro, como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, na frente de Madri, Chicago e Tóquio.

O grande artífice da designação do Rio de Janeiro como sede olímpica, foi, no entanto, o grande ausente na cerimônia de inauguração realizada em 5 de agosto no estádio Maracanã.

O Rio de Janeiro escondeu seu nome nos Jogos Olímpicos e o retirou do Estádio Olímpico, que foi nomeado "João Havelange" em 2007, quando o dirigente era um dos membros mais respeitados do COI.

Havelange também foi polêmico por seu tratamento próximo com os governos ditadores de vários países sul-americanos durante seus anos na Fifa, especialmente com a Argentina, onde ratificou a realização do Mundial de 1978 dois anos depois do golpe de Estado dos militares.

Em entrevista, Havelange confessou que intercedeu com sucesso perante o ditador argentino Jorge Rafael Videla para que pusesse em liberdade um preso político brasileiro, Paulo Paranaguá.

Além disso, teve boas relações com a ditadura brasileira, que se prolongou até 1985, e com o Chile de Augusto Pinochet, que organizou uma Mundial Sub-20 em 1987.

Antes de chegar à Fifa, o currículo de Havelange já estava vinculado ao esporte, embora nem sempre ao futebol, mas também à piscina.

Nascido em 8 de maio de 1916 no Rio, Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, de ascendência belga, chegou a jogar futebol nas categorias juvenis do Fluminense e depois representou o Brasil como nadador nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936 e na equipe de polo aquático em Helsinque em 1952.

Ao deixar as piscinas, se dedicou à advocacia e tornou-se empresário. Presidiu durante 58 anos a companhia de ônibus Cometa, que se transformou em uma das mais importantes do sudeste do Brasil.

Começou sua carreira de dirigente esportivo em 1958 como presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da CBF, embora tenha delegado as responsabilidades do departamento de futebol a Paulo Machado de Carvalho, quem procedia desse esporte e se envolveu de forma direta em dar apoio à seleção.

No entanto, se beneficiou dos sucessos da seleção Canarinha, que durante sua gestão ganhou três mundiais com Pelé à frente, já que estes triunfos lhe abriram as portas da Fifa em 1974.

Desde então, graças a seu trabalho, colheu incontáveis homenagens e reconhecimentos em seu país e no exterior, mas nos últimos anos se afastou dos focos por causa da constatação de seu envolvimento em casos de corrupção. EFE

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